A tendência petista Articulação de Esquerda do Rio de Janeiro, reunida no dia 3 de dezembro de 2022, debateu e aprovou a seguinte nota sobre a presumível entrada do PT no Governo Eduardo Paes na Cidade do Rio de Janeiro.
Na eleição de 2022 conquistamos uma vitória histórica contra a extrema-direita e o neofascismo que utilizou o Estado, as fake news e todas as formas espúrias para tentar emplacar mais uma vez o seu projeto de destruição do Estado brasileiro, de extermínio da população mais vulnerável e corrosão da democracia. A eleição de Lula e a derrota eleitoral de Bolsonaro, é fruto, sobretudo, da militância que se manteve nas ruas, da classe trabalhadora e da população pobre, preta, periférica, mais atacada e invisibilizada por este Governo que, com atraso chega ao fim.
No Rio de Janeiro, a disputa ideológica para derrubada deste projeto, capilarizado na máquina do governo estadual, foi intensa. Por isso, não menosprezamos a importância do apoio eleitoral de aliados circunstanciais que integraram a frente ampla eleitoral e que, em grande medida, contribuíram para a derrota de um Governo de extrema-direita, neofacista, misógino, racista, e fundamentalista e a retomada da democracia no país.
Este reconhecimento inclui a participação do Prefeito Eduardo Paes na campanha eleitoral de Lula e das condições criadas por ele para que o nosso projeto ganhasse mais visibilidade e fôlego na cidade do Rio de Janeiro.
Entendemos, contudo, que esta aliança estabelecida em torno da eleição de Lula, a partir de interesses comuns, não é passaporte para a participação do Partido dos Trabalhadores no Governo Eduardo Paes, como vem anunciando a imprensa e as mídias nas últimas semanas, com definição de nomes de figuras destacadas da direção do Partido no Rio de Janeiro para ocupação de cargos na administração municipal.
Não há qualquer motivo que possa justificar a entrada do PT no Governo Eduardo Paes, que vem apresentando desempenho econômico e social medíocres, com baixo diálogo com os movimentos sociais e sem resposta razoável às expressões das desigualdades sociais, manifestadas todos os dias nas ruas da cidade.
O pretenso gesto de convidar o PT para ingressar no seu Governo é anúncio do jogo do ganha-perde. E, obviamente, quem perde é o PT, que em suas bases é visceral adversário do receituário neoliberal aplicado pelo Prefeito Eduardo Paes, de arrocho salarial intenso ao funcionalismo e portas abertas para entrega da esfera pública à privatização com diminuição do papel do Estado.
É preciso destacar que o PT vem recuperando o espaço perdido no campo da esquerda do Rio de Janeiro. E o seu reposicionamento, como protagonista altivo da disputa ideológica, reconstrói laços de confiança com a militância petista, que espera que o Partido dos Trabalhadores seja porta voz das lutas sociais, desencadeando projetos e ações que derrubem todas as formas de opressão e desigualdades. E o PT não pode retroceder nesta caminhada cometendo os mesmos erros do passado.
E por fim, lembrando do passado, foi no mandato anterior do Governo Eduardo Paes, em 2013, que a cidade do Rio de Janeiro viveu a mais longa greve da educação e o ataque mais violento e repressivo da polícia contra os profissionais da educação. Este cenário do passado, reafirma o caráter deste Governo, de alinhamento com o neoliberalismo e setores que possuem interesses que se confrontam com a nossa política. Foi também em seu governo que a gestão privatista via organizações sociais (OS) dos serviços de saúde se tornou hegemônica no município. Tal modelo revelou-se ineficaz e vulnerável à corrupção, implodindo o setor saúde no governo posterior. Por isso, qualquer gesto de entrada no Governo Eduardo Paes é um obstáculo para a construção do nosso Partido no campo da esquerda e para as futuras disputas eleitorais do PT no Rio.