Por Douglas Martins (*)
A separação entre o mundo institucional e o mundo real é uma das ficções mais letais para a classe trabalhadora e subalternizados em geral. Ela é responsável pela indiferença dos tribunais, parlamentos e governos diante das tragédias sociais.
Não faria sentido um parlamentar, dirigente ou mesmo militante do PT sair por aí abraçando e posando com policiais racistas defensores do sistema que sustenta o genocídio dos pobres, pretos periféricos, naturalizando a necrose.
Ir para essas instituições defender os interesses da classe trabalhadora e reafirmar a todo momento isso em atos e atitudes, não é purismo. É coerência. É um afeto fundamental. Lula é Lula porque, tendo sido eleito por três vezes para a presidência, não consegue conter as lágrimas quando fala do povo que o colocou lá e, em especial, do sofrimento que essas instituições impõem a nós todos. Fez alianças para ganhar eleições com o mérito extraordinário de trazer liberais para a pauta de um governo que quer e vai enfrentá-los. Com eles no palanque falou e continua falando sobre a necessidade de enfrentar os fascistas.
No “Resgate do Soldado Ryan” tem uma sequência em que soldados resolvem liberar um nazista sobrevivente de uma batalha porque, afinal, ele era “apenas um soldado” como todos os outros que cumpria seu papel. Na batalha seguinte ele volta e mata a maior parte dos que o libertou. Fez isso porque era soldado sim, soldado nazista. Pazuello é parlamentar. Parlamentar fascista. Purismo é achar que na batalha seguinte ele virá sem baioneta. A expressão “cretinismo parlamentar” foi criada no passado para advertir a todos nós sobre a natureza dessas instituições. Sem ilusões e sem anistia.
(*) Douglas Martins é advogado, jornalista e militante do PT