DataFolha: de surpreendente, só a quantidade de surpresos

Por Valter Pomar (*)

A pesquisa do DataFolha, divulgada neste 14 de agosto de 2020, confirma o que vários setores do PT vem alertando, há tempos:

1/estamos em uma maratona com obstáculos, não em uma corrida de 100 metros;

2/o lado de lá tem muitas fortalezas, algumas bem armadas, e importante base popular;

3/”a vida”, “a saúde”, “o genocídio”, “a ajuda emergencial”, “as instituições democráticas” etc., não são palavras mágicas que, uma vez ditas, conseguem desmaterializar o cavernícola;

4/não basta fazer oposição parlamentar e nas redes, é imprescindível fazer mobilização mais ampla e junto aos setores populares, reocupando amplo território perdido;

5/a tal frente ampla ia dar WO, como deu;

6/Bolsonaro pode parecer, mas não é tonto: esticou muito a corda, mas soube recuar depois da prisão de Queiroz, assim como tentará voltar a avançar, assim que for possível;

7/certo dirigente nacional, de um certo partido de esquerda, que numa certa reunião sugeriu que, se Bolsonaro não caísse agora, melhor para nós, pois ele estaria ainda mais fraco em 2022, precisa rever seus conceitos urgentemente (esses conceitos e outros conceitos também);

9/também precisa rever seus conceitos, quem só faz cálculos excessivamente otimistas sobre o resultado das eleições de 2020;

10/precisa “por a mão na consciência” quem nos fez perder a hora certa de ir com tudo para cima do cavernícola. A demora em defender o Fora Bolsonaro contribuiu para que o lado de lá construísse um “acordo por cima”;

11/não há mal que dure para sempre: Bolsonaro pode ser derrotado, antes, durante, depois das eleições de 2020 ou a qualquer momento, até porque as “condições objetivas” conspiram contra ele, não a seu favor;

12/mas a derrota de Bolsonaro só significará uma vitória da esquerda, se fizermos política, no sentido amplo da palavra, compreendendo que está em curso uma disputa de projetos de longa duração;

13/e em disputas de longa duração, é fundamental ter programa, estratégia, tática e organização. E muita coerência. Pois sem coerência, poucos se disporão aos sacrifícios necessários para vencer o neofacismo e o ultraliberalismo.

(*) Valter Pomar é professor da UFABC  e membro do Diretório Nacional do PT

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