No Sul do Rio Grande Sul, quase no Uruguai, nós derrotamos o neoliberalismo do PSDB no primeiro turno e derrotamos a extrema-direita do PL no segundo turno. No primeiro turno, fizemos o dobro dos votos do candidato do governador Eduardo Leite e interrompemos o ciclo de 20 anos da articulação PP, PSDB e demais siglas de centro-direita. Já no segundo turno, vencemos por uma diferença de 1.263 votos o candidato do PL, que chegou há pouco no município, mas que contava com a base bolsonarista, que cresce vultosamente em todos os cantos do país.
Desde o final do PED, no ano passado, a direção do PT Pelotas, liderada pela presidenta Ângela Vitória, militante histórica da AE, foi alertando a militância do PT Pelotas que só nós poderíamos derrotar o Eduardo Leite na sua própria terra. Para isso, deveríamos organizar o PT, retomar o funcionamento ordinário do Diretório e Executiva, alugar uma sede para o Partido, voltar a mobilizar nossos filiados como ferramenta importante para o próximo período, construir uma política de finanças, montar uma nova estratégia de comunicação fortalecendo as redes sociais do PT Pelotas e retomando o jornal ALERTA, aproximar o trabalho da bancada das duas vereadoras com o debate do Diretório, definir sem demoras a candidatura a prefeito, abrir o diálogo com os partidos da nossa federação e com o PSOL, PDT e PSB para construir uma frente de esquerda capaz de enfrentar as eleições em Pelotas e conquistar vitórias política e eleitoral para os setores populares. E foi o que fizemos.
Durante este processo de diálogo pela composição da frente de esquerda, definimos iniciar a discussão e elaboração do Programa de Governo juntamente com a base do Partido, chamando os filiados para fazerem parte dessa construção. Assim, organizamos 14 Grupos de Trabalho, contemplando as mais diversas áreas e setores da sociedade.
A partir da coletividade da base petista que se dispôs à tarefa, fizemos um intenso debate acerca das carências e das necessidades de nossa cidade durante o mês de abril do corrente ano. Processo este que concluímos no mês de agosto (após uma pausa necessária para ajudarmos as vítimas das enchentes que ocorreram no mês de maio), com um acúmulo sobre os temas discutidos que nos levaram a construir um Programa de Governo forte, objetivo e direcionado para as reais ânsias de um povo sufocado por sucessivas gestões que optaram pelo descaso com a população.
Cabe salientar aqui que, no decorrer deste período (como foi citado no parágrafo anterior), fomos surpreendidos pela maior crise climática que já ocorreu no município de Pelotas, as enchentes de maio que aconteceram em diversas regiões Estado e da nossa cidade foram avassaladoras, trouxeram a destruição de lares, a tristeza dos sonhos interrompidos e a certeza de que a cidade não está preparada para cuidar do seu povo com segurança. Parte de nossa base militante imediatamente se voluntariou para ajudar aos desabrigados em várias frentes, muitas famílias precisaram ficar em abrigos e serem acolhidas nas suas mais diversas necessidades. Esse momento também contribuiu para fortalecer nossa frente de esquerda perante o caos que Pelotas vivenciou. A incompetência da gestão tucana foi escancarada e a população, ainda hoje, não se recuperou dessa tragédia. E as urnas já deixaram seu recado, querem mudanças nos rumos da cidade e, assim, o PT voltará a governar Pelotas.
A vitória eleitoral do primeiro turno, com 39,6% dos votos para Fernando Marroni/PT, seguida de Perondi/PL, com 31,6%, e Estima/PSDB, com 20,9%, pode ser atribuída a vários fatores: o acerto na escolha do candidato, já bastante conhecido por ter sido prefeito, deputado estadual, deputado federal; a boa memória do governo democrático e popular de 2001 a 2004; o momento de final de ciclo do PSDB com uma péssima gestão da cidade, que fechou o ano de 2023 devendo 280 milhões e aumentando taxas, problemas se acumulando sem solução em todas as áreas, filas na saúde, falta de escolas, esgoto a céu aberto, tarifa de ônibus caríssima (6 reais) para uma população de 340 mil habitantes, da qual 30% tem renda compatível para ser contemplada com o Bolsa Família mas, até muito pouco tempo, apenas 12% estava recebendo o benefício; a recusa na adesão às políticas sociais do governo federal, como o Minha Casa, Minha Vida Fase 1; o desvio de verbas do Pronto-Socorro Municipal, com o envolvimento de dirigentes do PSDB no escândalo, somavam-se ao fato de que já não haviam mais recursos para atender as chantagens da base que ia desagregando dia a dia o bloco liderado pelo PSDB. A capacidade de articulação da oposição com os vereadores do PSOL, PDT e parte do PSB também ajudou a criar as condições para a vitória.
A extrema-direita, representada pelo candidato Marciano Perondi (PL) fez 31,6% dos votos, deixando a nossa militância preocupada. Marciano é um catarinense que se apresenta como menino que nasceu pobre, cresceu trabalhando, virou empresário e agora veio de Caxias, cidade muita mais rica do que Pelotas, com a pretensão de ensinar como se faz para ter empresas, gerar emprego e sair da estagnação econômica. Apesar de todo o apoio político e material da extrema-direita, inclusive trazendo o próprio cavernícola a Pelotas, Marciano fugiu, pelo menos na TV, da identificação com o Bolsonaro e das pautas dos costumes para se concentrar na pauta econômica, como se fosse Partido Novo e não PL. A preocupação ao abrir as urnas do primeiro turno foi grande. Até então, não havia um nome forte da extrema-direita em Pelotas. Evidentemente, também tivemos acampamento na frente do quartel ao final do segundo turno de 2022, com presença do ex-prefeito Fetter Junior (PP), filho e neto de ex-prefeitos, mas era ainda de um bolsonarismo tímido e pouco influente nas urnas. Vale lembrar que aqui, no Sul do RS, ganhamos com Lula em 2022.
A votação na legenda aumentou de 10 mil votos em 2020 para 17 mil votos em 2024, gerando ampliação de duas para três cadeiras de vereadores para a Federação na Câmara Municipal. O candidato a prefeito fez 68 mil votos, portanto, este voto da proporcional, tão descolado da majoritária, deve nos preocupar e nos colocar a refletir sobre como ampliar nossa representação no parlamento.
Na primeira semana do segundo turno, construímos articulações para ampliar a nossa frente com o PSB, que tinha apoiado o candidato a prefeito do PSDB; com o PDT e o MDB, que tiveram candidaturas próprias, e tivemos sucesso. Trouxemos os candidatos a prefeito para além das redes sociais e das manifestações públicas para também estar presentes nas nossas atividades de rua e mobilizar sua base para eleger Marroni e Dani. A atual prefeita do PSDB e o governador Eduardo Leite manifestaram voto no 13, apesar da decisão do PSDB de ficar neutro e do deputado federal Daniel da TV (PSDB) declarar voto no PL. Nossa tarefa foi continuar nas ruas e nas redes e trabalhar incansavelmente pela vitória do PT nas 13 cidades do país em que o PT foi para o segundo turno no Brasil, sendo três das quais no RS.
Como consequência de nosso trabalho, vencemos no segundo turno, derrotamos o extremismo de uma política de ódio que seria a ruína de Pelotas e que deixaria o caos tomar conta da cidade. Fomos vitoriosos e o PT tem muito para comemorar, as articulações estabelecidas foram fundamentais, a dedicação da direção do PT para que nossa campanha desse certo deu o ritmo da campanha, a militância engajada nas ruas e nas redes e o compromisso de todos para que Marroni voltasse a governar Pelotas, depois de 20 anos, foi decisivo.
Tivemos uma vitória eleitoral extremamente importante e necessária diante deste cenário que se desenhou e precisamos olhar para os números finais das urnas no segundo turno. Foi uma diferença de 1.263 votos, pois Marroni teve 50,36% (87.737 votos), enquanto Perondi teve 49,64% (86.474 votos). Isso, mais uma vez, é um alerta, é um recado da população ao qual devemos estar atentos, votar na extrema-direita tem se tornado uma alternativa e compreender isso é uma tarefa nossa, buscando caminhos para chegar nessa parcela da população, entender suas necessidades e disputar esse eleitorado com solidez.
Não podemos deixar de olhar para o altíssimo número de abstenções nessas eleições, no primeiro turno, a ausência foi de 24,33%, o que corresponde a 60.500 pessoas que não foram às urnas, já no segundo turno, esse número foi de 25,71%, ou seja, 63.931 eleitores que não optaram por nenhum dos candidatos e se ausentaram da escolha. Pensar sobre qual o motivo dessa ausência de identificação, o porquê de deixarem de exercer o direito ao voto e como isso influencia negativamente o processo eleitoral precisa estar nas nossas atribuições para o próximo período.
Esta mudança de cenário precisa ser entendida pela militância do PT e da AE, assim como pelos Partidos da frente de esquerda. O crescimento da extrema-direita precisa ser enfrentado apontando para a população que temos projetos antagônicos em disputa e que todas as políticas para melhoria da qualidade da vida da população só podem vir de um governo democrático e popular. Assim, incorporamos o jingle “Pelotas merece, merece bem mais”, “é a Reconstrução com o povo”, vencemos a extrema-direita e vamos construir um governo que vai dialogar com toda a população.
Uma das motivações da Articulação de Esquerda Pelotas para aceitar o desafio de dirigir o PT mesmo sem maioria na executiva e diretório era a possibilidade de contribuir com as articulações necessárias para conquistar a Prefeitura de Pelotas e, assim, avançar um ponto na guerra de posição e elevar o patamar da disputa das forças populares. Entendermos a importância desse momento se faz extremamente necessário: a AE está na presidência do PT Pelotas, o PT Pelotas se reergueu depois de período de apatia, construímos a frente de esquerda com muita discussão política, retomamos a condução da Prefeitura em nosso município e a política partidária está sendo discutida com seriedade.
Por isso, nossa tarefa, após vencer o segundo turno, é não nos afastarmos da classe trabalhadora e da luta de classes, ampliarmos o debate na política e aproveitarmos o acúmulo deste período para fortalecer a Articulação de Esquerda e o PT, de acordo com nossas concepções ideológicas e na busca estratégica da construção do socialismo.
Direção Municipal da AE Pelotas.