“Os companheiros que agem assim esqueceram que ser governo não é ser poder. Esqueceram também que nossa força maior, para além das urnas, está no povo organizado. Esqueceram que as grandes transformações não se dão apenas conquistando espaços institucionais. Esqueceram que lutamos por outra sociedade, o que está acima das carreiras pessoais”.
(Introdução do livro “Socialismo ou Barbárie”)
Por Rodrigo Pereira (*)
Nos últimos tempos, a extrema-direita tem tido avanços políticos e organizativos significativos junto ao cenário político nacional e internacional, mostrando capacidade de dialogar com diversos setores da classe trabalhadora. Os ataques à autodeterminação dos povos, as guerras e as questões climáticas cada dia atingem a todos, independente de onde estejam, diversas formas de repressão contra o povo se apresentam e, por isso, não podemos vacilar em não apontar os setores responsáveis pela barbárie do mundo. O mercado financeiro sempre aliou os seus interesses econômicos ao campo da direita e, ultimamente, até à extrema-direita, para hegemonizar os governos nacionais, nesse sentido, é preciso ter muita organização da classe trabalhadora, pois não podemos abrir mão da luta em defesa dos povos oprimidos pelo imperialismo.
Aqui, no Brasil, a extrema-direita mantém a sua base animada e com disposição de tomar às ruas. A luta contra o fascismo, contra a extrema-direita não chegou ao fim com a eleição de Lula, em 31 de outubro de 2022. A prova disso são todos os ataques orquestrados que esse setor executou em espaços públicos e virtuais, ou mesmo dentro das instituições públicas como a Câmara Federal, a qual continua a ser a trincheira de luta cotidiana da extrema-direita.
A chantagem do centrão comandada por Arthur Lira (PP/AL), presidente da Câmara dos Deputados, e de Rodrigo Pacheco (PSD/MG), presidente do Senado, se mantém com toda força contra nosso Governo, impedindo que Lula coloque em prática o programa vencedor das eleições de 2022.
Não podemos vacilar na relação com os neo aliados, os atuais partidos políticos, deputados e senadores da base do Governo Lula são os mesmos que apoiaram o governo genocida, no passado recente. Não podemos continuar pactuando com essa frente ampla, composta de reacionários e conservadores, que pressionou e pressiona o Governo a não pôr em prática o programa vencedor das eleições de 2022. A continuidade desse pacto, a partir do rebaixamento do programa, é nefasto para a classe trabalhadora e lutar contra os que defendem o estado mínimo, as privatizações das empresas estatais e a retirada de direitos sociais é dever de toda a classe trabalhadora.
As eleições são o momento que temos para dialogar e apresentar para o conjunto da população os projetos, as ideias e os programas políticos, indicando os rumos e futuro das cidades, dos estados e do país que queremos. Ela não é o fim em si mesmo, mas acreditamos que eleição, para além da disputa geral, é também um momento de organizar o Partido, abrir mão da disputa ideológica e das pautas centrais do PT e da esquerda é entrar em uma vala comum ou na geleia do processo eleitoral é um grande erro. Enquanto a extrema-direita tem feito de forma bastante organizada, impondo sua pauta moralista e reacionária a todo custo e ganhando parte da classe trabalhadora.
Fica nítido que um setor do Partido dos Trabalhadores prefere desmontar, desorganizar e fragilizar o Partido em prol de satisfazer a “base aliada” para manter uma frágil governabilidade, isso em nível estadual, a exemplo da Bahia, e nacional também se caracteriza. Com isso, a construção do Partido fica em qualquer outro plano, menos em primeiro, aposta-se na tese de que governar é preciso, organizar o Partido para a luta política, não. Vale a pena desmontar o PT ou forçar a saída de militantes históricos do Partido pelo apoio aos aliados de momento? Essa política de agrado aos “aliados” tem levado o PT para um caminho contraditório em relação à sua história política.
O resultado final das eleições de 2022 mostrou que a tática da política de frente amplíssima e a construção de uma federação com partido de direita (PV), não ajudou o PT. A tática eleitoral apresentada para as eleições 2024 até o momento tem se mostrado que seguirá nos mesmos erros. Em se tratando da Bahia, o que se vê é o PT nas beiradas da política baiana, enquanto os “aliados” estão no centro da disputa em grande parte do estado.
O atropelamento da militância e das instâncias não foram isolados, há casos em diversos cantos do Brasil e, na Bahia, “tem precedente”. Não podemos naturalizar práticas autoritárias, antidemocráticas e contra o estatuto do Partido, as regras não podem ser ajustadas ao seu bel prazer do líder do momento. A defesa do PT, das instâncias e dos espaços de decisão coletiva é central para manter vivo o Partido dos Trabalhadores.
Com isso, reafirmamos que todo o processo conduzido pelo campo majoritário do PT de Salvador, cometeu todas as irregularidades no processo de definição da tática eleitoral e de apoio a pré-candidatura a prefeito de Geraldo Júnior (MDB):
I) Criou-se a farsa da indicação pelo Diretório Municipal da pré-candidatura de Robinson Almeida, deputado estadual, que ficou sendo fermentada por 4 meses, quando no final 2023, em confraternização com governador, no Palácio de Ondina, anunciou a pré-candidatura de Geraldo Júnior (MDB) e no outro dia, sem pestanejar, Robinson retirou a sua indicação;
II) O conselho político do “governador/governo” não é instância do Partido dos Trabalhadores, o que evidencia o atropelamento da democracia partidária;
III) Após 30 dias da indicação do conselho do governador, a Direção Municipal do PT fez mais uma manobra chamando reunião do Diretório Municipal para aprovar na “modalidade de ⅔” (30 membros do diretório) para apoiar a Geraldo Júnior, sendo que nem este quórum mínimo, as tendências que apoiam essa “tática eleitoral” não tiveram capacidade de garantir, tendo apenas o apoio de 27 membros do Diretório Municipal; o tragicômico é que nacionalmente algumas tendências discordam do método de aprovação de apoio à pré-candidaturas por ⅔ do Diretório, mas aqui, mais uma vez, há “precedente”, houve tendências que abriram mão da defesa do Estatuto do PT, infringindo suas regras;
IV) Não houve análise nem julgamento do recurso apresentado por militantes do partido contra esse método de definição de pré-candidatura;
V) Não houve o Encontro Municipal para debater e aprovar a Tática Eleitoral do Partido em Salvador;
VI) Seguindo a lógica do desrespeito às instâncias, foi escolhida pelo “conselho político” a companheira Fabya Reis, ex-secretária da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, para ser “a camisa de esquerda” – termo dito em uma reunião do Diretório Municipal – na chapa com Geraldo Júnior.
Mesmo com todo cenário colocando, além das chantagens dos cargos públicos contra aqueles que se contrapõe à política do “sim, senhor, amém”, não abandonaremos o PT. O processo eleitoral será, para nós, mais uma tarefa para aqueles (as) que não abriram mão da luta de classes e da organização da classe trabalhadora, junto ao combate à lógica do Partido mínimo e sem debate, o qual tem tentado se naturalizar na Bahia.
Um chamado à luta, por uma rebelião militante é necessário. Eleição é a oportunidade de organizar a militância petista para a luta e, por isso, precisamos de um Partido e de uma direção que esteja em sintonia com o cotidiano e com a realidade da classe trabalhadora.
Desejamos boa sorte e vitórias para as companheiras e os companheiros que estão disponibilizando seus nomes para vereadoras e vereadores da capital baiana!
(*) Rodrigo Pereira é militante do PT e da Articulação de Esquerda