Europa e a desagregação do sistema capitalista IX

Por Gabriel Araújo (*)

Reagrupamento Nacional (RN), o partido de extrema-direita de Marine Le Pen 

Os recentes acontecimentos no continente europeu nos dão demonstrações políticas, econômicas, militares e diplomáticas muito além da mera situação regional, elas são o espelho de um conjunto de relações sociais em processo de desagregação e esse é o cerne da nossa série de artigos a respeito do contexto dinâmico das relações humanas naquela região.

O que me traz a escrever este nono artigo da série são alguns fatos políticos que precisam ficar registrados na avaliação do processo histórico recente, são os principais: as eleições para o parlamento europeu e as eleições na França e na Inglaterra.

A situação e a estabilidade para os donos do regime político do conjunto do continente europeu, os chamados “democratas”, torna-se dia após dia algo insustentável.

A população europeia tem rejeitado sistematicamente no período recente o regime político estabelecido desde o final da II Guerra Mundial. A expressão dessa tendência política vem ficando evidente nas mudanças no comando dos governos de diversos países, onde os governos liberais e socialdemocratas têm sido substituídos por governos de extrema-direita.

A eleição para o parlamento europeu comprovou mais uma vez essa tendência, com a extrema-direita conseguindo avançar significativamente na maioria dos países do bloco e concomitantemente nos seus números de cadeiras na instituição regional.

Os resultados aprofundaram as crises internas de países como Alemanha e França, principalmente no segundo, que através de seu presidente Emmanuel Macron (Renascimento) destituiu o parlamento e convocou eleições, para, em uma medida desesperada, tentar amenizar os estragos.

A manobra de Macron na França já demonstra uma rendição, pois o avanço da extrema-direita no parlamento francês é quase que fato consumado, restando apenas saber se terão maioria simples ou absoluta no parlamento francês.

Na Inglaterra, que não faz mais parte do Bloco da União Europeia, mas faz parte do continente e do conjunto dos países imperialistas (e, por conseguinte, subscreve a esmagadora maioria da política do imperialismo chamado ocidental e arca com os efeitos dessa política), o primeiro ministro Rishi Sunak do Partido Conservador convocou eleições gerais.

Apesar da evidente vitória do Partido Trabalhista, a tendência é que a extrema-direita obtenha avanços, pois cada vez mais o poder de canalizar o descontentamento da população por parte dos trabalhistas e do conjunto da esquerda tem se desagregado e deslocado para a extrema-direita.

A extrema-direita, apesar de sua demagogia, mentiras e ideologia de baixa consistência, apresenta-se para a população de maneira contundente enquanto possível solucionadora dos problemas mais latentes que surgem em decorrência da política neoliberal implementada pelos chamados “democratas” e “liberais”, que hegemonizam o poder político europeu desde o final da II Guerra Mundial.

Dessa forma, o conjunto da burguesia se desloca do “centro” político dos “democratas” e “liberais” para a extrema-direita, para manobrar na situação e manter sua hegemonia política, por meio de uma política abertamente de força e repressão, pois há um enorme e quase irreversível desgaste daqueles que hegemonizaram durante décadas a política europeia, e, por conseguinte, a população não tem confiança política nos mesmos para atender suas reivindicações.

A adesão do conjunto da burguesia à uma política de extrema-direita, uma política de forças e repressão, mostra claramente que há um processo de desagregação do sistema produtivo e reprodutivo da vida social tal qual vimos até agora. É preciso continuar acompanhando esse fenômeno para orientar as organizações populares e a classe trabalhadora, para esclarece-las sobre a situação e as manobras políticas que a burguesia faz para se perpetuar na hegemonia da sociedade.

(*) Gabriel Araújo é dirigente do MNLM e militante petista

 

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