Por Pedro Pomar (*)
Eduardo Pazuello
A decisão do Exército de “livrar a cara” do general Eduardo Pazuello, comunicada por nota do Centro de Comunicação Social do Exército, é a prova cabal de que o Alto Comando não tomará qualquer medida, ainda que dentro de suas atribuições e competências legais, capaz de ferir os interesses de Jair Bolsonaro enquanto ele estiver na Presidência da República.
“Acerca da participação do General de Divisão Eduardo Pazuello em evento realizado na Cidade do Rio de Janeiro, no dia 23 de maio de 2021, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que o Comandante do Exército analisou e acolheu os argumentos apresentados por escrito e sustentados oralmente pelo referido oficial-general”, diz a nota publicada em 3/6. “Desta forma, não restou caracterizada a prática de transgressão disciplinar por parte do General Pazuello. Em consequência, arquivou-se o procedimento administrativo que havia sido instaurado”.
A nota deixa de informar qual era a acusação a Pazuello: participação em evento de natureza política, vedada a oficiais da ativa. E deixa de explicitar o teor dos argumentos apresentados pelo general ex-ministro da Saúde e por que motivo o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, os “acolheu”. Essas omissões são propositais e refletem a impossibilidade de defender o indefensável. Trata-se de uma nota política que transmite uma deliberação política.
Pazuello, o suposto mago da logística que cometeu crimes de responsabilidade em série à frente do Ministério da Saúde no anticombate à pandemia e portanto é coautor do genocídio perpetrado por Bolsonaro, discursou em comício político do seu chefe (“um manda, outro obedece”) e portanto no mínimo precisaria ser advertido por este fato.
O arquivamento do tal “procedimento administrativo” presta-se não apenas a deixar de punir o general pela infração praticada, mas sobretudo a permitir que ele continue na ativa como deseja. Este, salvo engano, é o maior prejuízo decorrente da atitude vergonhosa do comandante do Exército. Fica superada, assim, a decisão que aparentemente o Alto Comando tomara no final de maio, de transferir compulsoriamente Pazuello para a reserva.
Como alguém já observou com sarcasmo, “as instituições funcionam normalmente”. É isso mesmo: o próprio Exército sempre funcionou assim. Quando capitão, Bolsonaro planejou explodir uma bomba num quartel. Julgado pelo Superior Tribunal Militar (STM), acabou absolvido e premiado com uma aposentadoria precoce (1988).
Antes dele, os oficiais terroristas implicados no monstruoso atentado ao Riocentro (1981), lotados no DOI-CODI do então I Exército (Rio de Janeiro), sequer foram a julgamento. O capitão Wilson Machado sobreviveu à explosão da bomba que carregava em um Puma com o sargento Guilherme do Rosário (morto no “acidente de trabalho”), prosseguiu na carreira normalmente e chegou a coronel, hoje na reserva.
O Exército prossegue, assim, como cúmplice do governo Bolsonaro em sua vasta e implacável obra de destruição do Brasil.
(*) Pedro Pomar é jornalista