Por Luis Sérgio Canário (*)
Para essa fala de Lula hoje, 10/03/2021, análises políticas não são o bastante. No Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo Lula transcendeu até a si mesmo. Falou com alma para a alma do povo. As análises políticas de cada trecho do discurso ficam suspensas até que o sentido geral do que aconteceu hoje seja percebido. Poderia conter mais disso ou menos daquilo. Poderia ter batido mais duro aqui e ali. Poderia… Ouvimos a fala de um homem sereno com seu passado, que lutou de pé contra o sistema judiciário pilotado por nossa classe dominante, e que olha para o futuro, mas com uma enorme preocupação com o presente. A construção de um futuro melhor para nosso povo passa necessariamente por enfrentar o duro presente que vivemos. Vimos hoje um homem que como poucos consegue capturar e expressar em palavras o sentimento de um povo e apontar algum caminho em um tempo de trevas cerradas.
Luiz Inácio falou e paramos para ouvir. Nós petistas com o orgulho imenso de termos convivido com ele todos esses anos. Dele ser um de nós. De termos visto ele falar nas mais variadas situações. Algumas vezes concordando e estando do seu lado. Outras discordando radicalmente e estando do lado oposto, batendo sem dó. Milhares de nós temos ao menos uma foto com ele. E quem não tem e quiser ter sabe que ele sempre estará disposto a uma self! O Brasil, e muita gente ao redor do mundo, parou para ouvir Luiz Inácio. Mas nós, petistas, paramos para ouvir o companheiro Lula. E termos um enorme orgulho de nosso partido!
Não, Lula não é o Messias Salvador que veio redimir nossos pecados. Ele sozinho não fará nada. A simples presença dele na disputa política não muda nossa realidade. Bolsonaro não vai renunciar, nem Paulo Guedes vai deixar de ser neoliberal. As tentativas de venda do patrimônio do povo brasileiro não vão parar. Nem ele vai multiplicar o pão e salvar o povo da fome. Lula é um homem como nós. Erra e defende posições políticas e estratégicas nem sempre corretas. Mas o governo dele e o de Dilma deixaram um enorme legado que vem sendo destruído desde o golpe de 2016. E é esse legado que dá condições a ele de dizer ser possível fazer porque nós, o PT, já fizemos. Não que haja respostas já prontas, mas que temos a capacidade de buscá-las, priorizando as necessidades do povo e da classe trabalhadora.
A fala de Lula sacudiu tudo. Chegou a ser um terremoto em alguns lugares. Ele falou não como uma pessoa que havia acabado de vencer uma querela na justiça e se via livre de um peso. Falou como um estadista como não há nenhum nesse país. Até nos agradecimentos. Não falou para nada nem ninguém em especial. Não falou para o PT nem fez um discurso de candidato. Fez uma fala que deu um enorme ânimo e ainda mais coragem para os petistas. Falou para os trabalhadores e sindicalistas. Para os religiosos. Enfim, falou para um povo que precisava ouvir uma voz com uma mensagem voltada para as suas questões mais prementes. Falou como um estadista preocupado com seu país e seu povo. E soube como ninguém fazer isso.
Lula e São Bernardo têm uma conexão muito forte. E é sempre de um simbolismo imenso. Um pernambucano que tem entranhado em sua alma a graxa e o aço das fábricas que já ocuparam boa parte da cidade. Das portas das fábricas, às assembleias na Vila Euclides, até sua prisão, chegando à fala de hoje. São Bernardo parece carregar as energias de um homem que parece ter uma energia sem fim. Sua última grande aparição pública antes de hoje foi no dia da sua prisão. Foi de um carro de som parado em frente ao sindicato que Lula fez uma fala emocionada e emocionante. Muitos choravam. Muitos queriam resistir. Ali os poderosos pensaram que estavam enterrando um líder. Um líder que desceu do carro de som e entrou no sindicato carregado pelos militantes. Um homem que passaria os próximos 580 dias preso. Esse mesmo homem, meses depois de sair da prisão, no mesmo sindicato, cresce a uma estatura que poucos chegaram. Na geração dele, nenhum. O preso que as polícias federal e militar montaram um aparato de guerra para levar preso do sindicato, voltou ao mesmo local como um homem livre para mudar os rumos políticos do país.
Vamos festejar e sentir a felicidade por alguns momentos. Luiz Inácio falou mais uma vez. Mas no momento seguinte precisamos voltar para a nossa dura realidade de termos quase 2.000 mortes diárias, caminhando rapidamente para 3.000, causadas diretamente pelo vírus, mas com a ajuda inestimável de Bolsonaro. Esse é o vírus, que destruído, retira o maior empecilho para nos livrarmos do outro.
Ouvir Lula falar hoje não muda a realidade. Mas soa como música nos ouvidos daqueles que têm compromisso com a transformação dessa sociedade em uma outra, que seja justa e tenha a classe trabalhadora e o povo como centro de suas ações.
Viva Lula!!!
Viva o PT!!!
Viva o povo brasileiro!!!
(*) Luiz Sérgio Canário é militante petista em São Paulo-SP