Por Fausto Antonio (*)
Epígrafe convulsionada pela negrada e pelas ruas:
“É fundamental apontar, desde já, o próximo ato contra o racismo, fora Bolsonaro e Lula presidente”.
O 20 de novembro como artefato, processo de luta da negrada e dos excluídos, é atualização retrospectiva e prospectiva da luta negra e dos trabalhadores (as).
Considerado assim, o processo tem base exusística e circular; atua, na dinâmica das relações raciais , na oposição radical ao golpe de 2016, aos golpistas e ao governo Bolsonaro.
O 20, referenciado no Quilombo de Palmares, nas demais lutas negras, na guerra ao trabalho escravizado e ao projeto colonial é, no nexo retrospectivo e prospectivo, lugar, pacto negro-popular, para a organização antirracismo nos dias atuais e contra o golpe branco de 2016.
O Dia Nacional da Consciência Negra, o popular 20 de Novembro, jamais será uma simples data ou um momento isolado. O 20 será sempre, pois é instrumento dinâmico da luta contra os privilégios brancos e para brancos existentes no Brasil, atualizado pelas conjunturas que historicizam, em contextos localizados, as estruturas profundamente racistas do país. É desse modo que o 20 de Novembro se realiza como história dinâmica do presente e contra o racismo e igualmente contra o golpe iniciado em 2016.
É preciso um balanço que insira a luta contra o racismo na dinâmica da luta contra o golpe, os golpistas e pelo Fora Bolsonaro. O movimento demandado pelas ruas não ficará restrito ao ato do dia 20 de novembro de 2021.
É indispensável, portanto, um balanço da luta contra o racismo no contexto do golpe, da violência policial e do racismo. É fundamental apontar, desde já, o próximo ato contra o racismo, pelo Fora Bolsonaro e Lula presidente.
É necessário um programa ou projeto para enfrentar os dilemas da luta contra o racismo e contra o golpe em marcha desde 2016. O 20 de novembro é instrumento para a luta contra o racismo, respeitando os momentos históricos, e deve ser instrumento para a luta contra o regime atual, o golpe e os golpistas. A natureza racista do golpe de 2016 determina, de modo conjugado, a luta contra o racismo e nela e com ela a luta contra o golpe branco em desenvolvimento no Brasil.
Por sua vez, o programa negro-popular exige, de modo encruzilhado, um salto além do Dia Nacional da Consciência Negra. A agenda deve impulsionar a discussão do programa em cujo conteúdo político estará confiada a luta contra o racismo, a extinção das polícias militares, a instituição de mecanismos democráticos de controle do sistema judiciário pelos trabalhadores (as) e com a centralidade das ruas o movimento negro deve processar a disputa eleitoral de 2022. Avulta , desse modo e relevando o ponto central dado e dirigido pela convulsão popular contra o racismo, o fim das PMs e do aparato jurídico e midiático que executa e naturaliza o genocídio de negros.
Dentro desses limites assegurados pelas ruas, o movimento Lula presidente não é apenas eleitoral; há no processo a luta contra o racismo e a mudança e/ou derrota do regime político golpista. Em outros termos, a chave eleitoral não é o meio principal para derrotar os golpistas e Bolsonaro; a principal arma de negros (as), dos setores populares e dos trabalhadores (as) é a mobilização e o processo, projeto e programa convulsionado e dirigido pelas mobilizações, pelas ruas e pela organização, na contramão e alterando a correlação de forças.
A propósito da correlação de forças, ela, no momento, é favorável aos golpistas, a Bolsonaro e controlada pelas instituições, é o caso do STF, Congresso, Senado e Forças Armadas, promotoras, conforme mando do imperialismo e burguesia branca brasileira, do golpe de 2016 e da mudança de regime.
Em concordância com o 20 dinâmico e com a leitura da conjuntura-estrutura racista, o ato não será o fim do processo, mas sim o lugar para negritar a agenda de luta para 2021 e 2022 e, sobretudo, apresentar o programa radical contra o racismo, a violência policial, o golpe, golpistas e Bolsonaro.
(*) Fausto Antonio é escritor, poeta, dramaturgo e professor da Unilab- Bahia