Página 13 publica abaixo um texto de um militante da tendência petista Articulação de Esquerda, sobre um tema que está dando o que falar. Esclarecemos que as opiniões abaixo desenvolvidas não são a posição oficial da tendência, nem desta Página. Mas afirmamos ter o máximo interesse em que o assunto seja esclarecido.
Por Luiz Sérgio Canário (*)
No domingo, 25 de outubro, quem buscasse no Google por “Jilmar Tatto” receberia como primeira resposta um anúncio pago do site www.virasp.com.br. O Google vende esse serviço, que consiste em ao você fazer uma pesquisa sobre uma palavra ou palavras algo que se anuncia apareça no topo da lista da consulta, com identificação de que é um anúncio.
Não é nenhuma surpresa uma consulta responder na primeira linha com um anúncio. Se a palavra consultada for carro, por exemplo, provavelmente a Ford ou a Toyota irá pagar uma fortuna por isso.
O que é surpreendente é se ver que esse site é o da campanha de Boulos e Erundina para a prefeitura da cidade de São Paulo. E como o Google publica, obrigado por lei, quem pagou o anúncio, é possível saber que o pagamento foi feito pelo CNPJ 36.637.155/0001-06. Uma rápida consulta para saber a quem pertence esse CNPJ e se descobre que ele é da campanha de Luiza Erundina a vice-prefeita. Surpresa!
Resumindo: alguém usando os dados do PSOL pagou ao Google, com dinheiro da campanha, para que ao alguém pesquisar “Jilmar Tatto” aparecer o site da campanha do partido à prefeitura.
Isso não é estritamente ilegal. Há decisões judiciais em outros casos que mandaram retirar esse tipo de propaganda e há decisões que não condenaram a prática. Mas não se pode deixar de ver nisso uma prática suja. Uma tentativa torpe de buscar associar o nome do candidato do PT a campanha do PSOL. Nada menos que isso.
A busca no Google por “Jilmar Tatto” receberia como primeira resposta um anúncio pago do site www.virasp.com.br.
A busca por no Google por “candidato do Lula em SP” apresentava como primeira resposta um anúncio pago do site www.virasp.com.br.
Cabe ao PSOL esclarecer o que ocorreu. Até porque as vestais da condenação de práticas eleitorais baixas e de se dizer afastado delas, devem ser os primeiros a deixar claro que não as usam nem pagam por elas com dinheiro de campanha. O PSOL revelar não ter nada que ver com isto mostraria que, se considerar com chances na eleição da maior cidade do país, não despertou os piores instintos no templo da deusa Vesta. Caso contrário, melhor apagar o fogo sagrado do altar.
Independente do que se descubra sobre este epiódio, já vinha dando para observar com uma frequência cada vez maior e com radicalidade também maior a presença de defensores da candidatura do PSOL em páginas e redes do PT, de Jair de Tatto e de seus apoiadores de maior peso, como Haddad, por exemplo. Pressionar para que o PT desista de sua candidatura é o mais educado que se lê. Desancar Jilmar Tatto como incompetente, despreparado, burocrata e que tais é comum e é o prato preferido. Mandar que Lula apoie Boulos é a cereja do bolo. Sem trocadilho. Já se disse até, não em reles comentário de postagem, mas em texto publicado, que seria bom para o PSOL se Lula abandonasse a candidatura de seu partido para apoiar a do PSOL porque isso provocaria o aumento da força de uma das tendências internas do PSOL. Ou seja, foi agregada as capacidades mágicas de Lula a de resolver a luta interna no PSOL.
Como não sou filiado ao PSOL, mas ao PT, tenho muito pouco conhecimento sobre as disputas internas entre suas tendências. Mas querer que uma liderança do PT tenha capacidade de arbitrar essa luta em favor dessa ou daquela tendência é expor nua e cruamente a incapacidade do PSOL em resolver suas querelas. Mesmo no templo de Vesta o pau quebra.
Essas práticas eleitorais (ou seriam eleitoreiras) não contribuem em nada para a consolidação da frente de esquerda tão necessária no longo caminho que temos que percorrer juntos para derrotar o golpe de 2016 e o governo de Bolsonaro. Nossa luta não começou e nem se esgotará nessas eleições. E nem na próxima. O PT não é o inimigo a ser batido pelo PSOL. Nós somos forças de esquerda e temos que ter responsabilidade na sustentação uma da outra. Acirrar o ânimo da militância e sucumbir ao uso de práticas condenáveis para tirar votos do PT não acumula nada. Pelo contrário, cria um clima de intolerância nas bases dos dois partidos que acabam por deixar cicatrizes difíceis de curar. Não vamos com tanta sede ao pote.
Deveríamos estar trabalhando para os dois partidos irem para o segundo turno. Cada um buscando crescer sobre as bases dos nossos inimigos em comum, como a campanha do PT vem lutando para fazer. Nós somos adversários na eleição. Mas não somos inimigos. Na impossibilidade disso, e indo somente um, será capital unirmos nossas forças e motivar a militância para defender um projeto progressista que derrote o neoliberalismo e Bolsonaro na cidade de São Paulo.
Uma disputa limpa mantem as pontes que nos une intactas. Uma disputa suja, além de destruir as pontes, joga água no moinho dos nossos adversários. A nossa responsabilidade e as nossas lutas vão muito além da disputa eleitoral.
(*) Luiz Sérgio Canário é militante DZ Pinheiros do PT-SP