Por Valter Pomar (*)
Neste domingo 13 de julho de 2025, acompanhei o processo de eleição direta das direções partidárias petistas (PED) na cidade de Ribeirão das Neves (MG).
Para quem não conhece, é uma cidade com aproximadamente 330 mil habitantes, colada em Contagem e Belo Horizonte.
Entre 2002 e 2025, o Partido dos Trabalhadores administrou Ribeirão das Neves uma única vez, de 2013 a 2016.
Na eleição de 2024, a candidatura petista à prefeitura teve 17 mil votos ou 13% dos votos válidos, enquanto o vencedor (Túlio, do PP) teve 108 mil votos ou 81% dos votos válidos.
Em fevereiro de 2025 o PT de Ribeirão das Neves tinha 4.044 filiados e filiadas em condições de votar no PED. Mas o número dos que compareceram para votar no PED foi 10% disto.
Para se ter uma ideia: na disputa mais acirrada do PED, para escolher a presidência municipal do Partido, os votos válidos foram 388, sendo 301 para Marcela Menezes e 87 votos na companheira Telma.
Um detalhe curioso: entre outubro de 2024 e fevereiro de 2025, 117 pessoas se filiaram ao PT. Ou seja: mesmo que todos estes novos filiados tenham comparecido para votar, a matemática indica que o resultado do PED em Ribeirão das Neves foi definido por quem já era filiado antes das eleições.
No jargão petista, quem decidiu o resultado em Neves foi o que chamamos de “militância”, não os “filiados”. O que ajuda a entender a vitória, em Ribeirão das Neves, das chapas e candidaturas da “esperança vermelha” em âmbito municipal e nacional, bem como da chapa e candidatura estadual apoiadas pela esquerda petista.
“Noves fora” (Neves e vários outros casos semelhantes), algo diferente aconteceu no país como um todo, em que tivemos cerca de 340 mil novas filiações e 500 mil votantes.
Uma análise detalhada dos resultados cidade a cidade, estado a estado, provavelmente demonstrará que os resultados foram muito diferentes ali onde prevaleceu a militância e ali onde prevaleceram os filiados. Obviamente, também são muito diferentes as direções que resultam do predomínio de um ou de outro eleitorado.
O PED em Ribeirão das Neves foi realizada em três locais diferentes. Não fui a um destes locais (Veneza, 64 votos) e passei rapidamente pelo outro (Justinópolis, 203 votos), tendo ficado praticamente todo o dia acompanhando a votação na urna que ficou instalada na Câmara Municipal da cidade (121 votos).
Presenciei ou fui informado de poucas ocorrências: não filiado tentando votar, filiada com nome registrado de maneira incorreta na lista de votantes, filiada em débito com o Partido e que não pode votar, filiada que devia votar em outra seção eleitoral, filiada votando em trânsito.
Fora disto, vários casos de pessoas com dificuldade de preencher a cédula eleitoral e que foram autorizadas a receber auxílio de parentes. E pelo menos um caso de filiada que foi impedida de fotografar sua cédula de votação (ela própria disse que estava tentando conferir sua colinha de votação, não fotografar a cédula preenchida).
Além disso, aconteceram diversas dificuldades, algumas decorrentes dos métodos artesanais de organização, outras decorrentes de desvios de conduta, como provavelmente é o caso da ausência de cédulas em quantidade adequada ao número de votantes previstos para uma das seções eleitorais (coincidentemente, a seção onde a candidata apoiada pelo agora ex-presidente municipal do Partido esperava receber menos votos e onde a ausência de cédulas prejudicaria a oponente, que aliás foi efetivamente vitoriosa por larga margem).
Observando de conjunto o processo de eleição das direções petistas, não apenas em Neves, mas nos estados que visitei pessoalmente durante a campanha, fica a certeza de que poderíamos utilizar muito melhor a energia mobilizada.
Para isso teria sido/será necessário um pouco mais de organização, um pouco mais de disposição para debater política e tolerância zero com o coronelismo.
A saber: filiações industriais, compra de votos, ingerência explícita de pessoas vinculadas a outros partidos, pessoas votando no lugar de outras, atas adulteradas, abuso de poder econômico, uso da máquina, assédio de diversos tipos, intimidação contra fiscais, manipulação das comissões organizadores por parte de determinadas chapas e candidaturas, pequeno ou nenhum debate oficial entre as posições concorrentes etc.
Seguramente, se fosse/for eliminado o coronelismo, o resultado do PED seria outro.
Como observou uma companheira, talvez a maioria do Partido continuasse moderada, mas esta maioria seria devidamente moderada por uma maior influência da esquerda.
Não foi o que ocorreu no PED 2025, por uma série de fatores cuja análise detalhada somente poderá ser feita depois que, nos próximos dias, tiver sido totalizado o resultado de Minas Gerais e, também, depois que tiverem sido votados os recursos.
Somente então conheceremos o resultado final e poderemos fazer um balanço completo do PED 2025, inclusive comparando com os resultados de 2001, 2005, 2007, 2010, 2013, 2017 e 2019.
Participei de todos estes processos, ou coordenando campanhas (como as de Júlio Quadros 2001, Iriny Lopes 2010 e indiretamente Lindbergh 2017) ou como candidato a presidente nacional (2005, 2007, 2013, 2019 e novamente em 2025).
Em um único caso, em 2005, trabalhei ativamente para ser candidato; nos demais o decisivo foram as circunstâncias. Esta foi a situação principalmente em 2025, quando as pessoas que na minha opinião deveriam ter assumido a tarefa não podiam, não queriam ou não se sentiam em condições.
Quais seriam estas “condições” para disputar a presidência do Partido?
Se olharmos para o resultado do PED 2025 nos estados e nacionalmente, parece haver uma “condição” que sobressai: ser ou ter sido parlamentar.
Para quem defende que isto (ser ou ter sido parlamentar) não deve ser uma condição, mas apenas uma possibilidade, é imprescindível – ao longo dos próximos quatro anos – preparar diversas companheiras e companheiros que possam vir a disputar a presidência nacional do Partido.
Entre outras coisas, tais camaradas precisam participar ativamente do debate e da condução da política nacional, conhecer o partido em todo país e ajudar na sua construção, ter visibilidade nos meios e nas redes. E, como primeira condição, defender a “linha justa”.
Darei toda a contribuição necessária neste sentido, até porque “when i’m sixty four” seguirei ligado no 220, mas cumprindo outras tarefas.
(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT