Petistas, Haddad e a situação nacional (parte 1)

Por Marcos Jakoby (*)

No dia 01 de março, um conjunto de companheiros e companheiros estiveram reunidos com Fernando Haddad para uma conversa sobre a situação nacional e os desafios do PT. Dirigentes partidários, parlamentares dos mais diversos níveis, lideranças populares e sindicais, mulheres e jovens, provenientes de diversas regiões do país. A atividade foi organizada pelos companheiros José Genoíno, Valter Pomar e Rui Falcão e reuniu principalmente petistas identificados com a chamada “esquerda petista” e aqueles que compreendem a necessidade de uma nova linha política para o Partido, bem como um outro modo de funcionamento para o PT, à luz dos tempos de guerra que vivemos.

A dinâmica se estabeleceu em rodadas de perguntas e intervenções dos presentes, intercaladas com as respostas e análises de Haddad. Neste texto, apresentaremos um conjunto de questões que foram apresentadas ao companheiro Haddad e em um próximo algumas de suas respostas e considerações.

A principal questão colocada pelos interlocutores refere-se à tática a ser construída pelo PT no período 2021-22.  Nessa seara, destacou-se muito o que significa e qual o objetivo de colocarmos o “bloco na rua”.

Para vários presentes, a questão é como combinar o “bloco na rua”, no sentido de acumularmos força no sentido político-eleitoral, e a crise profunda que nós vivemos.  Muitos dos participantes do encontro foram além, disseram que devemos centrar fogo é na luta contra a crise social, contra a pandemia, pela recuperação dos direitos políticos do presidente Lula e pelo Fora Bolsonaro. Colocar o “bloco na rua” agora deveria ter esse sentido.

Existe a preocupação, levantada no encontro, de que devemos ampliarmos a polarização na linha política com o bolsonarismo.  Uma polarização que seja capaz de se irradiar pela sociedade e vá para as ruas.  Se conseguirmos isso agora, o próximo ano terá outro resultado. Contudo, o PT ainda não está conseguindo fazer com que a polarização tenha essa dimensão necessária, até porque há uma linha política equivocada e errática.

Para parte dos presentes, a forma como foi feito o debate de colocar o “bloco na rua” passou a impressão de que a preocupação principal é as eleições de 2022 e não a oposição ao Bolsonaro. E o movimento ganha ainda mais essa conotação quando combinado com falas de importantes lideranças do Partido afirmando de que não há chances de o impedimento de Bolsonaro prosperar. Em outras palavras, a preocupação de que o centro da tática para 2021 já seria a eleição de 2022, deixando a luta social e política contra o desemprego, a vacinação e o Fora Bolsonaro em segundo plano.

Outra questão mencionada na conversa, relacionada diretamente com o tema do “bloco na rua”, diz respeito ao método e a forma de como o movimento foi conduzido. Muitos reiteraram de que a decisão deveria ser adotada pelo diretório nacional e pelas instâncias partidárias e não por indivíduos, por mais importantes que sejam.

Um dos problemas decorrentes desse método é que estamos decidindo colocar o “bloco na rua” sem uma linha política definida e resolvida sobre vários temas importantes, pois o PT ainda não acumulou de forma coletiva e orgânica.  Que tipo de política de alianças queremos construir, qual a centralidade da luta pela liberdade plena do presidente Lula, qual a centralidade do Fora Bolsonaro, qual a pauta e o programa prioritários, qual a relação com os setores organizados da classe trabalhadora e o movimento de colocar o “bloco na rua”. Ainda, de que forma esse movimento irá contribuir para construirmos uma potente mobilização social no país.

Na opinião dos presentes, o PT vive uma confusão muito grande em sua linha política e em sua estratégia.  Saímos do último congresso partidário sem um centro tático delineado. Pior, sem enfrentar duas questões centrais: o da estratégia e o da organização.  Uma amostragem dessa dinâmica deletéria ao Partido é o fato de que saímos de uma derrota eleitoral sem um balanço digno do nome e já vamos falar de 2022.  Por quê?  Porque viemos de um ciclo de derrotas e então é melhor não falarmos delas, principalmente para aqueles setores que possuem uma responsabilidade maior sobre elas. Por isso, na opinião de vários presentes, nós precisamos de um congresso partidário, agora no início de 2021, para nos armarmos com uma política mais clara para onde a gente quer ir e com uma estrutura organizativa mais forte para enfrentar esse período.

Outras questões apresentadas no decorrer da conversa são subsidiárias desse debate sobre o centro tático e o da estratégia. Sobre elas, Haddad também foi instado a falar.

Uma delas diz respeito a questão das alianças. Há a possibilidade de não termos aliança para o primeiro turno nas próximas eleições presidenciais. Por outro lado, há aqueles que já falam de um compromisso de aliança – de segundo turno – desde já contra Bolsonaro com a direita que se encontra na oposição a Bolsonaro. O que para muitos é um erro, pois pode enfraquecer a nossa luta contra essa direita que é neoliberal e golpista.

Outro tema abordado diz respeito ao programa. Há entre os petistas distintas avaliações sobre os governos Lula e Dilma, de modo que para alguns um dos erros foi não termos tentado realizarmos reformas estruturais. E quando se lê o Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil não fica claro qual a prioridade nesse terreno. Ou seja, o PT chegando novamente ao governo, quais serão as reformas a serem perseguidas e com que nível de prioridade. Outros companheiros inclusive questionaram se não devemos ser mais enfáticos na reforma do sistema financeiro e na necessidade de colocarmos na conta dos ricos os custos da crise, traduzindo em medidas programáticas.

Outra questão fundamental abordada, é como retomarmos os vínculos com a maioria da classe trabalhadora, e nesse contexto o trabalho de base. Alguns participantes questionaram como podemos dar maior relevância as nossas lutas, como a luta pela vacina, pelo auxílio emergencial, sem que isso seja capitalizado pela direita e pelo governo Bolsonaro. Sublinhou-se que setores da classe trabalhadora, com medo do desemprego, da fome, inclusive de perder a vida, estão indo para a direita. E se não precisamos ter uma postura mais contundente na oposição ao governo Bolsonaro na condução sobre a pandemia.

Nesse sentido, lembrou-se que em 2020 houve algumas mobilizações, como os das torcidas organizadas, dos trabalhadores por aplicativos, de lutas contra o racismo, mas que não envolveram de forma mais ampla os setores mais organizados da classe. Haddad foi questionado sobre o papel desses setores e de como colocar esse “bloco na rua”. Por fim, foi indagado se o tipo de oposição que estamos fazendo ao governo Bolsonaro não é predominantemente parlamentar e se isso não seria uma linha equivocada.

De forma sintética, foram essas as questões e análises apresentadas ao companheiro Haddad. Como dissemos, em um próximo texto pretendemos trazer algumas das análises e respostas apresentadas por ele, como forma de contribuir com vários dos debates necessários e urgentes ao petismo.

(*) Marcos Jakoby é professor e militante do PT


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

 

 

 

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