PT, Contarato e a situação política-eleitoral no ES

Por Sebastião Erculino Custódio (*)

O PT no ES, quando não abdicou da disputa pelo poder, sempre foi vanguarda de propostas políticas inovadoras, includentes e revolucionárias. Foi assim que elegemos o prefeito de Vila Velha, Magno Pires (PT), no ano de 1987, naquela disputa do mandato de um ano e pouco, com 26.633 votos. Uma vitória que fez a gente soltar foguetes até em Água Doce do Norte.

Foi com este propósito, de não abdicar da disputa pelo poder, que o partido elegeu, em 1986, o primeiro deputado federal Constituinte, Vitor Buaiz[1]. Vitor foi eleito o prefeito da Capital em 1988, assumindo a vaga de deputado federal a suplente Lourdinha Savignon, lá de Cachoeiro do Itapemirim.

Também nesta mesma época, em que o PT não abdicou de disputar o poder, elegemos o governador[2] Vitor Buaiz e uma bancada significativa de deputados estaduais. Lembrando que nossa vaga de deputado federal sempre garantimos, mas, o poder de fato, a disputa de projetos de estado, o partido foi abdicando e cedendo a propostas, ora do Zezão/Renatão/Cazão [3], ora do Paulão/Cesão/Hartungão[4].

Foi neste debate de empoderamento que tivemos um mandato de senadora, quando a militante partidária Ana Rita Esgário assumiu a vaga de Casagrande, por ser sua suplente ao Senado, para o mandato iniciado em 03 de janeiro de 2011 à 31 de janeiro de 2015.

Construir projetos de poder tem implicações para o partido, que precisa estar pronto, disposto e articulado para dar certo. Para isso, subentende-se que o partido jamais poderá abdicar do diálogo com a academia que é produtora privilegiada de conhecimento científico, jamais pode abdicar do campesinato que é produtora de conhecimento popular e alimentos, jamais pode abdicar da questão cultural que dialoga intrinsecamente com todos os seguimentos, jamais pode abdicar da comunicação que mostra a verdade da sociedade, jamais pode abdicar da ciência e tecnologia, jamais pode abdicar do lazer e jamais pode abdicar das classes trabalhadoras.

Aos poucos, o PT capixaba foi perdendo a interlocução com estes segmentos, e, consequentemente, estes espaços da luta política pelo poder foram sendo ocupados por segmentos da política que abarcaram outros projetos, como por exemplo o “espírito santo em ação”. Se dentro da militância sindical, de direitos humanos, do campesinato, do lazer, da cultura e do conhecimento, o PT tinha a interlocução, no Espírito Santo em Ação, por outro lado não existe uma nitidez política e lá entram e nadam de braçadas, naquele projeto, tanto o Casão quanto o Hartungão.

Agora nos deparamos neste debate esquizofrênico de que o Zezão não nos quer. Tipo um choro de menino mimado que precisa ser protegido, ter colo para continuar fazendo suas travessuras. Não, que bom que o Renatão não nos quer. Eu até prefiro assim dizer, que não queremos Ele, porque seu projeto é diferente do nosso, não comunga com o nosso, não incluem e não emancipa as pessoas.

Tudo que o Zezão está fazendo, nos movimentos de isolar o PT, faz parte do jogo; só que o PT capixaba torce o beiço porque “quer” continuar no pragmatismo político. Sem projeto real para disputa do poder capixaba, necessita estar num colo que lhe garanta uma fatiazinha de espaço, e quando isto não acontece, acaba lançando candidaturas no apagar das luzes. Isto aconteceu outrora com a candidatura de Roberto Carlos e depois com Jaqueline; infelizmente, isso é ridículo para um partido do tamanho do nosso.

Eu gostaria muito e gosto muito de ver o PT colocar o debate real sobre a questão do feminicídio que nos assola, o debate real sobre a morte das juventudes que nos envergonha, sobre os gargalos da infraestrutura e desenvolvimento das regiões que direciona os recursos sem equidade em detrimento uma das outras, da geração de empregos. Sonho com o debate real sobre o problema da agricultura camponesa, no que tange às várias nuances como: comércio, recursos hídricos, tecnologia, escoamento. Produção, comercialização, leis sanitárias, educação do campo, empoderamento.

Ao abdicar da disputa do poder, o PT também se abdicou da construção das lideranças, envelheceu, e se de um lado tem Zezão/Renatão/Cazão – Paulão/Hatungão/Cesão coladinhos com o projeto “oposto ao nosso”, de outro lado, estamos com uma liderança, o Contaratão, que se dispõe a travar este debate de projeto de poder, mas, o PT continua se capengando e não pega no tranco.

A matéria do ESHoje, de 07.01.2022, de Danieleh Coutinho, é ridícula quando aponta o movimento de João Coser de se oferecer a ser vice do Zezão/Renatão/Cazão. Aniquilando de vez, e outra vez, com esta possibilidade do debate de poder através do projeto viável de inclusão. Se é real a matéria ou especulativa, saberemos mais tarde, e espero que seja especulação. De toda sorte, um fator que atrapalharia este movimento é a não FEDERAÇÃO com o PSB, portanto, neste aspecto, estamos à mercê dos arranjos nacionais. Portanto, o PT capixaba precisa tomar a iniciativa e mostrar qual é o melhor caminho para um projeto democrático e popular no Espírito Santo.

Ser petista desde 1982 é fogo, porque a fita passa na cabeça da gente e os sentimentos se misturam entre: esperança, tristeza, decepções, sagacidade, altivez e espírito militante. Vamos que vamos neste movimento de esperançar.

(*) Sebastião Erculino Custódio é advogado, Secretário Agrário do PT ES e militante da AE


[1] Em 1988 Vitor Buaiz foi eleito prefeito de Vitória e em razão disso foi efetivado como deputada Federal do PT ES Lourdinha Savignon.

[2] Em 1994 foi eleito governador do estado do Espírito Santo para o mandato 1995 -1998. Sua eleição ocorreu em 2º turno, tendo disputado contra o candidato do então PFL Cabo Camata num cenário resguardadas as proporções, mas, como foi a eleição presidencial de 2018.

[3] O termo usado Zezão/Renatão/Cazão é um trocadilho do nome do político do PSB – JOSÉ RENATO CASAGRANDE, Ex deputado Estadual pelo ES, Ex deputado Federal pelo ES, Ex Senador pelo ES e Governador pelo segundo mandato no ES. Já o termo Contaratão se refere ao senador pelo ES FABIANO CONTARATO que anunciou desfiliação do partido REDE Sustentabilidade e está prestes a se filiar ao Partido dos Talhadores no ES.

[4] O termo usado Paulão/Cesão/Hartungão é um trocadilho do nome do político que transitou por várias siglas partidárias – PAULO CÉSAR HARTUNG GOMES, Ex deputado Estadual pelo ES, Ex deputado Federal pelo ES, Ex Senador pelo ES e Ex Governador pelo ES por dois mandatos.

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