PT: divagações sobre o papel da secretaria-geral

Por Valter Pomar (*)

Na China, o Estado é poderoso.

E quem está no centro do poder de Estado?

Na China, é o Partido Comunista.

E quem dirige o Partido?

Na China, é o Comitê Central, dentro dele o Politburo, dentro do Politburo a Comissão Permanente, que tem como núcleo o secretário-geral.

O secretário-geral é o presidente da China.

Não é secretário-geral porque é presidente.

É presidente porque é secretário-geral.

Quem é o presidente do PCCh? Ninguém: na China atual, o Partido não tem presidente.

Quem é o tesoureiro do PCCh? Não sei. Deve ter, mas nunca ouvi falar.

Na esquerda brasileira, a coisa é toda muito diferente.

Aqui o presidente da República tem grande influência sobre o principal Partido da esquerda, sendo inclusive seu presidente de honra.

Aqui os partidos têm presidente, inclusive por imposição da legislação.

Aqui as pessoas que ocupam a tesouraria têm imenso poder, assumindo muitas vezes o papel de “primeiro-ministro” das direções partidárias, no que parece ser uma transposição do que ocorre em parte do movimento sindical.

Um exemplo: desde 1995, a tendência atualmente majoritária no Diretório Nacional do PT nunca abriu mão de um único cargo: a tesouraria. Todos os demais cargos já foram ocupados por pessoas de outras tendências. A tesouraria, nunca!

E a secretaria-geral? No caso do PT, José Dirceu foi o último secretário-geral ao “estilo chinês” que tivemos. Desde 1995 até hoje, todos os demais secretários-gerais tiveram que lutar muito para definir seu espaço.

Alguns tiveram mais êxito nessa luta, outros menos.

E tem aqueles que nem lutam por isso. Vá entender, mas assim é.

Se juntarmos esse fato com o predomínio crescente, tanto das bancadas parlamentares, quanto dos governantes “por sobre” as direções partidárias, temos como resultado uma crescente estatização do Partido.

Não “o Partido mandando no Estado”, mas “o Estado mandando no Partido”.

Dito de outro jeito e exagerando um pouco, é como se quem controlasse as verbas, controlasse o Partido. Não seria “a política no comando do dinheiro”, mas – para usar uma imagem imperfeita, mas não falsa – “o dinheiro no comando da política”.

Ou isso muda, ou não tem como terminar bem.

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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