Saiu o jornal Página 13 de novembro

Saiu a edição de novembro do jornal Página 13, de número 291, que pode ser descarregado na íntegra AQUI.  Abaixo, o leitor pode conferir e editorial.

BOA LEITURA!

Nada está decidido

Assim que terminou a reunião entre Lula e Trump, um sussurro percorreu certas rodas e grupos de zap: a eleição está no papo e vamos levar no primeiro turno.

Aí veio a eleição na Argentina, que surpreendeu negativamente quem achava que Milei seria derrotado, política e eleitoralmente.

E depois veio a chacina, que demonstrou que o arsenal da extrema-direita não está fraco, nem eles desistiram da disputa.

Portanto, e por muitos outros motivos, sejamos realistas: a eleição presidencial de 2026 será duríssima e nada está decidido.

Mas uma coisa importante mudou: o julgamento do cavernícola, a disputa contra Trump e a batalha de 21 de setembro demonstraram, para quem não acreditava nisso, que nosso caminho para a vitória passa pela polarização (contra o Congresso, contra o bolsonarismo, contra os ricos) e pela mobilização (que demonstrou que as ruas podem neutralizar, mesmo que parcialmente, a maioria conservadora no Congresso Nacional).

Para que 2026 comece e principalmente termine bem, será preciso manter a polarização e a mobilização. Isso exigirá enfrentar e derrotar os setores da esquerda que defendem a conciliação com a maioria de direita no Congresso e a pacificação com o bolsonarismo.

Um exemplo desta atitude conciliadora foi a atitude dos 14 parlamentares que votaram a favor da PEC da bandidagem e, também, os dirigentes e parlamentares que defendem reduzir a pena do genocida. É importante que o eleitorado petista, na hora de votar, não esqueça do nome e do número dos 14.

Outro exemplo de atitude conciliadora foi a defesa, feita por um importante integrante da Executiva Nacional do PT, segundo o qual o Partido não deveria criticar publicamente a taxa de juros. Pois bem: no dia seguinte, o próprio Lula criticou a taxa de juros, mostrando o ridículo a que se prestam certas pessoas que tentam ser, para citar o ditado popular, “mais realistas do que o rei”.

Nosso Partido deve exigir a redução na taxa de juros e, também, a superação dos entraves impostos pelo Novo Teto de Gastos, ou melhor, Novo Marco Fiscal.

Se o Banco Central seguir mantendo a taxa de juros nas alturas, se o Congresso não aprovar aumento dos impostos sobre os ricos, a alternativa será cortar investimentos e políticas sociais ou deixar de lado os parâmetros determinados pelo Novo Marco Fiscal. Num ano eleitoral, a primeira atitude, além de socialmente errada, seria politicamente suicida.

Por isso, devemos seguir enfrentando os neoliberais e também os setores da esquerda que são adeptos do social-liberalismo, ou seja, que defendem combinar políticas sociais e medidas neoliberais, que pouco fazem contra a ditadura que o capital financeiro mantém sobre a economia nacional, que não trabalham para superar o modelo primário-exportador baseado no agronegócio e na mineração, que seguem mantendo o Brasil dependente do imperialismo.

E não apenas do imperialismo estadunidense. É importante lembrar que o Tratado Mercosul União Europeia beneficia o agronegócio “brasileiro” e a indústria europeia.

A batalha em torno do Marco Fiscal e da política de juros é decisiva para aqueles, como nós, que não apenas queremos ganhar as eleições, mas também queremos defender os recursos constitucionais da saúde e da educação, assim como queremos impedir a contrarreforma administrativa que a direita está tentando aprovar no Congresso Nacional.

A polarização contra a direita e contra a extrema-direita se dá, também, no plano da política externa. Defendemos a necessidade de uma posição mais explícita e proativa sobre a agressão militar em marcha contra a Venezuela e contra a Colômbia, sobre a situação em Cuba e sobre a defesa do povo palestino. E defendemos que o Brasil mantenha sua integração aos BRICS. Afastar o Brasil dos BRICS, mais precisamente da China, é um dos principais objetivos do governo Trump.

Cabe lembrar que queremos reeleger Lula em 2026 em condições que nos permitam fazer um mandato superior ao atual.

Isso exigirá ampliar nosso apoio nas camadas populares, nas classes trabalhadoras, entre os negros e negras, mulheres e juventude periférica, indígenas e quilombolas, sindicatos e movimentos sociais.

Ampliar esse apoio exigirá muita ação de governo, muito trabalho de base, muito debate político.

Um ponto de partida importante é defender, no congresso que o Partido dos Trabalhadores deve realizar em abril de 2026, um programa de reformas democráticas e populares em defesa da soberania produtiva (industrialização & alta tecnologia), da soberania energética (inclusive retomando o pleno controle estatal da Petrobrás e da Eletrobrás), da soberania alimentar (com destaque para a reforma agrária), da soberania digital (regulando, mas principalmente construindo big techs brasileiras e nacionalizando o controle sobre as terras raras), da soberania comunicacional (cumprir a Constituição e acabar com o oligopólio da mídia empresarial), da soberania ambiental (com foco na Amazônia e no Cerrado), da soberania militar (que inclui uma reforma integral das Forças Armadas e das Polícias Militares, sem falar na demissão de Múcio, o ministro sem defesa).

O programa que defenderemos no congresso do PT e que esperamos tenha destaque na campanha eleitoral inclui, ainda, o compromisso de nosso governo com o fim da escala 6×1, a redução da jornada de trabalho, a defesa do SUS e da educação pública, a revogação das contrarreformas previdenciária-sindical-trabalhista, a reforma política e a cobrança de impostos sobre os ricos.

Nossa campanha em 2026 não se limita à disputa presidencial. Trabalharemos para manter e ampliar a presença do PT nos governos estaduais, Senado, Câmara e assembleias legislativas.

Há no Partido quem defenda diferentes táticas eleitorais. Somos de opinião que o PT não deve fazer alianças que nos descaracterizem politicamente e que, ademais, nos façam perder espaços institucionais. Trabalharemos para que o PT lance chapas e candidaturas em todos os estados.

Entretanto, por melhor que seja nosso resultado na eleição proporcional de 2026, o mais provável é que as duas direitas continuem majoritárias no Congresso Nacional.

Uma alteração qualitativa na composição do atual Congresso Nacional exige não só uma reforma política global, com adoção de voto em lista pré-ordenada, mas também o fim do atual sistema de emendas. Mudanças tão profundas exigem colocar em debate na sociedade e mobilizar em favor de uma Assembleia Constituinte, como já foi deliberado e aprovado no 3º e, também, no 6º Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores.

Por isso, tanto conquistar o futuro governo quanto garantir um futuro mandato superior ao atual, dependerá, em grande medida, de sabermos combinar organização e mobilização das classes trabalhadoras com um governo que faça política e não se limite a administrar.

No primeiro semestre de 2026, deve ocorrer um congresso do Partido. Embora, contra o nosso voto, tudo caminhe para ser um congresso com as mesmas delegações já eleitas no PED 2025, devemos trabalhar para aprovar resoluções mais avançadas e, também, para combater as posições social-liberais e social-democratas atualmente majoritárias no Partido.

Ao mesmo tempo, devemos trabalhar para ter candidaturas nas eleições de 2026 que expressem as posições que defendemos. Em particular, devemos fazer um esforço nacional para manter e ampliar nossa bancada federal. A bancada federal é um dos polos na disputa pelos rumos do PT, existindo um setor que está cada vez mais rendido ao cretinismo parlamentar e ao pragmatismo sem resultados (ao menos, sem resultados para a classe trabalhadora).

A disputa pelos rumos do PT vai se agudizar, qualquer que seja o resultado das eleições de 2026.O período que se inicia em 2027 será de enfrentamentos profundos entre as tendências socialistas, social-democratas e social-liberais que convivem em nosso Partido. Essa disputa não será apenas interna, seja porque ela refletirá os tensionamentos nacionais e internacionais, seja porque ela incidirá sobre os rumos da classe trabalhadora e do Brasil.

Um exemplo de como a luta interna deve se radicalizar é a postura adotada pelo prefeito Washington Quaquá frente à chacina perpetrada pelo governo Castro.

Não se trata de um ponto fora da curva: basta lembrar dos acenos à extrema-direita feitos por Quaquá nos casos Pazuello, Brazão, “pacificação” com o cavernícola, “vala” e quetais.

Frente à chacina, Quaquá encampou, ainda que de maneira oblíqua, a tese de que “bandido bom é bandido morto”. Manifestou consternação sobretudo e em primeiro lugar com a morte dos policiais, chamados por ele de “heróis do Estado brasileiro”. Sobre os mais de 100 mortos, Quaquá disse que “alguns inocentes morreram, mas obviamente que a grande maioria era de gente que portava fuzil”. O pior de tudo é que Quaquá aceita a tese de que há uma “guerra”, ponto de partida para abandonar qualquer política de segurança pública e converter os inocentes mortos em “dano colateral” tratado como inevitável. Sem falar que abre a porta para a operação que a extrema-direita está fazendo, no sentido de envolver os Estados Unidos na questão através da qualificação das facções como “terroristas”.

As posições de Quaquá, seja seu gestual fazendo arminha, seja sua fala em favor da “paz e porrada”, não deixam lugar a dúvida: além de socialistas, social-democratas e social-liberais, há entre nós um social-fascista.

Existe quem relativize as opiniões de Quaquá acerca da chacina cometida pelo governo Castro, alegando que não podemos deixar a extrema-direita “manipular” o tema da segurança pública.

A preocupação é justa. Mas isso não pode nos conduzir a defender uma chacina. O que ocorreu é, em parte, desdobramento de uma incorreta política de insegurança pública; por outra parte, é guerra de facções, na qual setores do governo Rio apoiam uma facção contra outra; mas a chacina também foi uma ação político eleitoral, uma tentativa da extrema-direita de recuperar a iniciativa política através da “guerra ao tráfico”.

Por isso, nossa atitude deve ser a de explicar para a população o que está acontecendo, demonstrar que violência não gera segurança, mostrar que o governo do Rio está penetrado pelo crime, lembrar que a turma do cavernícola quer recuperar espaço. E implementar, através do governo federal, dos governos estaduais e das prefeituras que governamos, uma política de segurança diferente.

A outra atitude adotada por Quaquá & outros é negar que tenha havido chacina, omitir a cumplicidade de setores do governo do Rio com o crime, passar o pano na manobra política da extrema-direita e adotar a tese de que o combate ao crime deve mesmo ser feito através da “guerra”.

As pesquisas demonstram que esta atitude de Quaquá & outros, além de criminosa no plano dos princípios, é errada no plano da política.

Um exemplo disso é a pesquisa Genial Quaest, que, entre outros, traz os seguintes dados acerca do que pensa a população do estado do Rio de Janeiro: 87% acha que o Rio de Janeiro vive uma situação de guerra; 73% da população acha que a polícia deveria fazer “operações como essa” nas comunidades; 64% da população do estado do Rio de Janeiro apoia a “operação”; 58% acha que a “operação” foi um sucesso.

A mesma pesquisa aponta que 52% da população acha que depois da “operação policial”, o Rio de Janeiro está “menos seguro”. E quando a pergunta é “qual deveria ser a primeira reação de um policial que está trabalhando e se depara com uma pessoa com um fuzil na mão?”, 50% responde que a reação deve ser “buscar prender sem atirar”.

Os dois últimos resultados, em comparação com os demais, comprovam que está em curso uma disputa ideológica polarizada, na qual a direita consegue levar vantagem porque ela domina a “narrativa” geral segundo a qual estaria em curso uma “guerra”.

Portanto, é possível a esquerda virar o jogo quando faz predominar o debate em torno dos resultados concretos desta “guerra” e, a partir daí, estabelecer outra “narrativa”: a da segurança pública.

(A direita sabe disto, motivo pelo qual, entre outras coisas, evitou a adequada autópsia dos mortos, muitos executados e com marcas de violência incompatíveis com um confronto regular).

A pesquisa demonstra, ainda, que bastaria convencer o eleitorado autoproclamado de esquerda a defender posições de esquerda, que o resultado geral da pesquisa seria bem diferente. Afinal, segundo a pesquisa, 35% do “eleitorado lulista” e 27% da “esquerda não lulista” aprovam a “operação”.

Enquanto o lado de cá está dividido, o lado de lá é quase monolítico: o apoio à “operação” é quase total na direita (92%) e na extrema-direita (93%). O que também mostra como, em determinados temas, a extrema-direita polariza totalmente a direita gourmet, motivo pelo qual a chacina foi a arma da extrema-direita para recuperar a iniciativa política.

Ao declarar apoio à “operação” (que qualquer pessoa honesta em relação aos fatos precisa reconhecer que foi uma chacina) e ao reforçar o discurso de que estaria em curso uma “guerra” (onde a lei é matar), os criptofascistas infiltrados entre nós contribuem para reforçar a direita.

Não se combate os fascistas concordando com eles. Nem se combate o fascismo tolerando entre nós o criptofascismo. Fora Castro, fora Quaquá!

Os editores

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *