Sergipe: se não fosse a militância, a derrota eleitoral seria também política!

Por Tadeu Brito (*)

13.10.2022 – Lula e Rogério Carvalho participam da caminhada Brasil da Esperança, em Aracaju-SE. Foto: Ricardo Stucker

Num universo de 1.353.538 votantes, perdemos o Governo de Sergipe no segundo turno por 41 mil votos. Foram 624 mil contra 583 mil, em números arredondados. Venceu o Centrão e a extrema-direita sergipana. Nosso candidato, o senador Rogério Carvalho, foi o único parlamentar federal do PT a votar favorável no Orçamento Secreto de Bolsonaro. Perdemos para Fábio Mitidieri, deputado federal do PSD, que também votou favorável ao orçamento secreto. É a máxima popular: “petistas não podem errar como demais!” (Depois de eleito, Fábio reconheceu que no segundo turno não pediu voto pra Lula).

Lula ganhou em todos municípios nos dois turnos (829mil e 863mil, 63% e 67%). No primeiro turno, Rogério teve 340 mil votos e não venceu por pouco, mas ficou 490 mil votos atrás da votação de Lula. A diferença no turno decisivo ainda foi muito grande: 280 mil atrás de Lula. Mas por que isso ocorreu? Por que 100 mil eleitores de Lula, no mínimo, votaram 13 para presidente e votaram branco ou nulo para governador?

O candidato de Bolsonaro ao governo de Sergipe no primeiro turno, Valmir de Francisquinho, teve seus 458 mil votos declarados nulos e, no segundo turno, negociou e declarou apoio a Rogerio, ampliando contraditoriamente, a votação e a rejeição do petista.  Cabe perguntar: quais elementos a coordenação da campanha e o próprio Rogério levaram em consideração para tomar essa decisão? Havia alternativa? Houve salto alto após anúncio? Por que a militância não recebeu prioridade e condição material para fazer uma campanha de massas? Por que será que a prioridade dada ao grupo de direita recém aliado não resultou em votos para Rogerio? Será que a extrema-direita que votou em Valmir no primeiro turno se revoltou e no segundo turno passou a integrar a ofensiva militante contra a candidatura petista? Ou será que a única responsável pela nossa derrota foi o poder econômico dos adversários?

Participei de quatro atividades pós eleição: a) Rogerio reúne centenas de apoiadores para só ele falar que “tudo foi certo em nossa campanha e perdemos por causa do poder econômico alheio”; b) depois, uma ampla reunião das frentes políticas e centrais sindicais para “ligar o alerta” contra as mobilizações da extrema-direita e construir a Marcha da Consciência Negra; c) ato continuo, ocorre uma reunião da AE/PT; e por fim, d) no último sábado se reuniu o Diretório Municipal do PT de Aracaju, que frente as diferentes e polémicas avaliações, marcou um Seminário de Balanço e Perspectivas para 14 de Janeiro de 2023. Faltam ainda muitos espaços para a militância debater e opinar.

Rogério se tornou candidato ao governo, já sendo muito atacado por servidores públicos e militantes de esquerda por algumas práticas neoliberais em sua passagem como secretário estadual saúde. Criticado como “gestor arrogante, político pragmático e de pouca escuta”, Rogério reforçou tudo isso quando desobedeceu ao PT e votou no orçamento secreto. A campanha adversaria soube popularizar essas questões, ao ponto de popularizar o apelido “Secretinho”.

Lembremos que após a cobrança pública do PT nacional e da militância petista da AE/SE, Rogério na véspera da homologação da candidatura ao governo, muda de posição e vota contra o orçamento secreto, fazendo uma autocrítica pública tímida, que é utilizada no seu programa eleitoral e em debates com as demais candidaturas. Mas não conseguíamos “ferir de morte” a candidatura de Fabio, que votou favorável no Orçamento Secreto e estava na prática com Bolsonaro e a extrema-direita.

Some aos problemas acima: a) Eliane Aquino, atual vice-governadora pelo PT, e “embaixadora da Fundação Lemann”, tentou até o prazo limite das convenções partidárias, ser a candidata ao senado na chapa governista de Fábio/PSD, inclusive avaliando a possibilidade de trocar de partido. O petismo e Lula reagiram forte e Eliane se torna candidata a deputada federal pelo PT, mas exige e recebe privilégios políticos da candidatura majoritária.

Mais problemas: (a) os prefeitos do PT de São Domingos e Feira Nova apoiaram o PSD para governador; (b) nenhum dos cinco prefeitos petistas apoiou candidaturas de deputado/a estadual do PT; (c) os prefeitos do PT de Cristinápolis e de Salgado apoiaram candidaturas proporcionais de Bolsonaristas e/ou Governistas; (d) dirigentes petistas apoiaram candidaturas de deputado/a estadual de direita (exemplo: Roberto Araújo e Rui Brandão apoiaram o deputado eleito Adailton Martins/PSD). Os casos acima serão denunciados à comissão de ética. Pois como diz o ditado: “o uso do cachimbo deixa a boca torta” e “ nada acontece por acaso”: ou será que a falta de força militante na chegada não tem a ver com o que fez a maioria do PT/SE em 2018 ao se aliar a candidatura de Belivaldo (hoje odiado) sem realizar o plebiscito com a militância petista; depois em 2019 essa mesma maioria silenciou, permitindo na prática, que um de seus dois deputados estaduais votasse na retirada de direitos dos trabalhadores durante reforma da previdência pública estadual e depois “engavetou” o pedido de Comissão de Ética para o deputado traidor; já em 2021, quando percebem que a maioria governista de direita não aceitava a candidatura de Rogerio ao governo, decidem (atrasados) que o PT deve romper com o grupo liderado por Belivaldo, mas permitem que a vice governadora petista, faça de conta que tudo está como antes…

O conjunto de equívocos citados integra um conjunto maior de elementos que devemos avaliar nas direções municipais partidárias e nas plenárias com a militância do PT .

Por pouco, vencemos as eleições presidenciais. Temos que comemorar a vitória de Lula e vitória política que fez de Rogerio uma liderança mais forte, apesar da derrota eleitoral. Mas é obrigatório lutar, estudar, organizar e avaliar a derrota em Sergipe! Acredito que a linha política moderada e eleitoralista, aquela que afirmou no início da pandemia: ‘vamos deixar Bolsonaro sangrando – e matando – para podermos vencer as eleições presidenciais’, deu sinais degenerados de estagnação.

Entendo as críticas feitas a Rogerio, em parte concordo com elas, mas faltou um pouco mais de “instinto de peão” em alguns setores da esquerda organizada (o PSTU local e a vereadora, deputada eleita, do PSOL, Linda Brasil, declararam voto nulo para governador. O que na prática ajudaram Fabio, André Moura e Laercio Oliveira a ganhar o governo estadual e maioria na Assembleia Legislativa). Se não fosse a “consciência de classe” da militância anônima petista, que sabia que da parte dos adversários não viria, e nem virá, flores e chocolates, nossa derrota eleitoral, se transformaria também numa derrota política.

(*) Tadeu Brito é militante do PT em Aracaju

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