Por Valter Pomar (*)
Escrevo para socializar, com a militância e amigos da tendência petista Articulação de Esquerda (AE), algumas informações sobre a disputa que está ocorrendo, na cidade de Campinas (SP), para escolher quem será o candidato do Partido dos Trabalhadores a prefeito nas eleições de 2020.
Um rápido retrospecto: em 1988 o PT elegeu o prefeito de Campinas. Foi Jacó Bittar, ex-dirigente sindical petroleiro, tendo como vice o professor Antonio da Costa Santos, o Toninho. Jacó traiu e foi expulso pelo PT.
Disputamos e perdemos as eleições de 1992 (com Renato Simões candidato) e de 1996 (com Toninho candidato).
Recuperamos o governo de Campinas em 2000, desta com o Toninho prefeito e Izalene vice-prefeita. Toninho foi assassinado em 2001. Governamos até 2004, tendo como prefeita a Izalene Tiene.
Disputamos a eleição de 2004, tendo como candidato Luciano Zica (ex-dirigente sindical petroleiro e, na época, militante da AE). Faltaram 5 mil votos para irmos ao segundo turno.
Já no primeiro turno de 2004, uma parte do PT ajudou a campanha do Doutor Hélio (PDT). No segundo turno, o PT decidiu (por maioria) apoiar oficialmente o Doutor Hélio, com o argumento de que era preciso derrotar o Carlos Sampaio (PSDB).
Doutor Hélio ganhou e foi reeleito em 2008, desta vez tendo um petista na vice (o ex-dirigente sindical petroleiro Demétrio).
Nós da AE fomos contra apoiar Doutor Hélio no segundo turno de 2004 e fomos contra fazer parte da coligação dele em 2008.
Outros setores do PT participaram da campanha do Hélio ainda no primeiro turno de 2004, apoiaram Hélio no segundo turno de 2004, depois participaram do governo Hélio, mesmo quando o PT ainda não tinha decidido participar. É o caso do Gerson Bittencourt, na época ligado aos Tatto e hoje, como os Tatto, militante da CNB. Gerson veio ser secretário dos transportes de Hélio, logo no início do seu primeiro mandato.
No segundo mandato de Hélio, iniciado em 2009, outros setores do PT participaram.
Pois bem: neste segundo mandato, o mundo caiu sobre a cabeça do Doutor Hélio, com acusações de que uma quadrilha operava no seu governo, sob o comando da primeira dama e de seus secretários de maior confiança.
Dr. Hélio foi impichado (contra o voto solitário do vereador do PCdoB, único a votar contra); o vice-prefeito Demétrio assumiu (mas depois foi também derrubado); o presidente da Câmara Municipal assumiu e foi candidato a prefeito. Devido ao conjunto da situação, o PT foi para a eleição de 2012 em péssimas condições.
Foi neste contexto que nós da AE fomos protagonistas, junto com vários outros setores do PT, de um movimento exitoso: fazer de Márcio Pochmann candidato do Partido dos Trabalhadores a prefeito nas eleições de 2012.
Pochmann disputou e ganhou as prévias contra Tiãozinho, que foi apoiado por Gerson Bittencourt. Hoje Tiãozinho está no PCdoB.
Márcio Pochmann começou a campanha de 2012 com 1% nas pesquisas e no segundo turno recebeu mais de 40% dos votos.
O vitorioso no segundo turno de 2012 foi Jonas Donizete, do PSB, apoiado pelo PSDB. Mesmo assim, alguns setores do PT decidiram participar do governo Jonas, pretextando que ele seria um aliado do governo Dilma. Entre eles, o vereador Canário e a filiada Sandra Laura.
A luta por expulsar do PT esta gente que entrou no governo Jonas demorou muito tempo e deixou sequelas até hoje. Tivemos, inclusive, uma reunião em que bate-paus agrediram fisicamente o presidente e o secretário-geral do Partido (as cenas foram gravadas e a pessoa suspeita de ter sido mandante do crime saiu do Partido, posteriormente). Foi necessário convocar outra reunião do Diretório Municipal, em que a expulsão foi aprovada por 24 a 21 votos. E, mesmo assim, o assunto foi objeto de recursos à direção estadual.
Uma das pessoas que traiu o PT e participou do governo Jonas – a senhora Sandra de Almeida Laura – foi posteriormente readmitida no Partido, influenciou no resultado do PED de 2019 e depois saiu novamente do PT.
Detalhe importante: os votos desta pessoa e de seu grupo ajudaram a eleger o atual presidente do Partido (ligado a Gerson Bittencourt e aos Tatto) e beneficiaram, inclusive, na eleição de delegados que votaram em uma das chapas da chamada esquerda petista em âmbito nacional.
A vitória política e a quase vitória eleitoral que obtivemos em 2012, não se repetiram em 2016. Márcio Pochmann, infelizmente, não aceitou ser candidato a deputado em 2014. Em 2016 aceitou ser candidato a prefeito, mas desta vez ficamos em terceiro lugar. O que em parte se explica pela terrível conjuntura daquele momento.
Em 2018 Pochmann aceitou ser candidato a deputado federal, mas não se elegeu. E, em 2020, todo o partido aceitava que ele fosse candidato a prefeito. Entretanto, o companheiro Pochmann mantinha uma posição ambígua: aceitava ser pré-candidato, mas não aceitava ser oficializado candidato. E, finalmente, declinou da candidatura, por razões pessoais, que consideramos compreensíveis e justas.
Depois da retirada de Pochmann, inscreveram-se 5 pré-candidatos a prefeito: dois ligados a tendência Militância Socialista (Renato Simões e o vereador Carlão); um ligado a tendência Avante (Juliano Henrique Davoli Finelli, que também integrou o governo Jonas); um ligado a tendência Novo Rumo (Casemiro dos Reis); e Pedro Tourinho, da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB).
A Articulação de Esquerda tomou posição em favor do Pedro Tourinho, por razões que foram explicadas em uma nota pública (https://blogdaguida.net.br/nossa-posicao-sobre-a-candidatura-majoritaria-do-pt-campinas/). Resumidamente, tais razões são: seu trabalho como médico e vereador, que o posiciona muito bem numa questão central da conjuntura; ter uma posição assumida em favor do Fora Bolsonaro e toda a caterva; compreender o papel das eleições municipais como o de confrontar projetos de sociedade; e defender a necessidade de unir o Partido, começando por realizar prévias para a escolha da candidatura.
Infelizmente, os outros 4 pré-candidatos foram contra as prévias. Os argumentos deles para ser contra as prévias foram analisados, por nós, em outro texto (https://pagina13.org.br/o-dia-13-de-junho-entrara-para-a-historia-do-pt-campinas/), mas o motivo é o que importa: eles sabem que no eleitorado petista, na base do Partido e na militância em geral, o nome do Pedro Tourinho é tido como o melhor nessa conjuntura. E, por isso, os quatro decidiram que a escolha será feita por um colégio eleitoral de 300 pessoas, indicadas pelas chapas que disputaram o PED 2019. Ou seja, aquele PED que teve a participação da tal Sandra Laura, que saiu e voltou e depois saiu de novo, mas que nesse interim ajudou a engordar os votos de algumas das chapas que apoiam alguns dos 4 pré-candidatos citados. A rigor, se não fossem os votos “arregimentados” pela citada Sandra Laura, o Diretório de Campinas teria aprovado realizar prévias para escolher seu candidato a prefeito em 2020. Afinal, a decisão contra as prévias foi adotada por 23 contra e 22 a favor.
A notícia que temos, agora, é que três dos pré-candidatos retiraram seus nomes e estão apoiando Renato Simões. Renato é um quadro nacional da esquerda petista, atualmente dirigente de uma tendência intitulada Militância Socialista. Tem muitos méritos e por diversas vezes estivemos do mesmo lado, por exemplo, durante o governo da prefeita Izalene Tiene.
Entretanto, também disputamos contra ele e suas posições inúmeras vezes, em âmbito local, municipal e nacional. Até porque Renato e a Militância Socialista têm posições que consideramos mais “flexíveis” – digamos assim — do que as nossas, quando se trata de fazer alianças internas ao PT.
A candidatura de Renato é apoiada por um setor da CNB (o setor vinculado aos Tatto), pela Avante, pelo Novo Rumo e por outros setores, além da própria Militância Socialista.
Pedro Tourinho, por sua vez, é um militante da CNB. Por motivos óbvios, na luta interna do Partido estamos há tempos em posições opostas. Diferente do Renato e da Militância Socialista, que não faz muito tempo esteve aliado a Pedro Tourinho em eleições internas.
A candidatura de Pedro Tourinho é apoiada por um setor da CNB, pela Democracia Socialista, pela Articulação de Esquerda e por um grupo local intitulado Resistência Socialista (apesar do nome, não é o grupo de Paulo Teixeira, cujo representante na cidade também apoia Tourinho).
Evidentemente, há setores que pretendem apresentar a disputa Tourinho x Simões como se fosse um conflito entre a CNB e a esquerda petista. Mas isto é falso.
Primeiro, porque setores da CNB apoiam Renato Simões; segundo, porque no PED de 2019, Renato e a MS apoiaram a candidatura dos Tatto à presidência do Partido de Campinas e foram beneficiados por isso, na eleição dos delegados ao congresso nacional; terceiro e mais importante, porque “ser de esquerda” na disputa concreta, ou seja, na escolha de nosso candidato a prefeito, é fazer a escolha que melhor posiciona o PT para enfrentar a direita em Campinas.
E, sobre isso, não há como ter dúvidas: na atual situação, a candidatura petista melhor posicionada, programática e eleitoralmente, para enfrentar a direita da cidade, é a de Pedro Tourinho.
São essas as informações e opiniões que queremos transmitir à militância da AE em todo o país. Por aqui seguimos engajados na luta, buscando criar as condições para que vença internamente ao PT, no encontro convocado para logo mais, o candidato mais apto para enfrentarmos a direita e, com isso, ganharmos a Prefeitura de Campinas. Ou, pelo menos, travar o bom combate.
Abraços socialistas
(*) Valter Pomar é professor da UFABC, integrante do Diretório Nacional do PT.