A eleição suplementar para o Senado da República e a política do Grupo que controla o PT/MT

Carta aberta aos PeTistas

Ao Diretório Nacional do PT
À Presidenta Nacional do PT – Deputada Federal Gleisi Hoffmann
Ao Presidente Lula

A eleição suplementar para o Senado da República e a política do Grupo que controla o PT/MT.

Companheiros e companheiras do Partido dos Trabalhadores, ousamos erguer nossas vozes como registro daquilo que consideramos mais um erro histórico do grupo que controla a maioria do PT em Mato Grosso.

Diante da eleição suplementar ao Senado da República, em face da cassação da ex-juíza Selma Arruda, nossa militância petista e simpatizantes sentiu um sopro de esperança e, num movimento espontâneo, passou a articular para que o Deputado Estadual Lúdio Cabral fosse o candidato do PT neste pleito.

Lúdio é a figura pública do PT com maior projeção política na atualidade. Seu maior eleitorado é em Cuiabá e no entorno da capital, região com maior concentração do eleitorado e, simpática às candidaturas petistas.

Entre os nomes públicos do PT, Lúdio é, atualmente, o mais experimentado e tem a trajetória eleitoral recente mais expressiva. Foi Vereador por dois mandatos na capital. Em 2012 foi candidato a prefeito de Cuiabá, levando o PT ao segundo turno e, conquistando 131.877 votos, correspondente a 42,27% do eleitorado. Em 2014 foi candidato a Governador do Estado e recebeu um total de 472.570 votos, mais de 32% dos votos válidos.

Em 2018 Lúdio foi o candidato a Deputado Estadual mais votado da chapa petista, apesar da onda bolsonarista e da escassez de recursos. Seu mandato vem ganhando projeção junto à opinião pública por sua combatividade na defesa dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras, contra o desmonte do Estado e dos serviços públicos e, na denúncia intransigente das políticas de envenenamento da população, através de projetos que beneficiam e facilitam o uso de agrotóxicos e, maximizam os ganhos do agro com renúncias fiscais bilionárias.

Na reunião do Diretório Estadual, ocorrida no dia 15 de fevereiro, quase dois meses após a cassação da Senadora Selma Arruda e da convocação de novas eleições pelo TSE, Lúdio se colocou à disposição do partido para a candidatura ao Senado, assim como fez nossa digna companheira Enelinda Scala. O grupo que dirige a tendência CNB, e é maioria no diretório estadual, por sua vez, produziu cortinas de fumaças apresentando nomes ligados à tendência, que sabidamente não seriam candidatos, com a única finalidade de interditar o debate interno.

Outro ponto da estratégia para interditar o debate interno sobre a candidatura mais competitiva, foi impedir a realização de pesquisas eleitorais. Alegando que o PT não poderia ser pautado pelos partidos interessados numa candidatura de centro-esquerda, o grupo da CNB proibiu qualquer pesquisa com a inclusão de nomes petistas, ao mesmo tempo que se recusou a articular a realização de uma pesquisa pelo Diretório Nacional para identificar qual nome petista seria o melhor e com mais chances.

Obviamente que pesquisas foram feitas (não pelo PT) e, o nome do PT com melhor desempenho não era o do grupo dirigente da CNB. Por isso, nunca se interessaram em realizar qualquer pesquisa para consumo interno das instâncias do partido para um debate sério sobre a eleição ao Senado.

Com a responsabilidade de dirigir o partido, pois possuem quase 70% dos assentos no Diretório e ocupam TODAS as secretarias executivas, o grupo que hoje controla a direção do PT se nega a implementar qualquer política que não seja do seu interesse imediato. Os abusos advindos da acumulação de poder, têm tornado esse grupo indiferente aos desgastes políticos e às consequências negativas das suas escolhas impostas ao conjunto do partido.

Ao impedir a viabilização do nome petista com melhores condições de disputa, com o objetivo de fazer das eleições ao senado a “oportunidade” de potencializar um nome de interesse, esse grupo que controla o PT sacrifica e apequena nosso partido. Os discursos produzidos por suas lideranças na reunião do Diretório (15.02) já indicavam a escolha que fariam. Ora afirmavam que tal eleição poderia não existir, ora que o PT não teria chance alguma. Anunciavam suas próprias escolhas, tentando passar a ideia de um prognóstico político.

Ao colocarem, mais uma vez, a disputa interna como determinante político, reduzem as eleições a uma via de realização dos seus desejos e interesses, beneficiando nossos adversários de classes e suas candidaturas bilionárias. Além de dispersar a possibilidade de alianças com partidos de centro-esquerda, com protagonismo do PT. E assim, em Mato Grosso, o partido segue pautado por interesses muito menores que a estatura exigida para o enfrentamento ao bolsonarismo, que destrói o país e a vida de nosso povo.

Tem sido essa a situação do PT em Mato Grosso. O discurso de unidade do grupo que detém o poder da máquina partidária, reivindica a submissão absoluta a seus medos de que o partido cresça para além do que possam controlar, afinal, sabem que o PT é muito maior que o tamanho de qualquer grupo interno.

A exemplo do que ocorre na sociedade, os que dominam o poder buscam fazer crer aos demais que seus interesses, são interesses universais, de todas as classes. Nesse caso, de todo o partido. Contra a tirania ideológica do poder de um grupo, resta-nos: a palavra.

Em 2010 vivenciamos situação semelhante. Esse mesmo grupo já tinha uma vaga na Câmara Federal, não satisfeito queria o Senado. Assim, negou a então Senadora Serys Slhessarenko o direito à reeleição. Foi um desgaste enorme que levou o partido inteiro à derrota, deixando marcas profundas até hoje. Mas, mesmo sendo os responsáveis pela crise, num surto de amnésia, ainda utilizam a figura da ex-Senadora Serys como modelo do que seja reprovável, inaceitável, execrável. Uma arma para enquadrar todos os que se rebelem contra o seu poderio. Uma clara manobra de inversão dos fatos históricos, colocando os mais fracos como ameaça à unidade, buscando omitir o abuso de poder de quem, hoje, tem absoluto controle do partido.

Em 2018, com o Presidente Lula preso, inventaram uma aliança absurda com o PL, de Wellington Fagundes. Um senador que teve atuação decisiva no golpe contra a Presidenta Dilma e hoje é base de apoio de Bolsonaro no Senado. Foi membro da Comissão de Impeachment, apesar disso o PT o apoiou na eleição estadual de 2018. Ao Diretório Nacional e à base do partido diziam que esse golpista faria a campanha Lula Livre. E assim, além de não podermos fazer a campanha Lula Livre em Mato Grosso e denunciar o golpe que sofríamos, também deixamos sem opção de voto ao Governo de Estado o eleitorado de Mato Grosso que se identifica com Lula e com o PT. Hoje, amargamos um governo alinhado com Bolsonaro na destruição do Estado e dos direitos da população.

As razões desse pragmatismo político levado às últimas consequências, em 2018, eram claras: reeleger o deputado favorito do grupo, entre os nomes mais competitivos do partido, numa disputa cujo resultado era incerto. Assim, mais uma vez, a disputa interna foi determinante para a tática eleitoral. O medo do favorito da CNB de não conseguir se eleger, levou ao boicote da candidatura do Professor Henrique Lopes, que teve estrutura negada e foi atingido por campanhas de voto útil nos bastidores do partido. Desse modo, o grupo que detém o controle do partido impediu que o PT elegesse 03 deputados estaduais e, praticou autofagia com uma das maiores lideranças do movimento sindical em Mato Grosso.

A direção do partido deve se guiar por interesses programáticos que fundam nossa sigla, especialmente em momento tão grave da conjuntura política, porém, a direção da CNB em Mato Grosso se vale de meios burocráticos para promover a disputa por assinaturas para inscrição de pré-candidaturas ao Senado, sem nunca ter se disposto ao diálogo. Desestimula quem queira discutir, argumentar, construir consenso com base em critérios e objetivos explícitos que se paute pela construção de uma candidatura que possa elevar o partido à grandeza que possui. Qualquer nome do PT seria e será apoiado por todos numa disputa majoritária, mas não podemos apoiar ou nos silenciar diante de subterfúgios ardis que, de longe, não constituem pilares históricos do PT: transparência e democracia.

Avaliamos que Lúdio optou por não pleitear a candidatura porque sabe que não adianta disputar com quem adota como único critério de decisão o fato de ser maioria e, a unidade real não pode ser construída nessa disputa. E assim, o grupo que controla o PT em Mato Grosso segue com táticas hegemonistas de interdição das outras forças. E, quem discorda dessas práticas é porque se recusa à unidade, segundo seus dirigentes.

Finalmente, é preciso dizer que a decisão lamentável desse grupo que controla a maioria no PT/MT beneficia nossos adversários e desanima nossa militância. Não obstante e, apesar de tudo, continuaremos na luta por um PT que se diferencie pela coerência programática, pelo compromisso efetivo com a classe trabalhadora e pela construção de um poder democrático real, vinculado aos princípios históricos que constituem a origem de nosso partido.

Cuiabá, 04 de março de 2020
Adriano Nunes Damasceno (PT/Cuiabá)
Alessandra Caetano Cacho (PT/Cuiabá)
Augusto Ferreira Rodrigues Filho (PT/Cuiabá)
Caius Humberto Pistoris (DM/Rondonópolis)
Carlos Alberto Saldanha (PT/Cuiabá)
Daniela Araujo Barros (PT/Cuiabá)
Delaide Ribeiro Colombo (PT/Sorriso)
Dulcimar Cavaletti (DM Sorriso)
Edivaldo Aparecido Mazolini (Presidente PT/Sorriso)
Edna Luzia Almeida Sampaio (DE/MT)
Elionai Rodrigues Chagas Witczak (DM/Sorriso)
Erich Lestat Silva Costa (PT/Cuiabá)
Evandnil Viegas de Pinho (PT/Sorriso)
Felipe Silva Ovando Do Nascimento (PT/Cuiabá)
Gabriel Afonso De Oliveira Silva (PT/Cuiabá)
Genecilia Ataídes Lacerda (PT/Cuiabá)
Hellen Cristina de Souza (DM Tangará da Serra)
Igor Marangon (DM- Sorriso)
Ireny Slavik (Presidenta DM Tangará da Serra)
Isidoro Gomes Filho (PT/Cuiabá )
Ivan Batista da Conceição (DM Rondonópolis
Jassanan Pereira de Sousa (PT/Sorriso)
Jhonatans Adriano Oliveira (PT/Cuiabá)
Juscileide Maria Kliemaschewsk Rondon
Karina Salinas Ocampos (PT/Cuiabá)
Lidianny Nascimento Fonseca (DM/Rondonópolis)
Luzia de Lurdes Lins Severo (PT/Cuiabá)
Marcia de Campos (PT/Cuiabá)
Maria Aparecida Neves (DM Sorriso)
Maria Luiza Dias Fernandes (PT/Juína)
Maria Salete Fregnani (PT/Sorriso)
Marilaine Nogueira da Luz Batista (DM Rondonópolis)
Moacir Paulo Macari (DM Sorriso)
Pedro Henrique De Oliveira Marques Vidal (PT/Tangará da Serra)
Pedro Henrique Maierhofer (PT/Arenápolis)
Rejane Maria Rodrigues Cavaletti (Vice-Presidente PT Sorriso)
Rosalinda De Oliveira Santos (PT/Cuiabá)
Sonia Nascimento de Souza (DM Rondonópolis)
Swelen Cristina De Freitas Costa Lima (PT/Porto dos Gaúchos)
Thiago Oliveira Rodrigues (DE/MT)
Vera Araújo (DM Cuiabá)
Vera Lúcia Bertolini (PT/Cuiabá)
Willian César Sampaio (DM Cuiabá)

Versão pdf do documento: https://pagina13.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Carta-aberta-à-direção-do-PT-e-à-militância-Final.pdf

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