A reeleição de Evo e as contestações da vitória

Por Karina Holanda* e Roberto Nery**

No último domingo, 20 de outubro, o povo boliviano foi às urnas para eleger seus representantes, em clima de estabilidade política e econômica. Mais de 7 milhões de bolivianos estavam aptos para votar para presidente, vice, deputados e senadores para o mandato entre 2020 e 2025, numa eleição que contou com mais de 200 observadores internacionais.

O MAS, Movimiento al Socialismo, liderado por Evo Morales, que está desde 2005 no governo do país latino, apresentou nesses anos números de expressiva redução da extrema pobreza de 38,5% para os atuais 15%, diminuição da desigualdade social e econômica, e o consistente crescimento do PIB 5% ao ano em média, quadruplicando seu valor, dados que indicam grandes processos de mudanças desde a primeira eleição de Evo, sendo desde então o país que mais cresce na região.

Os prognóstico do MAS indicava uma eleição de Evo em primeiro turno, mas dessa vez de forma mais estreita para a oposição que em outras eleições, sendo que desde 2005 foram conquistadas vitórias absolutas, com votações entre 54% e 64%. A oposição tem como principal figura o ex-presidente Carlos Mesa, que renunciou ao cargo em 2004, do Comunidad Ciudadana, tradicional partido boliviano..

Durante a campanha, Morales teve de enfrentar a insatisfação da oligarquia imperialista e das regiões leste do país marcada pelo departamento de Santa Cruz, onde Evo tem pouco apoio popular. Além disso, é preciso reconquistar os votos da parcela jovem da população e fazer a necessária transição geracional, de acordo com o sociólogo Juan Carlos Pinto, membro do governo boliviano e do MAS.

No dia 22/10, ainda durante a madrugada, foi divulgado pelo Tribunal Supremo Electoral (TSE) resultados preliminares que indicavam a vitória de Morales por 46,86%, com tendência de crescimento, contra 36,72% de Mesa, com 95,3% das urnas apuradas; o que já caracterizava uma vitória em primeiro turno do atual presidente, pois na Bolívia é necessário 50% mais um dos votos ou mais de 40% dos votos com uma diferença maior que 10% para o segundo colocado para tal.

Ainda no dia anterior, Evo falou em uma coletiva de imprensa, junto ao MAS e seus apoiadores que “iriam esperar até o último voto do campo para confirmar a vitória “, porém os votos faltantes eram provenientes de regiões onde seu partido tem maioria. E afirmou também que o Movimiento Al Socialismo elegeu uma maioria absoluta no parlamento, tanto para senadores quanto ao número de deputados, e assim vão seguir o que Evo caracteriza de “revolución cultural para cambios“.

Carlos Mesa afirmava com segurança aos seus apoiadores um segundo turno contra Evo Morales, mas após os anúncios das eleições, os convocou para se manifestar contra o que caracterizou como “fraude eleitoral e TSE instrumento servil do governo”. Mesmo antes do pleito, Mesa já declarava não reconhecer os resultados das eleições caso Evo ganhasse no primeiro turno.

Assim, na noite do dia 21, começaram manifestações contra o resultado principalmente vinda das regiões leste da Bolívia, como Santa Cruz, onde, existe maior empresariado, que não apoiam um governo com características populares e de distribuição de renda tal qual o de Evo Morales, que ostenta a menor taxa de desemprego da América do Sul, registrando apenas 4.5%.

Os confrontos continuam nas regiões da capital administrava La Paz onde o TSE faz o anúncio oficial das eleições, no departamento de Cochabamba e Sucre onde grupos opositores promovem queimadas e bloqueios. Até o momento a polícia boliviana não entrou em confronto com os manifestantes. Porém, ainda é incerto o cenário de enfrentamento e provocações e como se dará o fim do processo eleitoral, com as contagens manuais: se para um contexto violento incitado pela oposição ou para um desfecho pacífico e democrático.

* Karina Holanda é graduanda de Medicina na Universidade Cristã da Bolívia, em Santa Cruz de la Sierra, militante do PT e da JAE

** Roberto Nery é graduando de Ciências do Estado na UFMG, militante do PT e da JAE

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