Por Valter Pomar (*)
Primeiramente, dois convites.
Nesta quarta-feira 8 de setembro teremos dois momentos para debater o ocorrido neste dia 7 de setembro e suas implicações.
Seguem os cards que divulgam ambas atividades.
Antecipo algumas opiniões, preliminares.
1/A guerra continua. Bolsonaro não está derrotado, tem capacidade de mobilização e disposição de luta. E se movimenta em vários terrenos simultaneamente, vide a “convocatória” do tal “conselho da República”.
2/Erram os que minimizam a demonstração de força do bolsonarismo. Aliás, chega a ser engraçado: ontem havia gente recomendando que não devíamos sair de casa, hoje tem gente falando que o cavernícola é um tigre de papel.
3/Bolsonaro não deve ser subestimado, nem como golpista, nem como adversário eleitoral. Quem cometeu este erro em 2018 não deveria reincidir nele agora, por exemplo subestimando a importância de lutar pelo seu impeachment imediato.
4/A defesa do impeachment não pode estar condicionada a cálculos eleitorais. O afastamento imediato de Bolsonaro é uma questão de “saúde” pública, em todos os terrenos: sanitário, social, econômico, político, cultural e de soberania.
5/A extrema-direita bolsonarista é uma força política relevante, tem base social, força militar e construiu um “discurso” que precisa ser compreendido, sob pena de fracassarmos no seu enfrentamento, não apenas agora, mas no futuro imediato.
6/O alvo imediato de Bolsonaro é o STF, mais exatamente o ministro Alexandre de Moraes. Mas o que está em jogo vai além disso: Bolsonaro quer impedir que façam com ele algo parecido ao que fizeram com Collor, abrindo assim espaço para uma terceira candidatura – da direita gourmet – que supostamente seria capaz de derrotar Lula.
7/O que farão a direita gourmet e o centrão? Se continuar prevalecendo a linha do “diálogo” e do “apaziguamento”, Bolsonaro seguirá na operação “golpe em prestações”, que tem como objetivo continuar presidente depois de 2022, custe o que custar.
8/A oposição de esquerda precisa lembrar que 2022 não está garantido – sob nenhum aspecto – e tudo depende do que está ocorrendo agora, em 2021.
9/Não devemos nos iludir acerca da combatividade da direita gourmet e muito menos acerca do “centrão”: se depender deles, quase tudo pode acontecer, inclusive nada.
10/Aliás, devemos estimular que a oposição de direita faça seu próprio ato, convocando sua tropa com seu discurso próprio, demonstrando qual sua força efetiva. Há diversos motivos pelos quais as vezes é melhor marchar separados. Isto, é claro, se estiverem mesmo dispostos a marchar…
11/Por estes e por outros motivos, é preciso ampliar a mobilização autônoma da oposição de esquerda, por exemplo convocando nova mobilização pelo Fora Bolsonaro para as próximas semanas. Sempre lembrando que nosso objetivo não é apenas derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo, mas também queremos derrotar o neoliberalismo que a direita gourmet apoia enfaticamente.
12/Os fatos demonstraram que foi absolutamente correto ter mantido o Grito dos Excluídos pelo Fora Bolsonaro. Claro que há gente que acredita que “contra argumentos não há fatos”. Mas os fatos demonstraram que estavam corretos todas e todos que foram às ruas e também quem – não podendo ir às ruas – apoiou política e moralmente os que escolheram se mobilizar.
13/Se o bolsonarismo tivesse ido sozinho às ruas, o balanço de hoje seria muito diferente do que estamos podendo fazer. Lutar sempre vale a pena. E não se luta apenas quando tudo está a nosso favor. Aliás, correlação de forças favorável e vitórias não caem do céu, tem que ser construídas. Felizmente, como dizia o David Capistrano, a esquerda brasileira possui uma militância de base vietnamita.
(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT