Baleia, Lira e Cunha

Por Valter Pomar (*)

Baleia Rossi e Arthur Lira

Nesta segunda-feira 4 de janeiro de 2021, a bancada do PT na Câmara dos Deputados deve se reunir para debater se apoiará desde já Baleia ou se lançará candidatura para disputar o primeiro turno da eleição da presidência da Câmara dos Deputados.

Havendo segundo turno, já se sabe que a disputa será entre Baleia e Lira. E nesse caso, já se sabe também que a esmagadora maioria da bancada petista vai de Baleia, para derrotar Lira (e Bolsonaro).

Sendo assim, que perderíamos lançando candidatura própria no primeiro turno?

Provavelmente perderíamos espaços mais qualificados na Mesa. Digo “provavelmente” porque até que se apure, nada é garantido.

Para quem defende a importância “estratégica” destes espaços e acha que a eleição é interna corporis, é óbvio que vale a pena votar em Baleia desde já, pois isto aumentaria a chance de conquistarmos tais espaços.

Já para quem sabe que o debate é também externa corporis e tem uma visão mais digamos realista acerca do “poder” que emana dos cargos da Mesa, excetuada a Presidência, os “espaços” não parecem argumento suficiente para abrir mão de termos candidatura própria no primeiro turno.

Penso que é por isso que alguns parlamentares têm utilizado como argumento para decidir nossa tática em 2021, lembrar o que ocorreu em 1 de fevereiro de 2015.

Naquele dia Eduardo Cunha (PMDB-RJ) teve o apoio do PMDB, PP, PTB, DEM, PRB, SD, PSC, PHS, PTN, PMN, PRP, PEN, PSDC e PRTB. Isso lhe garantia, em tese, 218 votos. Mas ele recebeu 267 votos, ou seja, 49 votos a mais. Se tivesse tido 257, teria ocorrido um segundo turno.

Naquele mesmo dia, Arlindo Chinaglia (PT-SP) teve o apoio do PT, PR, PSD, PDT, PROS e PC do B. Isso lhe garantia, em tese, 180 votos. Mas ele recebeu 136 votos. Ou seja, 44 votos a menos.

E havia outras duas candidaturas.

Júlio Delgado (PSB-MG) tinha o apoio de PSB, PSDB, PPS e PV. Isso lhe garantia, em tese, 106 votos. Mas ele recebeu 100 votos, ou seja, 6 votos a menos.

Chico Alencar (PSOL) teve 8 votos. Como o próprio PSOL tinha 5 votos, Chico Alencar recebeu 3 de outros partidos.

Deixo para os experts na história da Câmara o pedido para que respondam as seguintes perguntas:

1/se a disputa tivesse ido para o segundo turno, o provável vencedor teria sido Cunha ou Arlindo? Cunha ganharia em qualquer caso?

2/se o PT tivesse apoiado um nome de outro partido, teria sido provável naquelas circunstâncias derrotar Eduardo Cunha ou qualquer outro nome alinhado com a oposição hard? Em caso positivo, quem seria e de que partido?

3/havia ou não havia, nas bancadas da esquerda e do próprio PT, quem para evitar uma derrota para Cunha defendesse… apoiar Cunha?

Faço estas perguntas, porque não considero trivial a comparação entre 2015 e 2020.

O congresso de 2015 era majoritariamente oposicionista. O congresso de 2021 é majoritariamente governista.

Em 2015 o governo era de Dilma. Em 2021 o governo é de Bolsonaro.

Em 2015 o PT era partido de governo. Em 2021 somos oposição.

Em 2015, a alternativa era ou eleger um apoiador do governo, ou eleger um oposicionista que podia ser mais ou menos hard.

Em 2021, a alternativa é entre dois tipos de governismo: o neoliberal centrão-bolsonarista e o neoliberal eventual-bolsonarista.

Segundo Pimenta, a tática do PT (candidatura própria no primeiro turno) teria contribuído em 2015 para um hard ganhar. Pode ser, mas penso que a conjuntura em 2015 era propícia a vitória de Cunha, qualquer que fosse a tática do PT.

Já em 2021, o PT lançar uma candidatura própria no primeiro turno ajudaria Lira a ganhar?

No que diz respeito a 2021, pelo menos até agora eu não consegui entender a lógica matemática, nem a lógica política do argumento, pois se Lira (leia-se, o governo) tem desde já votos suficientes para vencer no primeiro turno, pouco importa o que o PT faça ou deixe de fazer.

Aliás, se fosse mesmo líquida e certa a vitória de Lira no primeiro turno, isto valeria como um argumento a mais para “marcar posição” ao invés de afundar junto com o Baleia.

Por tudo isto, espero que a bancada decida lançar candidatura própria, ao menos para demarcar nossas posições, mesmo que ao final prevaleça o voto em Baleia.

Que em 2015 deve ter votado em Cunha, assim como Lira e a maioria de golpistas que há nesta Câmara.

(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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