Desafios e tarefas da UNE

 

Página 13 divulga artigo de Lucas Reinehr, militante petista e diretor de Assistência Estudantil da UNE, sobre os desafios e tarefas do movimento estudantil no próximo período. O artigo foi publicado originalmente na edição 202 do Jornal Página 13.

 

Desafios e tarefas da UNE

 

O golpe à presidenta Dilma, a prisão política de Lula, as eleições fraudadas e a implementação de um projeto ultraliberal para o Brasil e outros países da América Latina marcam um período repleto de desafios para a esquerda brasileira. A educação, que nos últimos anos teve diversos avanços em função dos governos petistas, mais uma vez, se encontra na mira das elites e dos reacionários. E mesmo sendo a principal inimiga do governo Bolsonaro, a educação, e principalmente os estudantes, demonstraram ser um importante elo de resistência e organização da luta de massas.

Nesse contexto, a União Nacional dos Estudantes, entidade histórica do movimento estudantil que em 2017 completou 80 anos, cumpre um papel fundamental na mobilização social e na retomada de um projeto popular de país. Assim como em outros períodos históricos em que protagonizou diversas lutas, é responsabilidade da UNE mobilizar o descontentamento e colocar a população nas ruas para virar o jogo.

O 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes elegeu uma nova diretoria para a entidade, que nos próximos dois anos, terá tarefas fundamentais, como a retomada do trabalho de base, a politização dos estudantes e a construção de uma intensa agenda de mobilizações contra os retrocessos. A Articulação de Esquerda, que hoje cumpre o importante papel de defender a construção de um campo de oposição petista à direção majoritária da entidade, estará representada na diretoria de Assistência Estudantil. Como futuro diretor da UNE pela tendência, cabe a mim fazer uma profunda avaliação da realidade, das necessidades e dos desafios da UNE no próximo período. Portanto, destaco neste texto algumas das principais tarefas que acompanharão a Articulação de Esquerda nesses dois anos.

A juventude hoje passa por um momento de incertezas em relação ao seu presente e futuro, porém, é pequena a parcela de jovens que já se deu conta disso. Há quem diga que ser jovem é ser essencialmente revolucionário, entretanto, a realidade tem nos provado o oposto. A implementação de uma forte política neoliberal no Brasil, a partir dos anos 90, contou não apenas com a interferência nefasta na economia, mas também com a privatização da vida e a tentativa de por fim aos laços de solidariedade existentes entre o povo. A juventude de hoje cresceu vendo a vida melhorar sob os governos petistas, ao passo que também via a política e os partidos sendo criminalizados. O resultado disso é uma grande população de jovens distantes da política e que não vê correspondência entre as mudanças nas condições de vida e o governo. Não existe sonho ou utopia, apenas a vontade individual de seguir seu próprio caminho. Portanto, pensar na organização da juventude e dos estudantes hoje passa por combater o fatalismo neoliberal e retomar a capacidade de mobilizar os jovens e a categoria estudantil pela retomada de um projeto coletivo e popular.

A União Nacional dos Estudantes, ao longo de sua história, possuiu uma capilaridade e presença muito maior nas universidades brasileiras. Nos últimos anos, através do distanciamento da base e de uma postura imobilista encampada pela direção majoritária, deu-se início a uma crise de legitimidade e representatividade na UNE. Ou seja: a União Nacional dos Estudantes perdeu força e organicidade na categoria estudantil e no imaginário popular. Apesar disso, e das tentativas de fundar entidades paralelas, como a Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL), a UNE segue sendo a entidade máxima, histórica e que nesse período se mostra mais uma vez como uma ferramenta necessária para incidir nos rumos do país. Para isso, é preciso que a UNE passe por um longo processo de retomada do trabalho de base, de rearticulação da rede do movimento estudantil – com as entidades de base e entidades gerais -, e que coloque como prioridade a presença nas universidades e no interior, não apenas nas metrópoles. O movimento estudantil, para alcançar as vitórias que queremos, precisa ser ubíquo e disputar diariamente os corações e mentes da população.

No que diz respeito às minhas tarefas enquanto representante da AE no próximo período, ressalto algumas principais: fortalecer a legitimidade da UNE, manter o vínculo com a base do movimento estudantil, resgatar o acúmulo e encampar lutas em defesa da Assistência Estudantil, fortalecer a unidade da juventude petista para dentro da entidade, manter e fomentar vínculos com o movimento estudantil dos demais países latino-americanos e retomar a importante construção das executivas de curso – parte essencial da rede do ME.

Ser diretor da UNE implica ter legitimidade para ocupar tal tarefa. Portanto, manter o vínculo com a universidade na qual estudo e com meu local de atuação é uma responsabilidade crucial na tarefa de representar a UNE. E por representar a União Nacional dos Estudantes, é importante compreender que, diferente do que fazem algumas forças do movimento estudantil, meu papel é legitimar a entidade para fortalecê-la enquanto frente de massas. É papel da UNE – e seus representantes – ser o ponto de interlocução com as massas estudantis.

A pasta de assistência estudantil tem sido não apenas ocupada, mas construída pela Articulação de Esquerda em diversas gestões. Em um momento de desmonte da educação, com a tentativa de implementar o Programa Future-se, que coloca as universidades na mão da iniciativa privada, garantir estratégias que façam a defesa da assistência e da permanência dos estudantes nas universidades é um dever de todo o movimento estudantil. Como diretor de assistência estudantil, uma de minhas tarefas fundamentais, junto aos outros responsáveis pela pasta, é garantir que essa pauta tenha centralidade nas lutas e mobilizações de rua que visam defender a educação pública. Defender a assistência estudantil é defender a permanência dos filhos e filhas da classe trabalhadora nas universidades. É defender o legado do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) e criar condições para que o acesso e a permanência nas universidades voltem a ser ampliados e democratizados.

O 57º Conune serviu para mostrar que, unida, a Juventude do Partido dos Trabalhadores é a segunda maior força partidária do congresso. Ainda que as demais correntes do partido prefiram compor o campo majoritário e ceder ao pragmatismo e à tentativa de “frente ampla” dirigida pela UJS, a Articulação de Esquerda seguirá defendendo a construção de um campo petista de oposição à majoritária. A juventude do maior partido de esquerda da América Latina deve ter compreensão da realidade e não se furtar de sua tarefa histórica que é, sobretudo nesse momento, reconquistar a União Nacional dos Estudantes em defesa da educação, do legado dos governos petistas, em defesa da liberdade do companheiro Lula, contra a reforma da previdência e pela retomada de um projeto soberano e socialista de país. É papel da JPT deixar claro que a UNE cumpre um papel que vai além da defesa da educação: a entidade deve incidir também na luta pelas reformas estruturais e contra os ataques aos direitos da classe trabalhadora.

Compreender o que acontece na conjuntura política hoje passa por compreender que, além do Brasil, outros países latinoamericanos estão na mira do imperialismo e da subserviência das elites locais. Portanto, uma das tarefas fundamentais incumbidas a mim enquanto representante da UNE é a de continuar fortalecendo nossas relações com o movimento estudantil argentino, uruguaio, paraguaio e também expandí-las para os demais países latinoamericanos. É papel do movimento estudantil reforçar a identidade latina, compreender profundamente a nossa realidade e encampar lutas massivas e integradas contra o imperialismo que assola nosso território.

Retomar o funcionamento de toda a rede do movimento estudantil também é uma tarefa crucial para criar maior capilaridade e alcançar possíveis vitórias. Um exemplo disso são as executivas de curso, nas quais nós da AE por anos temos incidido e buscado fortalecer. Portanto, fomentar a participação estudantil nas executivas e federações é fundamental para a construção de um movimento estudantil presente e que dê conta de organizar os ataques à educação e às diversas áreas do conhecimento.

Os tempos são de guerra e os desafios são imensos. Construir a União Nacional dos Estudantes sob um governo fascista, conservador e ultraliberal é um desafio histórico que exigirá luta, organização, e, sobretudo, coragem. Ainda que a política seja criminalizada, que boa parte da população brasileira tenha cedido ao fatalismo e que a juventude esteja desorientada, não há outra alternativa senão lutar. Para os estudantes, que possuem o dever de se colocar em defesa dos nossos direitos e pela construção de outra sociedade, resta a máxima de Frei Betto: deixemos o pessimismo para dias melhores.

Quem confia, na luta não se entrega. UNE Para Tempos de Guerra!

 

Lucas Reinehr é coordenador do DCE UFSM e Diretor de Assistência Estudantil da União Nacional dos Estudantes

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