Dilema cavernícola

Por Valter Pomar (*)

A eleição presidencial não está decidida. Lula está com a vantagem, mas isso ainda precisa ser confirmado nas urnas. E como a diferença será pequena, terá grande importância a movimentação das próximas horas.

O que o cavernícola ainda pode fazer, para tentar ganhar? “Raspar o tacho” do eleitorado indeciso? Aumentar a produção de fake news? Sabotar o deslocamento de eleitores? Tumultuar as seções de votação? Colocar em dúvida o anúncio dos resultados?

Algumas dessas operações já estão em curso.

Outras operações – por exemplo, auto-atentados e/ou atentados reais contra pessoas chave da campanha adversária- dependem em parte de um cálculo estratégico que a cúpula do bolsonarismo deve estar fazendo nesse exato momento.

A necessidade de calcular deve-se a dúvida (deles) sobre o que fazer a partir da noite de 30 de outubro.

A saber: não importa se for por uma maioria de 1 voto, se a extrema-direita tiver êxito no segundo turno, de imediato o cavernícola dará mais e mais passos em direção a um regime neofascista. 

Mas…. e se estas operações de última hora não tiverem êxito? E se, apesar ou por causa do que eles façam, ainda assim Lula vencer?

Neste caso, a depender do que tenha sido feito para tentar vencer, o cavernícola não terá como recuar e será obrigado a se insurgir contra o resultado, numa edição canarinho e ampliada do ataque trumpista contra o Capitólio. E frente a isso, tampouco nós poderemos recuar em defesa da soberania popular.

Por medo deste cenário de confrontação (sim, eles têm medo de nós!), existe ao redor do cavernícola quem – invertendo a fórmula clássica – defenda ser melhor seguir, nas próximas horas, “não tão devagar que pareça covardia, nem tão rápido que pareça provocação”.

Os defensores desta atitude são os mesmos que argumentam ser melhor, frente a uma possível vitória de Lula, deixar de lado qualquer tipo de “operação Capitólio” e adotar nos próximos anos uma tática mais “sofisticada”, combinando ações fora-da-lei com uma oposição institucional mais ou menos radical.

Aos preços vigentes às 12h34 de sábado 29 de outubro, acho que o cavernícola optará por este segundo caminho, como aliás já cantou a bola o tantas vezes sincericida Paulo “Granada” Guedes.

Há vários motivos para esta segunda opção prevalecer, entre os quais o fato do cavernícola saber que existe – do lado oposto – muita gente que prefere os riscos decorrentes de um péssimo acordo aos riscos decorrentes de travar uma boa luta.

Atitude essa que contribuiu para que sigam impunes, até hoje, tanto os crimes da ditadura quanto os da privataria tucana.

Como não somos a favor do quanto pior melhor, esperamos que a extrema direita acate a vitória de Lula. Mas pelo mesmíssimo motivo, esperamos que um futuro governo Lula contribua, no limite de suas forças e “como nunca antes na história desse país”, para que a lei seja cumprida e os criminosos sejam punidos.

Mas até para que isto possa acontecer, será preciso primeiro converter nossa maioria nas pesquisas em maioria nas urnas!

Por isso, sigamos em campanha até o último segundo!

(*) Valter Pomar é professor e membro do diretório nacional do PT

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