Ecossocialismo: a sustentabilidade de esquerda

Setorial de Meio Ambiente do PT

Por Rafael Tomyama e Geraldo Vitor

O Encontro Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT aconteceu em São Paulo, no final de semana de 21 e 22 de outubro próximo passado, em paralelo com outros encontros setoriais petistas que avermelharam a capital paulista no mesmo período. Na noite do primeiro dia, houve a abertura conjunta numa grande plenária com a presença de Lula no ginásio do Sindicato dos Bancários. A fala do Lula reafirmou a linha de seus pronunciamentos recentes e fortaleceu o papel do PT atuante junto às lutas dos movimentos sociais.

Com 82 delegados(as) credenciados(as), vindos de 8 estados e do Distrito Federal, o Encontro teve início desde a manhã de sábado, tratando inicialmente dos informes dos encontros estaduais, até a obtenção do quórum de presentes, quando se deu a aprovação do regimento. O domingo ficou reservado para os debates de teses e apresentação de candidaturas e chapas.

As discussões em geral reprovaram o descalabro ambiental promovido pelo governo golpista de Temer. Entraram na ordem do dia as lutas contra as medidas de flexibilização da legislação ambiental, em troca de apoio político no Congresso e incapacidade de cumprimento das metas internacionais de redução das emissões de poluentes, para favorecer a super acumulação do capital multinacional e a entrega do patrimônio do país ao imperialismo ianque.

Causou maior preocupação, no entanto, a desconstrução do acúmulo das formulações ambientalistas no âmbito do próprio PT. A partir da leitura de trecho das resoluções do último Congresso nota-se a apropriação errônea da (já atrasada) concepção de “desenvolvimento sustentável”, o que denota, por sua vez, a evidente insuficiência da compreensão majoritária de dirigentes partidários para lidar com a pauta ambiental.

A Articulação de Esquerda organizou-se em torno da tese nacional “Com Lula, por um Brasil Sustentável” e reafirmando a visão ecossocialista, apresentando a chapa “A Esperança É Verde” e o nome do Geraldinho, do PT-MG. Importante recordar que nosso candidato foi acordado como secretário nacional da vez anterior e foi impedido de assumir na gestão encerrada, por conta das manobras burocráticas e políticas do campo majoritário, que sufocaram e desmontaram a organização do setorial. Este mesmo grupo que apareceu no Encontro com a cara-lisa, querendo propor acordo de “rodízio” para arrotar uma “unidade” artificial.

No debate político, nos contrapusemos à visão dita “sócio-ambientalista” que oscilava entre um mal disfarçado desenvolvimentismo e um amontoado de pautas desarticuladas entre si. Novamente, como ocorreu em encontros anteriores, também nos contrapomos a setores oportunistas, que na verdade não têm compromisso de construção cotidiana, mas pretendem apenas utilizar o setorial como forma de autopromoção pessoal ou trampolim para sabe-se-lá-o-quê.

A proposta de “cala-boca” da CNB

O Encontro havia iniciado com cinco candidatos a secretário e igual número  de chapas a fim de compor o coletivo. A proliferação de alternativas não deixava de refletir o desmonte do setorial patrocinado pela CNB e a desarticulação das forças políticas no período anterior até a preparação do encontro.

Na votação aberta das teses ficou evidente a adesão majoritária à do PTLM / CNB com cerca da metade dos votos de delegados/as presentes. A nossa tese da AE e aliados teve cerca de vinte votos. A tese do atual secretário, Gilney Viana (MS) teve apenas cinco. As lideranças da maioria então apresentaram a proposta de um “acordo” para revezamento no cargo de secretário, cabendo à chapa deles os dois primeiros anos e os dois seguintes à nossa chapa.

As delegações reunidas com a nossa chapa ponderaram que tal entendimento nos levava a conciliar com o oportunismo que sempre denunciamos, além de nos colocar novamente na mesma condição de substituição da gestão anterior, nos obrigando desta vez a confiar na própria CNB, que da outra vez sabotou o acordo. Além disso, a proposta trazia o “condão” de fazer de conta que as sérias divergências entre as nossas teses ficassem escondidas sob o tapete da “unidade”, o que só interessaria a eles (já que deveriam ter maioria).

Na plenária final, após entendimentos e desistências restaram quatro candidatos e três chapas, que representavam três campos distintos. De um lado, os oportunistas da CNB se aliaram por suas conveniências em torno da candidatura de Nilto Tatto. De outro, nós da AE, com a adesão da DS e MS, construímos o entendimento comum e resolvemos ir até o fim com o Geraldinho, defendendo de cabeça erguida os fundamentos ecossocialistas dos quais nunca abrimos mão. O companheiro Fidelis, ligado à Mensagem com apoio da Novo Rumo representava um terceiro campo mediado e independente.

No resultado final, a CNB teve pouco mais de 50% dos votos. Chegamos a 30 votos e o campo do Fidelis cerca de 12, indicando uma composição equilibrada de dez integrantes do Coletivo na seguinte distribuição: CNB: 5 (+ secretário); AE (e aliados): 4 e Fidélis: 1. Para quem subestimava nossa capacidade de organização e intervenção qualificada no setorial, acenando com o fato consumado do “já ganhou” teve que engolir um belo desempenho da AE.

Agora, temos adiante o desafio dar continuidade ao processo de discussão e articulação política nacional, evitar que a secretaria se torne uma mera sucursal de mandato e potencializar este instrumento para agir concretamente nas lutas sociais de resistência contra o golpe e pela construção de um novo projeto de esperança sustentável no PT com Lula para salvar o Brasil e o planeta.

Não é nem será fácil, mas ninguém achou que seria.

Rafael Tomyama (CE) e Geraldo Vitor (MG) são militantes ambientalistas da tendência petista Articulação de Esquerda

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