Lições das urnas: combater a hegemonia de direita, resistir e avançar na luta democrática e popular

Por Antônio Augusto (*)

Resultados eleitorais são sempre importantíssimos.

Como disse Lenin, refletem o estado de espírito das massas.

Se olharmos os resultados, tanto do 1º quanto do 2º turno, vemos uma hegemonia de direita no país.

É preciso combater a ficção, espalhada pela mídia de direita, Rede Globo à frente, de que o “centro democrático” se fortaleceu, chamando desta maneira desde velhos partidos de direita, partidos golpistas como o DEM e o PSDB, a siglas de aluguel, por exemplo, o PSD.

A Globo quer um plano B pós-Bolsonaro: a mesma política econômica antipopular de Bolsonaro na eventualidade do pós-bolsonarismo.

Toda a direita somada, incluída a extrema-direita explicitamente bolsonarista, somou mais de 70% dos votos válidos no 1º turno, resultado a refletir hegemonia eleitoral e política de direita.

A esquerda teve avanços importantes em relação às eleições municipais de 2016, como mostra sua presença na disputa de 2º turno, com grandes votações, por exemplo, em 4 importantes capitais: São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belém.

Das quatro, só vencemos em Belém, com o bravo deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL) – foto -, que derrotou numa eleição apertada um delegado truculento.

Além de Belém, vencemos em mais 4 cidades do total de 18 em que a esquerda disputou o 2º turno. Houve 2º turno em 57 cidades.

Foram vitórias com a garra da esquerda:

Em Juiz de Fora (MG), com a ótima deputada federal Margarida Salomão (PT).

Em Contagem (MG), cidade de trabalhadores, outra companheira guerreira, Marília Campos (PT) conseguiu vitória maiúscula, contra o poder econômico, o “antipetismo” e as “fakes news”. Ela começou sua vida política como dirigente estudantil, e foi também sindicalista, presidenta do Sindicato dos Bancários de Belo Horizonte.

Nossas outras duas vitórias foram no ABCD velho de guerra, a volta do prefeito petista Felippi a Diadema, e, muito especialmente, a campanha militante e heroica do companheiro Marcelo Oliveira (PT), em Mauá.

Margarida Salomão

Marília Campos

 

PAES E CRIVELLA PERDERAM PARA

SOMA DA ABSTENÇÃO, NULOS E BRANCOS

O Rio de Janeiro foi um dos maiores exemplos (junto com Recife) aonde leva o divisionismo dos partidos de esquerda (PT, PSOL, PCdoB) por interesses eleitoreiros. A capitulação do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) levou-o a não concorrer, numa decisão motivada por interesses de carreira política pessoal.

Tivemos no 2º turno um candidato de direita e outro de extrema-direita. A soma da abstenção, com os nulos e brancos, ultrapassou tanto a votação individual de Paes (DEM) como a do picareta religioso Crivella que buscava a reeleição. Mostra inequívoca de como o eleitorado progressista carioca ficou órfão nesta eleição.

Em Recife assistimos a um espetáculo deprimente: o PCdoB apoiou o golpista João Campos (PSB), que fez uma campanha de “fake news” no estilo bolsonarista, com histeria “antipetista”, contra a candidata democrática e popular Marília Arraes (PT). É o cúmulo do cinismo e do suicídio político o PCdoB comemorar a vitória de Campos (também cabo eleitoral de Aécio Neves em 2014). Isso é semelhante a “comemorar” a vitória de Sebastião Melo (MDB), em Porto Alegre, que fez igualmente uma campanha de “fake news”, “antipetista” e anticomunista.

O PCdoB, dos 3 partidos de esquerda, o que sofreu perdas eleitorais pesadas em número de votos, deve ver o que quer da vida: seguir unido aos partidos populares, como aconteceu em Porto Alegre, onde o vice de Manuela, era Miguel Rosseto, da esquerda petista; ou insistir no suicida oportunismo de direita praticado em Recife, ou na campanha sem votos do deputado federal Orlando Silva, no 1º turno paulistano, ou na dupla derrota (no 1º e no 2º turno) do governador Flávio Dino em São Luís.

 

AS DUAS TÁTICAS DA OPOSIÇÃO:

UMA DEMOCRÁTICA, OUTRA LONGE DISSO

Há duas táticas na oposição a Bolsonaro. Uma democrática e popular, outra liberal e burguesa, representada centralmente pelo cirismo.

Ciro Gomes fala em desigualdade social como maior problema do Brasil, mas se aliou agora nas capitais do Nordeste ao DEM, (interessadíssimo como todos sabemos, em “combater a desigualdade social), foi um dos entusiastas da campanha golpista do “socialista” João Campos em Recife, e é um dos instigadores do “antipetismo” em todos os momentos.

A outra tática é a única realmente democrática, a tática democrática e popular. Apesar de eleições municipais não serem tão politizadas quanto eleições nacionais; ocorreram, dentro do quadro geral de derrota, avanços não desprezíveis das forças de esquerda. Há tendência a voltarmos a nossa fortaleza natural, o eleitorado dos grandes centros, como evidenciam grandes votações nossas em São Paulo, Porto Alegre, Recife, Belém, e em outras grandes cidades.

O “antipetismo”, este espantalho golpista contra qualquer ideia democrática e progressista, obteve vitória importante ao PT não ter eleito o prefeito de nenhuma capital, e ter sofrido derrotas no 2º turno em outras cidades importantes como Guarulhos, Feira de Santana ou Vitória da Conquista.

Também aqui há motivo de reflexão para a direção nacional do PT.

O que quer da vida? Seguir dizendo que o período 2003-2016 foi um período dourado de sonhos realizados? A direção nacional seguirá dando apoio a candidatos golpistas e bolsonaristas como ocorreu em Queimados (RJ)?

É preciso fazer a necessária autocrítica pela esquerda.

Só com uma política genuinamente democrática e popular estaremos à altura de ganhar força popular, combater o enorme descrédito da política, varrer o bolsonarismo e chegar ao governo para efetuar as transformações progressistas necessárias para melhorar a vida do povo e defender o Brasil da destruição neoliberal.

Está claro que “chegar ao governo” para pôr Palocci ou Joaquim

Levy no Ministério da Fazenda; nomear Crivella ministro, ou ter uma prática de governo de acordo com a “máxima” de que só uma pessoa jovem, imatura “pode ser de esquerda” (como disse o então presidente Lula), contribui para nos levar aonde chegamos: ampla despolitização da população, hegemonia de direita, golpe de Estado, ascensão de Bolsonaro.

Temos que combater o divisionismo com todas as forças, combater os falsos atalhos da oposição liberal burguesa (representada centralmente pelo cirismo), defender e lutar em todos os momentos como genuínos democratas na oposição ao retrocesso bolsonarista e neoliberal.

Fora da mais completa unidade democrática e popular não há salvação.

(*) Antônio Augusto é jornalista


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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