Miséria do capitalismo no país: politicagem serve para perpetuar extrema injustiça social no brasil

Por Antônio Augusto (*)

O Ministério Público Eleitoral denunciou o vereador Felipe Michel (PP-RJ) pela distribuição de cestas básicas a taxistas nas últimas eleições. Sua inelegibilidade é pedida nos próximos 8 anos.

Felipe Michel se autodefinia como “um soldado do Crivella”, prefeito carioca recentemente afastado e réu acusado de corrupção.

Ex-jogador de futebol, o vereador iniciou a vida pública em 2013, vinculado a programas governamentais do secretário de Transportes do ex-prefeito carioca Eduardo Paes, o magnata Carlos Osório.

Ligado a Fetranspor, o órgão dos empresários de ônibus no estado do Rio, Carlos Osório também nunca se inibiu no uso da máquina pública. Candidato a prefeito do Rio, em 2016, pelo PSDB, entre irregularidades cometidas, promoveu reuniões eleitorais em teatros públicos do município.

Antes fora secretário-geral dos Jogos Pan-Americanos de 2007, jogos que demoliram o Maracanã pela primeira vez para posterior reconstrução. Depois nova demolição e nova reconstrução para a Copa de 2014. Farra com o dinheiro dos impostos, apropriados pelo grande capital.

O conto da Carochinha da Rede Globo, repetido à época dia e noite, de “legado olímpico”, “legado da Copa”: na real, obras faraônicas sem licitação e com mega-sobrefaturamentos. Legado da corrupção e de mais bilhões nas contas dos bilionários.

 

SECRETARIAS DE GOVERNO

SÃO FEUDO DA FETRANSPOR

As secretarias de Transportes tanto do Estado do Rio, quanto da prefeitura carioca, são na prática indicações da Fetranspor. O fortíssimo interesse empresarial dos lucros do setor vem sempre em primeiríssimo lugar, em detrimento do interesse público, com altas tarifas e fiscalização zero dos governos.

Número alegado de “bilhetes-únicos” fornecido ao Estado pelo próprio favorecido, a Fetranspor. Idêntico ao que ocorre no Banco Central, onde os banqueiros determinam a taxa de juros. Comparado a isso, a raposa no galinheiro não passa de reles amadorismo.

Osório era vinculado ao PMDB, passou depois ao PSDB. Felipe Michel elegeu-se vereador pela primeira vez em 2016 pelo PSDB, no partido do seu chefe de então, Carlos Osório. Transferiu-se durante o mandato para o PP. Carlos Osório elegera-se antes deputado estadual pelo então PMDB, seguiu para o PSDB.

O que menos interessa a políticos de direita a serviço do capital, e do próprio carreirismo pessoal, como os citados Osório, ou Michel, integrante do baixo clero, é um partido político como instrumento da democracia.

Falam em “gestão”, com o povo sempre de fora. É deles a dança das cadeiras nas siglas partidárias de direita, o reinado da politicagem contra a política, único modo do povo virar o jogo. São militantes da desmoralização da política e do golpismo.

Eduardo Paes (DEM), agora reeleito para a prefeitura do Rio, ora está no PFL (DEM), ora no PMDB (MDB). Mas isso pouco lhe importa, nem menções ao partido aparecem nas suas campanhas, mas apenas o número a ser digitado nas urnas. Tais partidos vivem mudando as siglas para confundir e enrolar o eleitor.

O PP, nome de fantasia dos cacos da antiga Arena (sigla subserviente da ditadura militar), foi o partido mais envolvido em corrupção eleitoral.

Também não por acaso atrai parte expressiva da podridão na política, como o desclassificado Jair Bolsonaro, que passou 30 anos neste antro do PP, de 1988 a 2018.

Eduardo Paes, prefeito do Rio, ora no DEM, ora no MDB

 

MISÉRIA E DESEMPREGO SE ALASTRAM PARA

DONOS DA ECONOMIA CONCENTRAREM RENDA

Os grandes problemas nacionais estão no que o capitalismo impõe ao Brasil. Em artigo neste sábado, 26 de dezembro, na “Folha de S. Paulo, o economista Guido Mantega (foto), ex-ministro dos governos Lula e Dilma, ex-presidente do BNDES no governo Lula, destaca:

“De acordo com o IBGE, os 10% mais ricos da população brasileira concentravam 43% da renda em 2018 enquanto os 10% mais pobres ficavam com apenas 0,8%”.

É inacreditável que se consiga bater recorde sobre recorde quanto aos índices péssimos de concentração de renda no Brasil. O resultado do neoliberalismo: a miséria já enorme ainda aumenta de maneira exponencial.

Só um extremista de direita como como Bolsonaro é capaz de dizer mentiras cínicas como a de que “ninguém passa fome no Brasil”.

Há razões para a desumana concentração de renda: setores muito poderosos não param de enriquecer com este genocídio.

Mantega aponta: “Os lucros apropriados pelo setor financeiro, que representavam 10% dos lucros da corporações em 1950, passaram para 30% em meados da década de 2010″.

A situação ainda tende a piorar, pois o neoliberalismo praticado nos últimos anos, intensivamente desde a rendição de Dilma, em 2014, ao nomear o Chicago Boy Joaquim Levy, provocou, segundo Mantega, o ultra-pífio crescimento médio anual do PIB de 0,2% nos últimos dez anos.

“Não se trata de mais uma década perdida”, ele conclui, mas a de pior desempenho desde que se inaugurou o século passado [desde 1901!], segundo o IBGE”.

O número de pessoas que receberam auxílio-emergencial é superior ao dos brasileiros formalmente empregados. Neste quadro trágico, os políticos compradores de votos mediante cestas básicas têm probabilidade de se eleger.

Bruno Covas (PSDB), prefeito paulistano reeleito, que o diga, pois distribuiu cestas básicas às vésperas da votação. Não é coincidência que, logo após a vitória nas urnas, em dupla com o governador João Doria, terem liquidado a passagem gratuita para idosos em atendimento ao “lobby” empresarial dos transportes. Compromissos ocultos de campanha? Segredo de Polichinelo.

Por isso há muitos Felipes Michel, e caciques bem mais importantes a usar a máquina pública como se fosse propriedade privada deles. Infelizmente, minoritária, excepcional mesmo, é a Justiça Eleitoral atuar contra a onipresença do poder econômico.

(*) Antônio Augusto é jornalista


(**) Textos assinados não refletem, necessariamente, a opinião da tendência Articulação de Esquerda ou do Página 13.

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