“Nosso lugar sempre será nas ruas”, diz secretária-geral da CUT/RN

Ex-presidente da Central Única de Trabalhadores faz balanço de gestão e defende permanente organização e mobilização

Entrevista publicada na última edição do Jornal Página 13

A professora Eliane Bandeira é uma mulher de coragem, luta e determinação que tem desafiado adversidades desde a sua infância em Russas, no Ceará. A vida não lhe deu trégua, mas ela nunca desistiu de lutar por seus sonhos e pelos direitos dos trabalhadores, das mulheres e em defesa da educação pública de qualidade.

Secretária-geral da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Norte e de Administração e Finanças do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública (Sinte), Eliane presidiu a CUT potiguar por dois mandatos consecutivos.

O início de sua gestão na presidência da CUT/RN coincidiu com um dos períodos de maior ataque à classe trabalhadora e ao povo brasileiro: o golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Nesta entrevista ao Página 13, a educadora relata a luta no Rio Grande do Norte para combater as propostas nefastas dos governos do golpista Michel Temer e do fascista e negacionista Jair Bolsonaro.

Entre os ataques aos trabalhadores e ao povo pobre, ela cita a Proposta de Emenda Constitucional 241/2016, que ficou conhecida como a PEC da Morte e restringiu os investimentos públicos. Transformada em Emenda Constitucional 95, foi aprovada pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal em dezembro de 2016.

 A seguir os principais trechos da entrevista:

Página 13: Eliane, fale um pouco de você, de sua trajetória pessoal, profissional e militante.

Eliane Bandeira: A minha história de luta, como de toda filha e filho de trabalhador e trabalhadora, começou muito cedo. Nasci em Russas e logo após a morte da minha mãe iniciei minha luta pela sobrevivência. Comecei a trabalhar e tive que enfrentar muitos desafios para não parar de estudar. A maioria dos meus familiares achava que estava na hora de casar e que mulher não precisava estudar. Avaliavam que o melhor para uma mulher fazer era se preparar para ser esposa e mãe. Mas não era esse o meu sonho, queria ir além do que o mundo ao meu redor me oferecia. Não desisti de estudar e ter uma formação. Sabia que a única chance que tinha para modificar minha realidade era me formar e passar num concurso público. Esse foi o início da minha formação. Minha vida nunca foi fácil e até hoje continuo me reinventando e buscando caminho que promova a dignidade humana. Não tive a infância dos sonhos, mas construí a minha vida e da minha família pautada nos princípios da justiça e da dignidade humana. Tive várias mulheres que me deram a mão quando iniciei minha militância no mundo sindical. Entre elas, a Luiza Pinto, dirigente sindical e feminista; Ilsa Fernandes, feminista que me ensinou o verdadeiro sentido da superação; Fátima Bezerra, hoje governadora do Estado do Rio Grande do Norte. Com elas, aprendi que não há vitória sem luta.

Página 13 : Até há pouco, você era presidente da CUT do Rio Grande do Norte. Que balanço faz da sua gestão na Central?

Eliane Bandeira: Assumi a presidência da CUT/RN num dos momentos mais difíceis para o povo brasileiro e para classe trabalhadora. Iniciei na presidência no momento do golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. O nosso desafio diante daquele cenário era reorganizar a luta, ocupar as ruas, conseguir organizar a classe trabalhadora e intensificar a luta. No Rio Grande do Norte, a CUT protagonizou todo esse processo. Juventude, trabalhadores, trabalhadoras e movimentos sociais se uniram. Não faltou luta. A rua foi nosso espaço de resistência. Infelizmente, o golpe se consolidou, mas temos a consciência e a certeza que não faltou luta e que estávamos do lado certo da história. Após a consolidação do golpe, nos mantivemos organizados. Veio o governo Michel Temer, trazendo uma série de ataques à classe trabalhadora e ao povo pobre e oprimido do nosso país. A PEC da morte congelou investimentos em saúde, educação e segurança por 10 anos, já era o total desmonte do Estado brasileiro. Dos ataques contínuos, vieram depois a reforma trabalhista que precarizou os serviços e atacou fortemente a organização sindical e a criminalização dos movimentos. A reforma da Previdência, outra maldade com o povo pobre do nosso país. Não faltou luta, ocupamos as ruas e fizemos greve geral com uma grande adesão. O Rio Grande do Norte, proporcionalmente, realizou as maiores agendas de enfrentamento. Podemos afirmar que paramos o Estado e que o Brasil parou também. Neste período, conseguimos uma vitória: barrar, no governo Temer, a reforma da Previdência. Depois, em 2019, já com o governo do cavernícola Bolsonaro, a proposta foi aprovada. Após o golpe, vivemos um momento de muito ataque, a prisão do presidente Lula, por exemplo, a forma que a direita encontrou para nos derrotar nas eleições de 2018. Perdemos a eleição, passamos quatro anos num processo de retirada de direitos de trabalhadores, ataques às mulheres, ao povo preto, aos pobres, aos LGBTQIAP+. Foram anos difíceis. Hoje, estamos vivendo um momento um pouco melhor, mas que ainda exige de nós liderarmos esse processo de mudanças e reconstrução do nosso país, reconquistar direitos perdidos. Precisamos, para isso, continuar organizando a classe trabalhadora, ocupando as ruas para que nossas pautas sejam atendidas. Nosso lugar sempre será nas ruas.

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