PED: Perguntas que pedem respostas

Por Markus Sokol (*)

O dado mais importante para a classe trabalhadora é que a situação política mudou — antes o governo se fazia fotografar com o Centrão, agora está em choque com o Congresso “inimigo do povo” que defende os “super-ricos” e, agredido, reage ao imperialismo de Trump. Ora, o PED, que começou num cenário institucional, termina, cinco meses depois, em outra conjuntura nacional, como examinaremos mais abaixo.

Razão a mais para que o balanço do processo — que a redação deste jornal me solicitou e me prontifiquei a escrever — só se complete mesmo depois do Encontro Nacional.

Poucas vezes foi tão adequada uma comparação deste PED com a “Buzina do Chacrinha, só acaba quando termina” (nome do famoso programa do apresentador escrachado Chacrinha, um marco na TV que acabou em 1988).

Há um monte de recursos, acusações gravíssimas de fraude, não sabemos se maiores do que nos últimos PEDs, porque ainda não tivemos acesso.

A cúpula do partido quer apresentar uma grande festa, mas o fato é que foram em condições mais dramáticas do que burlescas que meio milhão de filiados elegeram, com todo respeito, o companheiro Edinho Silva presidente do PT com 73%. Mas a chapa ao DN da sua própria corrente não obteve mais que os mesmos 51% dos votos no PED de 2019 (com um grupo que obtivera 1%, o que confirma o essencial).

Um paradoxo?

Um paradoxo? Não, porque Edinho foi o escolhido por Lula, inclusive dentro da CNB e, a partir daí, colocado para quase todas as correntes e setores de correntes que participam com cargos relevantes nos órgãos federais, e que juntos somaram aqueles 73%. Para a massa dos filiados que votavam, dizia toda a imprensa falada e escrita, Edinho era o candidato a presidente do Partido dos Trabalhadores do presidente da República Federativa do Brasil.

Neste plano, se, como exercício, tomarmos a liberdade de somar as duas candidaturas presidenciais mais à esquerda, Rui Falcão, com 11,2% dos votos, e Valter Pomar, com 4,4%, teríamos 15,6%. Alguns poucos setores que não são da “esquerda do PT” votaram em Rui, e outros poucos que

ainda se diziam da “esquerda” votaram em Edinho. Na história dos PEDs, e certamente na história do PT, a soma em particular das forças da chamada “esquerda do PT” parece ter obtido a mais baixa votação.

Rejeição das nossas bandeiras?

Rejeição em favor da moderação e da aliança ministerial com a direita? Não, por duas razões:

Primeiro, porque o debate do PED de um partido inchado com 3 milhões de eleitores não chega, sendo generoso, nem a 10% dos 550 mil eleitores: os outros 90% são informados pelos barões da mídia que tem lado — o Estadão, por exemplo, em editorial, apoiou Edinho desde o começo — ou nem isso, votam na colinha que recebem na véspera ou no dia mesmo por quem vai buscá-lo para votar.

Segundo, porque o PED que nasceu viciado, 25 anos depois, colocou o adicto em coma alcoólica. Ele foi o veículo da adaptação das formas do PT às formas antidemocráticas do Estado, em particular ao Congresso cada vez mais reacionário. O Partido é dirigido por uma oligarquia com mandatos sem fim, de cima para baixo, alimentada no Fundão Eleitoral e apoiada nas Emendas Parlamentares. Com estas regras, ela é inamovível.

Não serviu para nada?

O resultado nos esmagou e o PED não serviu para nada? Não, nossas bandeiras se impõem mais hoje que há seis meses, e são mais conhecidas e populares no PT.

Da nossa parte, o Diálogo e Ação Petista, fizemos toda a campanha sob o lema “Virar à Esquerda”. Em alguns momentos, podia parecer até que todos queriam virar, girar ou caminhar para a esquerda. O auge deste sentimento foi quando Lula pediu e levantou um cartaz do DAP pela “Taxação dos Super-Ricos” no 2 de julho na Bahia, com uma onda de satisfação geral nas nossas redes — e, para além, a repercussão na grande mídia.

Agradecemos os cumprimentos, a bandeira é de fato unitária, mesmo se recente no léxico de muitas lideranças, mas, da próxima vez, gostaríamos de ver todo o Partido presente nos atos com as bandeiras de interesse do povo.

Estamos muito orgulhosos da campanha que fizemos com Rui Falcão presidente, levantando uma saída global para o avanço da luta do povo brasileiro com a revogação das contra reformas de Temer e Bolsonaro (trabalhista, previdenciária e das terceirizações) e a adoção das reformas

populares, além de revogar o artigo 142 para derrotar a direita e a extrema-direita em 2026.

Com este Congresso, não dá! Reforma Política — voto em lista, financiamento político exclusivo e proporcionalidade — para criar as condições para uma Assembleia Constituinte Soberana!

Nos últimos dois meses, Lula fez gestos e deu passos que a própria imprensa qualificou como “à esquerda”, notadamente em relação ao Congresso dos ricos. Exatamente no mesmo período, a popularidade de Lula reverteu, fechou a boca do jacaré das pesquisas, e ele voltou a liderar para o 1º e 2º turnos. Precisamente, este foi o período de campanha das chapas inscritas no PED.

Mudança de conjuntura mudou o PED?

Quanto à resposta a essa pergunta, ainda não temos certeza. O que, sim, temos certeza é que nos debates nos vários níveis, interagindo com outros companheiros — inclusive da AE —, ajudamos a avançar na luta pela Ruptura das Relações Comerciais e Diplomáticas do Brasil com o Estado apartheid de Israel. Em certo momento, no nível nacional, ela ganhou a unanimidade dos candidatos à presidência, Edinho, Romênio, Rui e Valter, numa moção que Rui apresentou.

Da mesma forma, nos 13 pontos apresentados pelo DAP no PED, debatemos a taxação dos super-ricos na forma de uma reforma que foi feita em muitos países, o IGF, Imposto de Grandes Fortunas sobre a renda e o patrimônio dos bilionários (apoiamos o primeiro passo do IR maior para os R$ 600 mil anuais).

Enfim, concluindo, veio o ataque de Trump chantageando com a taxação de 50% em troca de uma graça presidencial prévia (!) ou revisão pelo STF, “imediatamente”, que salve Bolsonaro e, portanto, para os generais, além de otras cositas más: os mercados do PIX, etanol, e vai saber mais o que, que, aliás, já há setores da nossa burguesia covarde e antinacional dispostos a negociar.

Nova atitude

O que se coloca é o PT liderar uma ampla frente de caráter anti-imperialista em apoio a certas medidas do governo, como a reciprocidade, caso necessário, a quebra das patentes farmacêuticas e a taxação das remessas das multinacionais, assegurando medidas de classe, como a garantia real dos empregos ameaçados pelo tarifaço.

Esta é uma frente de mobilização de rua, não de falatório no tapete.

Veremos se a direção nacional recém-eleita a ser empossada no Encontro assume seu papel, primeira alternativa, ou se terceiriza de novo a mobilização para se afundar nos conchavos pré-eleitorais com a direita, o que ela vem chamando elegantemente de “combate ao fascismo”. Mas o imperialismo está impulsionando abertamente a extrema-direita na nossa cara, é hora de reagir à altura, ganhar a rua é a primeira tarefa!

Só podemos augurar a primeira alternativa. Mas nós, da nossa parte, e muitos outros, estaremos cada vez mais nas ruas e nos movimentos sindicais, populares e anti-imperialistas.

(*) Markus Sokol é integrante da executiva nacional do PT.

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