Por Vilma Reis e pela democracia: um PT negro, socialista e popular

Por Mateus Santos (*)

Socialismo e Democracia foram vocábulos que fizeram parte da história petista nos anos que sucederam sua fundação. Dois termos que, apesar das diferenciadas construções ao longo desse período, expressam o sentimento de quem acredita que não era possível pensar em transformação social efetiva sem democratização. O contrário também é valido: a superação das opressões também depende, dentre outras coisas, da extinção de uma democracia que só existe no papel.

Em 2020, quando falar em socialismo é sinônimo de espanto para as direitas e receio para partes da esquerda.  Quando discutir democracia parece, em muitos casos, resumir-se apenas à uma palavra de ordem, reaplicar estes dois conceitos como parte de um projeto de governo (e também de Estado) pode ser considerado ousadia. Ousadia essa que somente tem a representar um possível marco na trajetória das sociedades, capaz de promover fortes abalos nas estruturas edificadas pela desigualdade econômica, social, racial e de gênero.

Assim, chegamos neste mesmo ano, na cidade de Salvador, com uma oportunidade verdadeiramente de reparação. Após, mais uma vez, sentirmos negativamente os limites da democracia burguesa em 2016 e 2018, o ano de 2020 aparece como um sol capaz de clarear um caminho de trevas. As trevas da perda de direitos, do aumento da intolerância e, também grave, da negação de nossas utopias. Diante disso, somente um “bicão na diagonal”, isto é, uma enérgica reação a quem, até o momento, faz da destruição sua ação diária.

Vilma Reis e a campanha “Agora é Ela” promoveram uma nova metodologia para as esquerdas soteropolitanas. Quando muito se pensava sobre as impossibilidades de uma campanha protagonizada pela militância, Reis e outros companheiros e companheiras evidenciaram que ainda é possível. Com os braços de setores da luta pelo combate ao racismo, do movimento de moradia, das mulheres, dos estudantes e tantos outros que, ao longo deste processo, se juntaram ao movimento, uma “cidade de direitos” vem sendo desenhada, na expectativa de ser oferecida à todos os soteropolitanos em outubro.

Nesse desenho, democracia e socialismo aparecem, pois ganham materialidade ao serem revivificados por aqueles e aquelas que diariamente sofrem com o autoritarismo dos indivíduos e das estruturas. Na Nova Salvador de Vilma, acena-se com verdadeiras revoluções na cultura, no acesso à saúde, na educação, no planejamento urbano e em tantas outras questões que somente quem vive diariamente esta cidade sabe bem o que significa.

Vilma escolheu o PT por construí-lo. Sua campanha representa não só uma boa desestabilização de Salvador, mas também do próprio partido. É, neste momento, que as sombras da democracia partidária, do papel da militância e a revalorização de seus quadros intelectuais reaparecem. O “Agora é Ela” sinalizou aos petistas que ainda há braços dispostos a reestruturar este partido, fazendo da capital baiana um centro para um PT de novo tipo, democrático e popular.

O apelo em torno de uma candidatura negra na cidade mais negra fora da África corresponde às aspirações de quem necessita urgentemente verem abertas verdadeiramente as senzalas da luta política. A primeira etapa é garantir que isso possa acontecer dentro do próprio Partido dos Trabalhadores. Por isso, o apelo em torno das prévias é válido e deve ser reforçado. Num processo que já é vitorioso por ser uma contramão no que se tornou regra entre boa parte das esquerdas, a militância poderá ser consagrada ao poder decidir quem estará a frente do desafio do PT em governar Salvador.

Por toda a cidade, este poderá ser o momento de uma dupla emancipação. Um novo momento de reafirmação do “Agora é Ela” enquanto um movimento capaz de fazer dos muitos excluídos dessa cidade atores fundamentais no processo de conquista do Thomé de Souza. Também este será um processo de libertação dos petistas históricos, homens e mulheres que, ao seu modo, constroem este partido nas ruas, nas associações de bairro, nas universidades, nas escolas e em todos os espaços em que a luta é presente e necessária.

Com democracia e socialismo, um casamento verdadeiramente indissociável, esperamos ver um PT e uma Salvador, a partir deste ano, muito diferente de suas respectivas situações ao longo dos últimos anos (e, no caso da cidade, ao longo de toda sua história). As prévias poderão representar mais um momento de legitimidade de um processo que já é legítimo em sua essência, além de politizar ainda mais um momento que já entra para a trajetória política dos soteropolitanos.

(*) Mateus Santos é militante petista e da Juventude da Articulação de Esquerda, integra a Executiva JPT – Bahia

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *