Será o inimigo tão frágil?

Por Marcel Franco Araújo Farah (*)

                      Foto: Sérgio Lima/Poder 360

A força de Bolsonaro é maior que os rachas em suas bases de apoio.

No mesmo sentido, a solução Mourão não mudará muito o cenário.

Pensar em um fora Bolsonaro, fora Mourão, seu governo e suas políticas, é pensar na reversão de um processo histórico de longo prazo.

O governo Bolsonaro não foi muito afetado pelo seu comportamento irresponsável no trato com a pandemia do novo coronavírus. Também não sentiu a queda de seus ministros da saúde e da justiça de forma considerável. Por mais que a Globo seja árdua defensora do Moro, pouco arranhou a aprovação do Bozo.

A recente pesquisa de opinião CNT/MDA, mostra que a avaliação negativa do governo aumentou (de 31% em janeiro, para 43% em maio) mas, aumentou também aqueles que avaliam o governo como ótimo (de 9% em janeiro, para 14% em maio)! Ou seja, o desgaste do governo parece ter um efeito defensivo em sua base social, que passa a apoiá-lo mais ainda em situações de pressão.

Esse efeito comprova que a aprovação ao bolsonarismo não vai ceder, mesmo que bandeiras de campanha como o combate à corrupção, ou o distanciamento da “velha política” (que, convenhamos, já eram de fachada) sejam abandonadas.

O fenômeno de crescimento do conservadorismo no Brasil, e consequente eleição de Bolsonaro, acompanha tendência mundial, e tem raízes profundas em nossa cultura e educação. A face autoritária machista, racista, homofóbica, e com alto nível de preconceito de classe sempre teve lugar de destaque em nossa formação coletiva. Não somente na cultura, mas também no sistema educacional – a Escola sempre foi local de doutrinação liberal, nunca comunista, com a acusam agora.

Sob uma hegemonia conciliadora, herdeira de um 13 de maio que não aboliu a escravidão, essas características foram camufladas durante nossa história recente:

a) na transição lenta e gradual da ditadura para nunca condenar os culpados e parir uma Constituição Cidadã que ficaria sempre só no papel,

b) no “plano real” às custas da ampliação de nossa dívida e dependência econômica (período neoliberal FHC),

c) no governo Lula e Dilma com seu “reformismo ordeiro” que, apesar de melhorar a vida da maior e mais necessitada parte da população, nunca realizou a esperada reforma agrária e outras reformas.

Aflorou então, no seio da articulação golpista que apoiou o impeachment sem crime da ex-presidenta, o governo Bolsonaro, a partir de uma rearticulação de militares, lavajatistas, ideólogos/astrólogos de ultra-direita, parte dos evangélicos (neopentecostais principalmente), bancos e empresariado neoliberal.

É, portanto, o enfrentamento deste balaio de golpistas e ultra-direita que se fala quando entoa-se o grito de “fora seu governo e suas políticas”.

Derrubar a pessoa Bolsonaro, é conveniente para amplos setores golpistas, da mídia e empresariado que defendem uma agenda neoliberal, desejosos de que a política econômica continue como está. Ou seja, estes setores podem até defender o fora Bozo, mas defenderão que Mourão assuma.

A saída real ao governo Bolsonaro, que envolve reverter a ascensão conservadora, e os males com ela advindos ao povo brasileiro, remete a processos de décadas de conciliação. Daí sua profundidade e radicalidade. Daí também sua envergadura de médio prazo, e sua razão crítica.

A derrubada do bolsonarismo é a assunção de um projeto de ruptura, da nação brasileira com seus vilões históricos, desde os senhores de engenho, passando pelo autoritarismo militar, pela opressão de classe e gênero sofrida por quem vive de seu trabalho, e pela conciliação que predomina entre diversos setores da esquerda brasileira.

(*) Marcel Franco Araújo Farah é militante petista em Goiânia

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