Uma boa briga sempre é melhor que um mau acordo – a tática do PT em BH

Em BH, nos últimos anos, infelizmente o PT optou por péssimos acordos ao invés de um bom debate e a defesa incondicional da classe trabalhadora. Em 2020, nossa tática precisa ser diferente. Para barrar o fascismo e vencer as eleições, precisamos de uma frente de esquerda que polarize e derrote o neoliberalismo na capital.

Por Roberto Nery (*)

Junho de 2020 – O coronavírus  ocasionou mais de 45 mil mortes e seguimos a deriva. Bolsonaro segue com suas ameaças fascistas à democracia, bem como seu governo ignora a situação da vida da população. O Governo Zema, em Minas Gerais, basicamente repete os atos do governo federal, permitindo que o “vírus viaje”, em suas próprias palavras. Governo Kalil, em Belo Horizonte, já reabriu quase todas as áreas, negligenciando a população e cedendo às vontades do capital. Definitivamente, não podemos considerar que vivemos em normalidade, em plena crise sanitária, social, econômica e política.

Com esse cenário, realizamos no último domingo (14) o Encontro Municipal de Tática Eleitoral do Partido dos Trabalhadores – Belo Horizonte. Já nesta sexta-feira (19) se encerrarão as inscrições para que as e  os filiados se inscrevam enquanto pré-candidatos para as eleições de 2020, disputa esta que será um divisor de águas para nosso partido.

Primeiro, é importante reforçar que o Encontro contou com somente 46 delegados, sendo  membros para o Diretório Municipal indicados pela votação do PED realizado em setembro de 2019, em uma conjuntura bastante diferente. Mesmo num momento em que batalhamos pela retomada da democracia no nosso país, a Comissão Executiva Nacional do PT definiu retirar o direito do filiado em definir as candidaturas do partido. Desrespeitando o estatuto partidário e nossa militância, revelando autoritarismo de quem deveria ser democrático.

Apesar dessa questão, em Belo Horizonte, contamos com um importante esforço das tendências e da direção municipal para construir consenso na decisão a ser tomada. Após vários encontros e reuniões, chegamos ao Encontro com somente uma proposta de resolução onde apontava a construção de uma pré-candidatura própria, pautada pela competitividade eleitoral e combatividade política para polarizar a disputa com a ultra-direita e a direita neoliberal, bem como demonstrar disposição de diálogo junto a frente de esquerda em Belo Horizonte. Isso vai ao encontro da resolução apresentada pela tendência petista Articulação de Esquerda anteriormente, disponível em: (https://pagina13.org.br/resolucao-frente-de-esquerda-para-derrotar-o-neoliberalismo-nas-eleicoes-em-belo-horizonte/).

Durante o domingo (14), após muito debate e emendas, aprovamos o conteúdo político da resolução, conforme proposto acima, com o voto de todos os presentes (https://www.facebook.com/notes/partido-dos-trabalhadores-bh/comunicado-da-comiss%C3%A3o-executiva-do-pt-de-belo-horizonte/2648453288700758/). Porém, mesmo antes da reunião se encerrar, já circulavam matérias em portais dando outro tom para o PT de BH. Segundo essas matérias, o PT estava dividido em três teses: 1. Apresentar uma pré-candidatura para dialogar com os partidos da frente; 2. Ter uma candidatura própria a todo custo; 3. Apoiar o prefeito Kaili.

A primeira opção, defendida por expressa maioria das e dos filiados que estiveram presentes nas plenárias preparatórias, é sustentada também pela esquerda petista – que assinou um manifesto em conjunto com setores do PSOL, diversos parlamentares e movimentos populares, intitulado “Por uma BH democrática, popular e progressista” (https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSc1AGNoMiTJIFBTs-lsvba75c89oo_gmELqTxm3ud7DXUZdFg/viewform). Como já colocado, defendemos que a esquerda se unifique em BH para polarizar com os atuais governantes e suas políticas neoliberais, genocidas e fascistas, na busca de um horizonte mais justo e socialista. Com isso, fortalecemos nosso Partido, mas principalmente o povo pobre e a classe trabalhadora da capital, que já viveu momentos participativos e inclusivos nas gestões petistas na cidade.

A segunda opção, defendida por um setor do Partido, apresenta que o PT deveria ter candidatura própria a todo custo, sem articular com outros partidos progressistas uma chapa majoritária conjunta. Na prática, ao fracionar e enfraquecer a esquerda, fortalecerá eleitoralmente o prefeito Kalil, pois pode se encontrar sem adversários com potencial ou até mesmo vir a polarizar com a extrema-direita fascista um eventual segundo turno. Além disso, poderá fazer o PT repetir o seu pior desempenho eleitoral, em 2016 – na qual a candidatura de Reginaldo Lopes se afastou da militância e dos movimentos sociais, chegando a esconder os símbolos do PT. 

Além disso, ao colocar um nome à qualquer custo, sem necessariamente ter expressividade na base e intenção de polarizar claramente o debate – inclusive ‘amaciando’ para o Kalil, já visando um possível apoio no segundo turno – irá enfraquecer ainda mais nosso partido. Nossa militância de rua, após ter passado por 16 anos de gestão petista, viu em 2008 um erro estratégico ser cometido, ao ver Fernando Pimentel subir no mesmo palanque que Aécio Neves para apoiar o nome de Márcio Lacerda. Em 2020, subir no palanque de Kalil significa estar junto de Antônio Anastasia, relator do golpe em 2016 e ex-governador pelo PSDB (e atualmente filiado ao PSD). Tal erro não pode se repetir, sob risco de um suicídio político do PT-BH e desmobilização completa da militância petista.

Com grande relação com o ponto anterior, terceira opção é um caso à parte. Em 2016, logo após as eleições, o PT-BH definiu se colocar enquanto oposição ao prefeito eleito – porém duas secretarias foram ocupadas por petistas, bem como parte dos cargos das mesmas, dentre outros. Também por isso – apesar dos motivos dessa defesa não serem públicos – parte do partido não vê Kalil como adversário, mas até mesmo como “potencial aliado”, como dito pelo Deputado Estadual Virgílio Guimarães durante o Encontro do último domingo. Nesse caso, fica explícito que para alguns setores do partido, a estratégia da conciliação de classes ainda serve. Ou seja, não veem problema em se aliar com a centro-direita neoliberal, desde que exista algo em troca – sabe-se lá o que é isso, pois, visivelmente, não é um ganho para a classe trabalhadora. 

Assim, mesmo com uma resolução sendo aprovada consensualmente, existem diferentes versões públicas, numa tentativa de influenciar a decisão por meio da mídia. O PT não pode se submeter a interesses exclusivistas de grupos e/ou parlamentares, sejam eles quais forem. JAMAIS um mau acordo será melhor que uma boa briga, ainda mais se esse acordo nos leve a abrir mão de melhorias para o povo. O que aconteceu nas eleições municipais de 2008 e no golpe de 2016 provam a necessidade da luta em detrimento das conciliações.

Devemos cumprir o que já foi previamente aprovado e disposto em ata e resolução. O PT precisa, num processo amplo e democrático junto à militância, definir um nome que reúna os critérios aqui já expostos, bem como, a partir desse nome dialogar com os demais partidos visando a construção de uma frente que polarize com todas as candidaturas da direita em BH, inclusive a frente a tentativa de reeleição do Kalil. Para isso, nossos principais quadros da esquerda petista devem colocar seu nome a disposição do partido para a disputa eleitoral, como Rogério Correia e Beatriz Cerqueira. Não podemos fugir da luta, ainda mais nesse momento de endurecimento da conjuntura e da luta de classes!

O PT, enquanto maior partido de esquerda da América Latina, precisa se colocar no papel de construtor de uma grande frente de esquerda visando derrotar o fascismo, o neoliberalismo e a direita no nosso país, estado e município, para a construção de uma sociedade socialista!

Viva a união da esquerda belo horizontina! Por uma BH socialista e popular!

(*)  Roberto Nery é graduando em Ciências do Estado na UFMG e militante do Partido dos Trabalhadores, atualmente na Direção Municipal do PTBH e na Secretaria Estadual da JPTMG. roberto.nery.pereira@gmail.com – instagram: robertonery13

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