Por Fausto Antonio (*)
Epigrafia Metatrônica
A Babel é a metacomunicação ou a única comunicação válida.
Milão punha e repunha em causa o mito da Torre de Babel; o que revela que a comunicação metatrônica pode gerar uma sinuosa e escorregadia lábia comunicativa; ciência, que é medula efetiva da língua e mais ainda da linguagem.
Segundo a mãe e a família, Milão era um sortudo. Na escola, avançou com excelentes notas, a mãe e os parentes próximos, que conheciam quem ele era , coçavam as carapinhas e riam por dentro. A despeito do riso que não alcançava o que ele realmente era , havia um acordado coro familiar: estamos felizes com o progresso dele.
Assim foi ele de progresso em progresso até terminar o curso de “Metatrônica Energética Aplicada à Expansão de Consciência ”. A energia mental é a Ciência Superior, bradava Milão. Formado e com as pompas formais do diploma, que não era algo simples, foi logo bater às portas da Metatrônica Brazil, indústria renomada dos Estados Unidos da América instalada no bairro de Boa Vista, Campinas,SP.
A história passa, antes do enredo de entradas, rusgas,rugosidades e reentrâncias, pela síntese. Pois bem, ele conquistou o emprego pelos equívocos das aparências externas e internas. As amarras, no caso em curso, não são desatadas por um simples nó; há muitos e, se desfeitos, voltam contra quem assim procedeu. Decorre daí, então, a empatia e a concordância com o estabelecido e alinhado com os equívocos e paradoxos instalados.
Não são mentiras, narrativas falsas, no entanto, as verdades se dão pelos nexos invertidos da ética. Milão era um super especialista em metatrônica; se não era se tornou pelo ofício, pelo exercício prático e pelo reconhecimento. A metatrônica se antropomorfizava nele; por sua relação empírica com a ciência, ele era a metatrônica. Os leitores e leitoras, suponho, gostariam de saber, volta aqui o enredo, como ele ingressara na exigente e famosa indústria multinacional? Para assumir o cargo, Milão passou facilmente pela entrevista .
O engenheiro, gerente da Metatrônica Brazil, examinou o currículo e foi para a etapa seguinte da avaliação do candidato. Na entrevista, o engenheiro chefe indagou , depois de exibir cálculos, pesquisas e resultados exitosos da empresa, o que Milão achava da equipe de engenheiros da empresa? Milão refez parcialmente a pergunta: os seus “engenheirinhos” ? Pois bem, prosseguiu Milão; foi direto ao ponto , não pestanejou: eu tenho estatura superior aos seus “engenheirinhos”. A resposta foi metatronicamente empírica e direta; afinal Milão , um negão com quase dois metros, medira, num olhar panorâmico, a bancada de engenheiros e, comparativamente, asseverou: eu tenho estatura superior aos seus “engenheirinhos”.
O chefe dos engenheiros sentiu confiança, firmeza, e de pronto fechou a fatura. Está contratado. Com certeza, os leitores compreenderam o porquê da caracterização familiar de sortudo. Não percebeu o chefe,no entanto, que o diminutivo “engenheirinhos”era referência sincera à altura física dos engenheiros, nada além, constatando que eram baixinhos. A despeito da firmeza da constatação, Milão sabia que eram extremamente qualificados. Os equívocos semânticos e lexicais davam a Milão a merecida aura de sortudo. Sorte lastreada por metatrônico estudo. Em pouco tempo, Milão tomou conta da ciência dos dispositivos informacionais; a tal metatrônica dos “engenheirinhos”.
Ele dominou o ramo da eletrônica e meio para produzir, a partir de luzes, informações, a ciência que foi árdua, dura e sofisticadamente desenvolvida pelos “engenheirinhos”, que agora eram seus decanos no ofício . Na crônica dos acertos, a estatura não é apenas o que é como enunciado verbal; é o que institui , no comando, o enunciador, pensou Milão, em concordância com o que estudara de fato. Na altura, porém, ninguém questionava a capacidade indiscutível, validada pela estatura, de Milão. Na contramão, no entanto, Milão impunha à metatrônica, cientificamente desenvolvida pela eletrônica, pelas luzes e pela energia aplicada aos registros informacionais, a lógica da sua metatrônica, que não passa pela escala ou nanoescala de luzes, ela tem outra amarra. A ciência dominada pelo sortudo orbitava a esfera da consciência; avultava daí, bem provavelmente, as luzes e a áurea da sorte.
Milão punha e repunha em causa o mito da Torre de Babel; o que revela que a comunicação metatrônica pode gerar uma sinuosa e escorregadia lábia comunicativa;ciência, que é medula efetiva da língua e mais ainda da linguagem. Encruzilhadas às metatrónicas, as ciências se refizeram numa outra limbosa ciência dos encontros e dos desencontros . A ciência se faz assim, com a estatura denotativa e conotativa, numa pluriversal e metafórica Babel. Para Milão havia a Babel; sinonímia da pluriversalidade, assim a ciência estava se fazendo e se refazendo.
A rigor ou em concordância com a verdade, os “engenheirinhos” eram subordinados às ambiguidades do discurso, que instalaram, na Babel, a ética da oportunidade encruzilhada com a ética, quase uma verdade, do avesso ou no avesso.
Milão estava, conforme a força empírica dos equívocos, acima dos oportunismos. O epíteto de sortudo era, a quem debruçar o olhar para o dito, o subjacente não dito e as conclusões indeterminadas revelavam a ética movediça e contraditória da comunicação. Há um efeito, na comunicação, de uma ciência ocupando, pelo equívoco do discurso, o objeto da outra. Sim, mas no domínio das metatrônicas, o empírico se fez pela expansão de consciência.
Milão, aparentemente empírico, usava o que havia de melhor na ciência metatrônica e, assim, sem conflito de consciência, continuava holisticamente ocupando o lugar acima dos “engenheirinhos”e do gerente ou chefe deles, notadamente. Agora, não era apenas a mãe coçando a carapinha; há leitores e leitoras no trânsito das leituras e, na Metatrônica Brazil, existem “engenheirinhos”coçando a cabeça. Milão, por sua vez, reafirma, a partir do objeto da ciência e da sua ciência, a sua estatura metatrônica.
(*) Fausto Antonio é professor Associado da Unilab- Bahia, escritor, poeta, dramaturgo e autor do romance Diário di Polon, US-Edições, Cabo Verde, 2025.
Uma resposta
Dá-lhe Fausto!!! Viva o Milão e viva sua verde, que nos instiga e empolga a querer saber mais e mais: do personagem, da metatrônica e do que mais vier, na transcendência desse mundo complexo, que você nos trouxe.
AXÉ MERMÃO!!!