Balanço proporcionais – Jandyra Uehara

Por Jandyra Uehara (*)

 

São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, seguem centrais na disputa que travamos com a direita e a extrema direita, e mais uma vez se impõem as debilidades politico-organizativas do PT, que trataremos depois do segundo turno, seja qual for o resultado destas eleições. Até lá é força total nas ruas para derrotarmos a extrema direita neoliberal e abrir os caminhos para a reconstrução e a transformação do Brasil e de São Paulo.

O estado de São Paulo é o quartel general das classes dominantes deste país, centro nevrálgico do neoliberalismo, das operações e articulações políticas do grande capital, inclusive de suas operações golpistas. Sempre colocamos que uma de nossas missões é “derrotar os tucanos no seu ninho” e interromper o ciclo de governos paulistas neoliberais, que serviram de modelo para a expansão das politicas privatizantes e de redução do papel do estado em todo o Brasil. Há anos alertamos, também, que o PSDB não era um partido de centro, mas de direita; e hoje temos mais uma prova disso, com o apoio do PSDB de Rodrigo Garcia a Tarcísio do Republicanos bolsonarista. Nos impondo, neste segundo turno de 2022, a tarefa de trabalhar para que o neoliberalismo tucano não tenha continuidade, agora sob as asas da extrema direita, com um candidato importado da corja bolsonarista.

No primeiro turno, em nome da frente ampla pela democracia, com Alckmin vice, o combate frontal às políticas neoliberais foram no mínimo secundarizadas e no primeiro turno prevaleceram as campanhas proporcionais, com pouca visibilidade das campanhas LULA e HADDAD.

As pesquisas da véspera da eleição davam grande vantagem para Haddad, os resultados dos institutos de pesquisa foram para muito além da margem de erro, variando de 6 a 12 pontos (somente a pesquisa da QUAEST ficou dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais). A crença nas pesquisas e sua má interpretação, as contenções da política de alianças e a falta de direção coletiva levaram a um primeiro turno de “jogar parado”, facilitando a vida do bolsonarista.

É preciso destacar a importante vitória de LULA e HADDAD na capital e na maioria dos municípios da região metropolitana de São Paulo: dos 38 municípios que a compõem, ganhamos em 25. Contudo, em cidades grandes e importantes como Santo André e Guarulhos, o genocida venceu, embora com pequena margem de votos.

Para a disputa proporcional, a tendência petista Articulação de Esquerda de São Paulo optou pela minha candidatura a deputada estadual, sendo a primeira vez que participei de uma eleição, tendo me dedicado nos últimos anos a tarefas sindicais nacionais, o que me afastou em demasia de tarefas políticas no estado.

Nosso resultado eleitoral foi aquém do necessário, o que revela as nossas debilidades politico-organizativas e a urgência de crescimento orgânico da tendência junto às lutas populares. Em relação ao pleito de 2018, tivemos um crescimento de 26,5% dos votos, de 14.813 para 18.754 votos. Tivemos votos em 268 cidades, com 90% deles concentrados em 20 municípios.

Fizemos uma campanha organizada em torno da linha política defendida pela AE, dedicando boa parte ao debate político programático dos mais variados temas e na caracterização de uma candidatura socialista, feminista, da classe trabalhadora. Construímos um diagnóstico do estado de São Paulo e compromissos programáticos correspondentes. Entre 15 de maio (início da pré-campanha) e 1º de outubro realizamos 334 agendas, a maioria presencial. Todo este esforço político coletivo precisa se concretizar em acúmulo organizativo, com a devida continuidade do trabalho e o aprofundamento das relações políticas construídas neste processo. E desde já me coloco com muita disposição e disponibilidade para esta tarefa, inclusive já com agendas de retorno em várias cidades.

Tivemos apoiadores e/ou campanha organizada em 30 municípios, sendo que em apenas 9 deles temos militância da AE (Santo André, São Caetano, Diadema, São Bernardo, Ribeirão Pires, Campinas, São José dos Campos, Jacareí, Guaratinguetá), ficando nítida a nossa debilidade na capital, onde não houve campanha organizada pela tendência.

A nossa candidatura foi a única feminina do PT a deputada estadual na região do ABCDMMR, fato que exploramos bastante durante a campanha. Nesta região, as candidaturas de mulheres da direita tiveram uma votação imensa (duas “primeiras damas”), com um total de 310.319 votos. Em seguida vem o PSOL, com Paula da Bancada Feminista (17.237 votos) e Ediane (MTST, 13.021 votos), ambas também eleitas com grande votação em todo o estado. Em terceiro lugar na votação de mulheres na região vem o PT, comigo com 8.360 votos na região, seguida de Bebel (Apeoesp) com 4.217 votos (reeleita com expressiva votação, vinda principalmente do interior do estado). A votação em mulheres do PSOL foi superior a apresentada pelo PT em 6 cidades da região, exceto Diadema.

Em relação à bancada estadual eleita pelo PT, houve um crescimento de 10 para 18 deputados/as. Para este crescimento teve grande relevância a imensa votação de

Eduardo Suplicy, o estadual mais votado de São Paulo, com 800.015 votos. A linha de corte, como prevíamos, foi de 60 mil. Na bancada petista eleita em 2022, houve dez reeleições; dos três prefeitos petistas, dois elegeram suas candidaturas; três vereadores da capital foram eleitos deputados; e também foram eleitos quatro ex-deputados petistas que haviam ficado na suplência em 2018. Nas primeiras suplências este mesmo perfil se confirmou, sendo a maioria vereadores/as de cidades de grande porte.

Tudo isso mostra as dificuldades para candidaturas novas que não tenham uma base eleitoral “distrital”. Ao mesmo tempo, precisamos refletir sobre as razões da maioria de votação de mulheres feministas, socialistas e negras do PSOL em relação ao desempenho eleitoral das candidaturas com estas mesmas características, só que lançadas pelo PT.

Feitas estas primeiras considerações gerais, termino dizendo que pessoalmente foi uma jornada ímpar, muito aprendizado concentrado em pouco tempo, encontros e reencontros muito especiais, saio mais conectada com o nosso povo trabalhador, especialmente com as mulheres que acolheram a nossa candidatura e a nossa política. Saio melhor do que entrei, mais humanizada, mais socialista, mais feminista, mais antirracista e principalmente ainda mais disposta a devolver com coragem, trabalho, dedicação e compromisso toda a confiança e afeto que recebi dessa gente que luta por um mundo melhor. Viva a classe trabalhadora!

(*) Jandyra Uehara é da direção executiva nacional da CUT e do Diretório Nacional do PT.

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