Por Valter Pomar (*)
Dizem que o vampiro só entra numa casa, se alguém abre a porta. Foi isso que fez o governador Camilo Santana, ao solicitar e agradecer a Bolsonaro pela operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Na prática, o governador deixou que a segurança pública do estado do Ceará passe a ser comandada pelas Forças Armadas, que segundo Bolsonaro estariam intervindo numa “guerra urbana”.
Portanto, numa operação de pinça, um braço do bolsonarismo estimula o caos e o outro braço vem reestabelecer a “ordem”.
Script similar parece ter sido implementado no caso Adriano: um miliciano ligado ao clã Bolsonaro morre durante operação da PM da Bahia, o presidente e um de seus filhos acusam o PT de estar envolvido com tortura e execução.
É uma versão mais elaborada de uma técnica que todos conhecemos: depois de praticar o assalto, o criminoso mesmo grita “pega ladrão”.
Os dois episódios devem ser vistos no contexto.
Em primeiro lugar, uma operação política cujo objetivo é atingir não apenas o PT, mas a força que a oposição tem no nordeste, onde mais de 60% da população explicita que votará, em 2020 e 2022, em candidaturas contrárias a Bolsonaro.
Em segundo lugar, uma operação que visa fortalecer o setor de extrema direita do golpismo, contra aqueles setores da direita golpista que acreditam ser possível implantar o ultraliberalismo e manter as aparências.
Em terceiro lugar, uma operação preventiva contra as mobilizações populares, presentes e futuras, que se opõem à política econômica e social de Bolsonaro.
Lei de Segurança Nacional contra Lula, general Heleno criticando “chantagem” parlamentar, Braga substituindo Onyx, GLO no Ceará, são peças de uma fechadura “lenta, gradual e segura”.
O carnaval que nos perdoe, mas a reação a isso tem que ser imediata.
Dentre as muitas iniciativas que precisam ser adotadas, cabe destacar engrossar as mobilizações programadas para 8 de março, 14 de março e 18 de março, as quais pode se somar uma retomada da mobilização dos petroleiros, a depender de como evoluam as negociações.
É preciso que o conjunto do campo democrático e popular se coloque em movimento, convertendo as mobilizações específicas numa mobilização unificada pelos direitos, pelas liberdades, pela soberania, contra o neofascismo e contra o ultraliberalismo.
Ao mesmo tempo, é preciso tentar impedir que o ocorrido no Ceará se espalhe, especialmente nos demais estados governados pela oposição.
Mas para que isso seja possível, há uma condição necessária, ainda que não suficiente: quem governa, precisa se dispor a governar também as polícias.
Adaptando aquela frase famosa, a segurança pública é um assunto importante demais para ser deixada para os militares; fazer isto em tempos bolsonaristas é suicídio programado; e agradecer ao Bolsonaro, bom, melhor não escrever o que vêm à mente diante de tal atitude.
Espero que a executiva nacional do PT atue com presteza frente à situação. Pois as escolas de samba não são as únicas que estão se preparando para desfilar.
(*) Valter Pomar é professor da UFAC e integrante do Diretório Nacional do PT