Milton Temer e a seriedade

Por Valter Pomar (*)

Milton Temer foi do PCB, foi do PSB, foi do PT e agora está no PSOL, sempre comunista e sempre combativo, mesmo quando defendia posições bastante moderadas.

Sendo assim, vou relevar os exageros retóricos (“truque de mágico de circo”, “suposta esquerda”, “prestidigitação política”, “dupla personalidade”) da crítica que ele faz a meu texto, numa postagem intitulada “Fala sério, Valter Pomar!”

O meu texto está aqui:

https://pagina13.org.br/o-psol-deu-um-importante-passo-a-esquerda/

A crítica de Temer está aqui:

https://www.facebook.com/100000798866786/posts/4392266810809904/

Tirando os exageros retóricos, de que Temer me acusa?

De jogar “um tapete sobre o passado recente do PT que cumpriu mandatos presidenciais sem promover uma sequer das exigidas reformas estruturais esperadas de um governo minimamente popular e democrático”.

A prova de que esta crítica não procede, a prova de que não minimizo os erros cometidos, é dada pelo próprio Temer, que cita as posições que eu defendi e defendo publicamente em inúmeras atividades e ocasiões.

Acontece que o que está em questão não é o balanço dos governos Lula e Dilma.

O que está em questão não é o que o PT fez ou deixou de fazer quando esteve no governo.

O que está em questão, em minha opinião, é como criar as melhores condições para derrotar Bolsonaro e o neoliberalismo, de forma tal que torne possível um governo que seja mais radical do que o iniciado em 2003.

Este “como” não se limita ao que acontece nas urnas.

Pelo contrário, depende no fundamental do que acontece nas ruas.

Entretanto, quando está em discussão a tática especificamente eleitoral, quais seriam as alternativas?

Do meu ponto de vista, ou seja, do ponto de vista de um petista, trata-se entre outras coisas de construir uma frente de esquerda.

Por óbvio, do ponto de vista do PT, o melhor que o PSOL pode fazer é contribuir na construção desta frente de esquerda.

Quais seriam as demais alternativas do PSOL?

Uma alternativa seria ter candidatura própria no primeiro turno e não apoiar ninguém no segundo turno, como fizeram HH, PAS e LG.

Acredito desnecessário argumentar que, especialmente nesta conjuntura de neofascismo, repetir a tática de 2006, 2010 e 2014 seria um absurdo sem tamanho.

(Vale registrar que, nos citados segundos turnos, amplos setores da militância e do eleitorado do PSOL fizeram a coisa certa.)

Outra alternativa seria o PSOL ter candidatura própria e apoiar o PT apenas no segundo turno, como fez Boulos em 2018 e como entendo que Temer defende para 2022.

Para nós do PT isto seria muito ruim. E seria ruim para o povo brasileiro.

Já as razões pelas quais isto também seria um erro – do ponto de vista do PSOL – estão em parte no texto de Luís Felipe Miguel.

Portanto, noves fora, resta a alternativa que Temer ataca, mas que foi majoritária no congresso do PSOL, embora de uma forma um pouco, digamos, tímida.

Esta alternativa – abrir a possibilidade de apoiar o PT no primeiro turno – não deveria causar tanto espanto a quem, como Milton Temer, apoiou Lula em 2002, desde o primeiro turno, apesar da Carta aos Brasileiros.

Aliás, salvo engano, até o PSTU apoiou Lula no segundo turno de 2002.

Ninguém estava enganado ou se enganando. E suponho que ninguém se arrependeu do que fez.

O tema de fundo é o seguinte: no terreno eleitoral, a derrota de Bolsonaro passa por Lula.

Por isso, apoiar Lula agora, desde o primeiro turno, é um importante passo à esquerda.

No segundo turno entre Lula e Alckmin, entre Dilma e Serra, entre Dilma e Aécio, o PSOL não apoiou as candidaturas do PT.

Frente a isto, o apoio a Haddad no segundo turno de 2018 foi um passo à esquerda.

E, de meu ponto de vista, defender o apoio a Lula no primeiro turno de 2022 é outro passo à esquerda.

Temer acha que “isso só pode ser considerado guinada à esquerda por quem já colocou sua barra muito à direita”.

Não lembro de ter falado em “guinada”.

Mas de fato a “barra” está pesada.

Logo, a situação política do Brasil recomenda uma frente de esquerda nas eleições de 2022.

Neste sentido, a decisão do PSOL é um passo importante à esquerda e pode contribuir para que um futuro governo Lula não repita erros cometidos no passado.

Pode dar tudo errado? Sempre pode.

Mas em alguns momentos da história, “marcar posição” não é o melhor jeito de “falar sério”.

(*) Valter Pomar é professor e membro do Diretório Nacional do PT

 

***

A ÍNTEGRA DO TEXTO CITADO

FALA SÉRIO, VALTER POMAR!!  Militante formulador da suposta esquerda do neoPT, nos comprova nesse artigo sobre o Congresso do PSOL como se faz um exercício de prestidigitação política. Ou seja, como se tira ás da manga para  justificar algo que eludimos para não ter que discutir. Porque a ser uma avaliação autêntica, só posso identificar uma dupla personalidade política no meu amigo. Não dá para compatibilizar o que hoje ele escreve com o que disse sobre seu partido em seminários internos que acompanhei, aplaudindo, em várias de suas edições regionais, e na entrevista que concedeu ao seu principal parceiro na dita esquerda petista, Btrno Altman.

O PSOL TERIA FEITO uma guinada à esquerda, segundo Valter, ao terminar seu VIl Congresso insinuando, por impossibilidade política de o fazer de forma expressa, um apoio a Lula no primeiro turno das eleições de 2022.

OU SEJA, e aí está o truque de mágico de circo que o comentarista externo opera, Joga um tapete sobre o passado recente do PT que cumpriu mandatos presidenciais sem promover uma sequer das exigidas reformas estruturais esperadas de um governo minimamente popular e democrático.  Reforma Tributária e Reforma Política que pusesse fim à privatização do Público por conta do grande capital? Qual o que…Não é demasi pretender ser o referencial do que é a esquerda brasileira?

ORA, MEU CARO Valter, a leitura correta deve ser a oposta a que faria quem não defende interesse específico de ium apoio incondicional a Lula, qualquer que sejam os movimentos de reaproximação com o que já causou, como aliados, imensas tragédias para o PT.

É NA DIREÇÃO de um Lula enigmáticó quanto à amplitude do laço de alianças que propõe com setores das classes dominantes, que a nova maioria propõe aproximção. E isso só pode ser considerado guinada à esquerda por quem já colocou sua barra muito à direita.

OU OS QUE SE PRETENDEM esquerda  petista, que você vocaliza, tem saudades da parceria Palocci/Meirellles e o upgrade ao neoliberalismo tucano que empreenderam no primeiro governo Lula?  Ou a esquerda petista já esqueceu que o desmonte da Seguridade Social pública nos governos de Michel Golpista e Bolsonaro/Guedes encontraram seu motor de arranque na própria contra-reforma implantada por Lula contra os servidores? Ou a esquerda petista joga para escanteio o crime de entregar a um meliante como Gedel o controle de parte essencial da Caixa Econômica? Ou das benesses concedidas em cargos ao gangster Eduardo Cunha, por quem terminaram apunhalados?

O QUE FEZ NASCER O PSOL, caro Valter, foi política que hoje, em âmbito interno, você não hesita em apontar como razão de fracasso que não pode se repetir.  Ou vamos esquecer do meliante Roberto Jefferson, então aliado do governo, criticando a bancada tucana, por não votar o que então propunha o governo Lula, exatamente no mesmo sentido do que era proposto pelo mandarinato FHC?

O QUE FEZ nascer o PSOL foram as sequelas do Pacto Coonservador de Alta Intensidade, compensados por um Reformismo Fraco, como bem sintetizou o insuspeito André Singer em seu “Os Sentidos do Lulismo”?

NÃO COGITO DE MITIFICAR O PSOL. Pelo contrário. Não são poucas as ressalvas que apresento à sua crescente subalternidade ao movimentismo identitário, com viés liberal. Não são poucas as ressalvas que faço à crescente ocultação do partido como agente do mundo do trabalho na Luta de Classes. E isso está bastante no artigo de Luis Felipe Miguel que você cita. Ali está a leitura mais correta, do ponto de vista da Academia, do que resultou do VII Congresso.

NÃO HESITO, portanto, em ler o VII Congresso no sentido oposto ao que você pretendeu retratar. São 44% de esquerda, unificados em torno de uma candidatura própria; unificados, contra 56% cujas hesitações não permitem aos líderes das duas tendências mais importantes dessa nova maioria se pronunciar oficialmente em favor daquilo que operam nos bastidores: o apoio a Lula no primeiro turno

E NÃO TENHA DÚVIDAS, Valter, assim como nas eleições anteriores de Lula e de Dilma, não hesitarei em estar – mantida a polaridade atual – entre os que, não só votarão, como farão campanha para Lula. Esperando que, desta feita, o neoPT retorne ao PT que tive a honra de representar no Parlamento.

Luta que Segue

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