Análise das manifestações de 2 de outubro e resolução sobre conjuntura

Por Direção Nacional da Articulação de Esquerda

A direção nacional da tendência petista Articulação de Esquerda, reunida no dia 3 de outubro de 2021, aprova a seguinte resolução sobre a conjuntura e nossas tarefas.

1.No dia 2 de outubro aconteceu mais uma rodada de manifestações pelo Fora Bolsonaro. Novas manifestações já estão sendo organizadas, em especial nos dias 15 e 20 de novembro (neste último caso, em torno do Dia da Consciência Negra, que ganha redobrada importância na atual conjuntura).

2.As manifestações do dia 2 de outubro aconteceram em grande número de cidades no Brasil e no exterior, reuniram centenas de milhares de pessoas, envolveram um amplo leque de forças políticas. Em comparação com outras manifestações, algumas foram maiores e outras menores, mas em todas parece ter ocorrido uma maior presença de setores populares, não apenas militantes.

3.Ao mesmo tempo que destacamos a potência das manifestações, é preciso reconhecer que elas não têm a força necessária para obrigar o presidente da Câmara dos Deputados a colocar em votação um dos mais de 160 pedidos de impeachment, nem a força suficiente para forçar a maioria do Congresso a aprovar o afastamento imediato do presidente.

4.Aliás, embora se tenha falado muito que as manifestações do dia 2 de outubro seriam mais “amplas” do que as anteriores, a verdade é que os setores de centro e centro-direita não demonstraram grande capacidade de mobilização. No fundamental, como acontece desde o início deste ano, quem foi às ruas dia 2 de outubro foi a militância e a base social da esquerda. Os demais setores compareceram, no fundamental, com discursos.

5.Sendo assim, cabe perguntar: as manifestações atingiram um “teto” ou é possível ampliar? Em caso negativo, existe algum outro caminho para viabilizar o impeachment? Se não existe, qual o lugar da luta pelo Fora Bolsonaro em nossa tática?

6.Somos de opinião que é possível ampliar, é possível fazer no dia 15 de novembro manifestações mais potentes do que as de 2 de outubro. Mas para isso é necessário que nosso Partido dos Trabalhadores faça três ajustes na sua tática e um ajuste organizativo.

7.Até o momento temos insistido em não confundir a luta pelo Fora Bolsonaro e a disputa eleitoral. Isto está correto e devemos continuar evitando esta confusão. Por isto, apoiamos a ampliação do leque de partidos convocantes e também apoiamos que pré-candidatos à presidência de outros partidos fizessem uso da palavra nos atos. Isto está correto e devemos continuar apoiando a participação de todos que defendem o impeachment. Entretanto, se é assim, então podemos e devemos ampliar o engajamento de Lula na convocatória e convidar Lula a que seja um dos oradores dos atos de 15 de novembro (sendo que o discurso de Lula poderia ser transmitido ao vivo em todos os atos).

8.O primeiro ajuste tático, portanto, é ampliar o engajamento de Lula nos atos. O segundo ajuste tático é aumentar a pressão sobre Lira e sobre o Congresso: quem não apoia o impeachment deve ser alvo de uma campanha de escracho público. O terceiro ajuste tático consiste em enfatizar a pauta do povo, não apenas destacando a ideia resumida na palavra de ordem “Fora Bolsocaro”, mas também deixando explícito que estamos lutando pelo impeachment como atalho para um governo democrático e popular.

9.É possível que setores de centro e centro-direita reclamem destes ajustes táticos. Acontece que sem eles, não conseguiremos ampliar qualitativamente a mobilização e – portanto – estaremos condenando a campanha pelo Fora Bolsonaro a morrer na praia. Evidente que mesmo com estes ajustes, é possível que não tenhamos êxito e Bolsonaro siga governando entre o período que vai das festas de fim de ano até o carnaval. Entretanto, caso isso ocorra, que seja após termos tentado tudo que estava ao nosso alcance.

10.Além dos ajustes políticos acima citados, é necessário um ajuste organizativo. Embora a convocatória e a presença de Lula façam grande diferença, isto não basta: é preciso também criar um comando de mobilização nacional, capaz de operar efetivamente em favor da presença das periferias e das camadas mais populares.

11.Caso estes ajustes não tenham êxito, a realidade vai se impor e – salvo algum fato extraordinário, que não dependa da pressão popular – Bolsonaro seguirá na presidência e usará isto tanto no sentido de ampliar suas possibilidades eleitorais, quanto no sentido de golpear as liberdades democráticas.

12.Neste caso, é preciso estar atento para duas situações. A primeira delas é que só venceremos esta guerra se nossa candidatura polarizar em defesa da pauta do povo. E defender a pauta do povo implica em confrontar-se com o programa neoliberal, que é defendido não apenas por Bolsonaro, mas também pela direita não-bolsonarista. O que significa dizer que não existe nem existirá espaço para “frente ampla”, pois a única frente ampla admissível para a direita não bolsonarista é aquela que implica em manter as políticas de Guedes et caterva. Aliás, o mesmo vale para o cenário em que Bolsonaro é afastado: neste caso disputaremos diretamente com a mal denominada terceira via, ou seja, com os defensores do programa neoliberal. Por este motivo, qualquer que seja o cenário, é fundamental que o debate programático ganhe centralidade, inclusive para preparar o povo para os enfrentamentos que virão, para reverter as medidas adotadas pelos golpistas desde 2016 e para realizar as transformações estruturais que são indispensáveis se quisermos garantir a soberania, o desenvolvimento, as liberdades democráticas e os direitos sociais.

13.A segunda delas é que a campanha de 2022 não será uma disputa eleitoral, mas uma guerra política e ideológica. Seja contra Bolsonaro, seja contra a terceira via, a esquerda, o PT e Lula serão atacados de maneira brutal. Os bordões “organização criminosa” e “nossa bandeira nunca será vermelha” serão utilizados diuturnamente. Para enfrentar este tipo de ataque, será preciso um partido preparado para tempos de guerra, disposto não apenas a responder à altura, mas também disposto a atacar com toda força. Além disso, precisaremos de um partido capaz de enfrentar as maiorias conservadoras que controlam e provavelmente continuarão sustentando as instituições. Hoje estamos muito longe disso, seja no plano político, seja no plano organizativo, entre outros motivos porque setores do Partido têm ilusões no comportamento da direita não bolsonarista e no comportamento do grande empresariado; a esse respeito, é importante lembrar os ataques não apenas de Ciro e Dória, mas também da grande mídia contra Lula.

14.Por todos estes motivos, a maior certeza que emerge deste 2 de outubro é: nada está garantido. Nem a eleição presidencial, nem nossa vitória, nem nossa posse, nem nosso governo. Por isto, aos que acham que pesquisa ganha eleição, aos que só pensam em eleições, aos que já pensam em montagem de governo e aos que estão costurando alianças pela direita em nome da suposta governabilidade, lembramos que colheremos nas urnas o que plantarmos nas ruas, desde já.

 

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