Não são só palavras ao vento

Por Varlindo Nascimento (*)

Nos últimos dias o volume de insinuações, postagens em redes sociais e declarações ameaçadoras feitas pelos integrantes do clã Bolsonaro têm superado sua média histórica, que já era absurdamente alta.

A semana começou com o vídeo postado no twitter oficial do presidente, onde o mesmo é representado por um leão que reage corajosamente ao ataque de uma alcateia de hienas. Entre as hienas estariam partidos de esquerda (PT, PSOL), movimentos sociais (MST), corporações da imprensa comercial (Globo) e instituições do Estado, como é o caso do STF. Em determinado momento o leão (Bolsonaro) é acudido por um outro, denominado de Conservador Patriota, e juntos eles vencem os inimigos que fustigam o corajoso presidente.

Logo depois, para não perder o costume de afagar o ego de seu eleitorado médio (conservador e machista), o presidente infere publicamente que qualquer mulher se sentiria muito feliz em passar a tarde com um príncipe. A declaração já seria imprópria e esdrúxula em qualquer circunstância, mais ainda quando o príncipe em questão é acusado de uma série de crimes contra a humanidade e mantém o regime mais persecutório às liberdades individuais de todo mundo árabe (wahhabismo).

Num terceiro momento, depois do denuncismo do JN e da reação extravagante do líder do clã na sua já tradicional live, seu filho Eduardo flerta publicamente com uma nova versão do Ato Institucional Número Cinco (AI-5), originalmente decretado em 1968 durante o regime militar e que autorizava a cassação de mandatos e a supressão de direitos constitucionais, colocando qualquer cidadão “não de bem” na mira da prisão e da tortura.

O vídeo das hienas e a fala do “Zero3” não devem ser compreendidas como meras bravatas ou palavras ao vento. Mesmo que sua eleição tenha sido fruto de uma fraude eleitoral, não se pode deixar de considerar que o discurso dos integrantes da “famiglia” não comunga com um regime onde o voto é tecnicamente soberano e do qual se valeram para alcançar o poder que têm hoje.

Como no fascismo, eles elegeram seus inimigos que, por tabela, são os inimigos da pátria e dos “cidadãos de bem” da nação, e esses “cidadãos de bem” foram convocados a defender o líder que está disposto a tudo para arrumar a bagunça que as “hienas” fizeram no Brasil, mesmo que seja necessário passar por cima da lei.

O cálculo dos Bolsonaro mais do que ideológico é estratégico. Eles têm a exata medida de que esse discurso, ainda efetivo junto a seu eleitorado cativo, não resistirá ad eternum diante da política de fome a que condenaram o povo brasileiro. A médio prazo, o regime de democracia representativa não será mais viável a seus objetivos, então, acabemos antes com a democracia.

O clã não fala só por si, nem tem acordo em todos os pontos com todos os setores da política mais tradicional que endossam sua pauta econômica. Porém, aqueles que defendem a democracia a partir dos interesses concretos da vida do povo, principalmente do povo mais pobre, não devem resumir sua ação aos protocolos legislativos, às notas de repúdio e às denúncias ao judiciário. Havemos de convir que esses setores andam juntos em parte importante da pauta bolsonarista e são agentes diretos do atual estado de coisas.

O trabalho junto às bases sociais, ao lado da classe trabalhadora e com os setores progressistas tem que ser feito de forma urgente, para ontem! Antes que 64 nos pegue de surpresa novamente, numa manhã qualquer.

(*) Varlindo Nascimento é militante petista em Recife- PE

 

 

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